São Paulo — O maestro João Carlos Martins revelou que foi diagnosticado com câncer de próstata no início deste ano, passou por uma cirurgia, e está sem o tumor agora. Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o músico, de 84 anos, disse que recebeu a confirmação oficial de que está sem focos da doença, nesse sábado (26/4).
“Ontem, eu tive a notícia maravilhosa, no exame, que o câncer foi erradicado. Só ontem. Você é a primeira pessoa a saber”, contou o maestro.
O que aconteceu
- A suspeita para a doença surgiu durante exames de rotina. “No finzinho de março, um check-up geral que eu fiz apontou uma possibilidade de um tumor maligno na próstata. Eu, no mesmo dia, falei: ‘pode amanhã já fazer a biópsia e vamos em frente’”, afirmou o maestro.
- A biópsia confirmou o diagnóstico de um câncer agressivo e a necessidade de cirurgia.
- Com dois grande concertos agendados, um na Sala São Paulo, na capital paulista, no dia 30 de abril, e outro no Carnegie Hall, em Nova York, em 9 de maio, ele conta que foi para a operação pensando em como estaria para as apresentações. “Era uma responsabilidade enorme, entende?”.
- A cirurgia foi um sucesso, mas o pós-operatório teve complicações.
Uma obstrução no intestino dificultou o pós-operatório. Os médicos que afirmaram que o intestino corria o risco de ser perfurado. “Foi a pior noite da minha vida”, disse ele, que precisou fazer um procedimento injetando líquido para desobstruir o órgão.
Outro problema foi em uma das mãos que, com o estresse pós-operatório, teve o movimento prejudicado. Uma consequência, segundo o maestro, da doença “distonia focal do músico”, com a qual João Carlos Martins convive há anos e que causa contrações involuntárias nos músculos. “É a pior doença que pode acontecer para um músico. É como uma prima distante do Parkinson”.
A obstrução no intestino foi resolvida e o movimento com a mão está sendo tratado. Na manhã deste domingo (27/4), quando atendeu a ligação do Metrópoles, o maestro estudava piano e se preparava para a agenda de apresentações dos próximos dias.
“Ainda tenho muita lenha para queimar. Superação, como a Cissa Guimarães diz, é obrigação, não é nada. O importante é a resiliência. É você fazer de uma adversidade não um salto para o abismo, mas uma plataforma para voar mais alto”, disse ele, que afirma não ter “nenhum” medo da morte.
“Vamos supor que um dia [o câncer] volte. Eu tô preparado para a vida e para a morte”.
Com uma trajetória marcada por diversas cirurgias – a de agora foi a 31ª -, o artista diz que deve sua continuidade na música à Orquestra Bachiana Filarmônica do Sesi, onde atua como maestro, e diz que não planeja sair totalmente dos palcos, mas deve voltar seu foco agora aos projetos de educação musical.
A apresentação em Nova York, diz ele, será sua despedida internacional. No Brasil, ele quer continuar nos palcos até seu último dia de vida. “Se Deus quiser vai demorar bastante tempo e vai ser em pleno palco. O apagar das luzes será fazendo música”.
Internação em janeiro
Em janeiro deste ano, João Carlos Martins havia sido internado em São Paulo para a retirada da vesícula biliar e passou quatro dias hospitalizado.
Aquela cirurgia foi a 30ª em sua história, marcada por procedimentos para recuperar o movimento das mãos.