

Moradores da praia do Forte assistiram às demolições na manhã de terça-feira (29) – Foto: Daniela Ceccon/ND
Essa semana, na Praia do Forte, norte da Ilha de Santa Catarina, nossa cidade deu mais uma aula de hipocrisia pública: casas de famílias tradicionais, que habitavam o local muito antes de qualquer “tombamento” ser moda entre burocratas, foram demolidas a mando da Justiça Federal, com direito a aparato policial de cinema e spray de pimenta para calar quem ousasse chorar pela própria história. A desculpa? Preservar o “patrimônio”.
Área de preservação. Área tombada. Área federal. Bonito no papel. Mas se formos levar essa regra a sério, meus amigos, preparem-se: Floripa inteira deveria ser posta abaixo, do Centro ao Ribeirão, do Campeche à Lagoa da Conceição. Porque ocupação irregular é o que não falta.
Enquanto isso, mansões à beira da Lagoa, empreendimentos milionários em cima da restinga, em APPs… inclusive com todos os mesmos problemas das casas do Forte, permanecem impunes. Fosse tudo certinho em outras praias seria mais fácil aceitar. Deveria haver um prazo em que passado não se mexe mais.
As residências ali são frutos de uma ocupação secular da comunidade local de pescadores. No Havaí, por exemplo, algumas praias são virgens e outras totalmente exploradas, não tem meio-termo. Aqui vão expulsar alguns irregulares mais frágeis e deixar a maioria, numa seletividade incompreensível.
Para os humildes do Forte, o trator subiu sem dó, sob o olhar incrédulo dos moradores e da população em geral, encerrando mais um triste capítulo da história florianopolitana. E que ninguém se engane: hoje foi a Praia do Forte. Amanhã, pode ser a sua casa.
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