Lupi precisa ser demitido, se o governo Lula quiser parecer honesto

O ministro da Previdência, Carlos Lupi, disse à jornalista Geralda Doca por que não tomou providências imediatas, já em 2023, sobre as denúncias de desvios bilionários em aposentadorias e pensões:

“No governo, tudo é demorado. Eu sabia o que estava acontecendo, das denúncias. Eu sabia que estava havendo um aumento muito grande (dos descontos nas mensalidades), que precisava fazer uma instrução normativa para acabar com isso e comecei a irritar pela demora. Só que o tempo do governo não é o tempo de uma empresa privada.”

Francamente, em qual país decente nada aconteceria com um ministro desses?

É desculpa esfarrapada, irresponsabilidade absoluta, na mais benigna das hipóteses.

As atas das reuniões do Conselho Nacional da Previdência Social, às quais Rede Globo teve acesso, mostram que Carlos Lupi foi avisado há quase dois anos, mas Carlos Lupi não tomou providência nenhuma, só começou a se mover — lentamente — um ano depois do aviso. No governo, é tudo demorado, especialmente em um governo do qual Carlos Lupi é ministro.

Os desvios perpetrados por 11 entidades associativas, que afanavam de 20 a 50 reais de cada aposentado em descontos não autorizados, ampliaram-se a partir do momento em que os petistas e os seus aliados chegaram o Planalto. Para se ter ideia, em maio de 2022, os descontos eram de R$ 50 milhões; em maio de 2024, alcançaram R$ 221 milhões. Ao todo, entre 2019 e 2024, a tunga foi R$ 6,3 bilhões.

O escândalo, não tivéssemos abolido o escândalo no Brasil desde o enterro da Lava Jato pelo egrégio Supremo Tribunal Federal, foi revelado pelo jornalista Luiz Vassallo, da sucursal paulista deste site, a partir de dezembro de 2023, em uma série de reportagens contundentes.

Já havia, na ocasião, 62 mil ações judiciais contra as tais “entidades parceiras” do INSS, que haviam triplicado o seu faturamento e tungado R$ 2 bilhões em apenas um ano. Uma das entidades é o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (é impressionante que exista um troço desses) do qual Frei Chico, irmão do presidente da República, é um dos diretores (ele não está entre os suspeitos).

Logo depois da primeira reportagem, Luiz Vassallo pediu ao INSS o total discriminado dos descontos, via Lei de Acesso à Informação, mas o INSS se recusou a entregar os dados. Só o fez depois de três meses, porque a Controladoria-Geral da União entrou na parada.

Agora, estão o ministro e o governo Lula fingindo surpresa, ao estilo “oh, havia jogo nesse cassino!”, uma vez que Polícia Federal detonou a operação contra os fraudadores, trazendo de volta ao nosso café da manhã imagens de apreensão de maços de dinheiro, carrões de luxo e obras de arte.

O presidente do INSS, Alessando Stefanutto, foi demitido por Lula, não por Carlos Lupi. Foi o segundo a cair desde o início do governo. O primeiro, Glauco Wamburg, foi exonerado por suposto uso irregular de passagens e diárias pagas pelo governo. Só tem gente boa para ser presidente do Instituto Nacional de Previdência Social.

A demissão do presidente do INSS não basta. Como Carlos Lupi não vai pedir para sair — ele disse que não se sente “desconfortável”, veja só —, Carlos Lupi deveria ser demitido imediatamente do ministério, se o governo Lula ainda tem a pretensão de parecer honesto.

Luiz Vassallo resumiu perfeitamente os papéis do atual governo e o de Jair Bolsonaro nessa fraude gigantesca:

“Os governos Lula e Bolsonaro tiveram papéis completamentares na farra dos descontos do INSS. Sob ambos os presidentes, houve forte aumento no número de associações agraciadas com acordos que lhes permitiram efetuar descontos sobre aposentados — até entidades que haviam sido expulsas pelo INSS voltaram a firmar convênio com o órgão.

Se no governo bolsonarista o INSS foi loteado pelo Centrão e as portas se abriram para entidades suspeitas, na gestão petista, o acréscimo continuou, o faturamento das associações explodiu, e o Planalto ignorou alertas de auditorias durante todo o período que precedeu a Operação Sem Desconto, deflagrada pela PF na semana passada.”

Há um monte de malandros querendo afastar os aposentados da miséria que eles recebem. Além dessas entidades associativas malandras, há também os bancos do crédito consignado, mas, nesse caso, tudo dentro da mais perfeita legalidade indecente. É que, de miséria em miséria, os gatos gordos ficam ainda mais barrigudos.

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