Trump pressiona Zelensky a ceder a Crimeia à Rússia

O presidente Donald Trump veio a público mais uma vez para criticar Volodimir Zelenski, acusando o líder ucraniano de não aceitar os termos para um acordo de paz apresentados pelos Estados Unidos. A mais recente proposta prevê a concessão à Rússia de todo o território ucraniano ocupado por tropas russas, o que inclui a península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014.

“São declarações inflamadas como as de Zelensky que tornam tão difícil resolver essa guerra. Ele não tem nada do que se gabar! A situação da Ucrânia é terrível – ele pode ter paz ou pode lutar por mais três anos antes de perder o país inteiro”, publicou Trump em sua rede social, nessa quarta-feira (23/4).

Horas antes, Zelensky havia afirmado que seu país jamais aceitaria a ocupação da Crimeia pela Rússia como legal. “Isso viola nossa Constituição. Este é o nosso território, o território do povo da Ucrânia.”

Na mensagem Zelensky anexou a declaração dos EUA de 2018 sobre a Crimeia, que pede à Rússia que se retire da península, que pertence à Ucrânia de acordo com a lei internacional.

“Os Estados Unidos rejeitam a tentativa de anexação da Crimeia pela Rússia e se comprometem a manter essa política até que a integridade territorial da Ucrânia seja restaurada”, diz a declaração, emitida pelo então secretário de Estado Mike Pompeo, durante o primeiro mandato de Trump.

O vice-presidente americano, J.D. Vance, apresentou alguns pontos da proposta dos EUA, claramente alinhados aos objetivos do presidente russo, Vladimir Putin. Entre eles, estão um “congelamento” das linhas territoriais impostas pela guerra, a aceitação da anexação russa da Crimeia e a promessa de que a Ucrânia não se unirá à Otan, a aliança militar e política que congrega 29 países da Europa e América do Norte.

A Rússia ocupa atualmente cerca de 20% da Ucrânia. A proposta de ceder esse território para o domínio russo vai contra o consenso difundido após a Segunda Guerra Mundial de que as fronteiras internacionais não devem ser alteradas por meio da força.

Questionado por repórteres na Casa Branca se o governo procurava reconhecer a soberania da Rússia sobre a Crimeia, Trump disse que só queria ver a guerra terminar. “Não tenho favoritos. Não quero ter favoritos. Quero fazer um acordo”, afirmou.

Fortes ataques a Kiev

Horas depois das críticas de Trump a Zelensky, um ataque russo com mísseis matou ao menos nove pessoas e feriu dezenas nesta quinta-feira em Kiev. Foi um dos golpes mais mortais contra a capital ucraniana, mesmo sob forte proteção de sistemas antiaéreos.

Após o bombardeio, Zelensky informou que vai interromper sua visita à África do Sul – parte de sua campanha para tentar combater a crescente influência da Rússia na África – para retornar com urgência a Kiev.

Zelensky afirmou ainda nesta quinta que a Rússia deve interromper seus ataques imediatamente e lembrou dos esforços recentes para um cessar-fogo.

“Já se passaram 44 dias desde que a Ucrânia concordou com um cessar-fogo total e com a suspensão dos ataques… E já faz 44 dias que a Rússia continua a matar nosso povo”, publicou no X.

Putin não respondeu à oferta de Zelenski de interromper completamente os ataques aéreos contra alvos civis. No mês passado, rejeitou um pedido dos EUA e da Ucrânia para um cessar-fogo total e incondicional.

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