“Que seja eleito o papa de que a Igreja e a humanidade precisam neste momento tão difícil”. A frase foi dita na manhã desta quarta-feira (7/5) pelo cardeal Giovanni Battista Re, durante a homilia da missa Pro Eligendo Romano Pontifice, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A cerimônia marca o início oficial do processo que levará à eleição do novo líder da Igreja Católica.
A missa, realizada a partir das 5h (horário de Brasília), reuniu todos os cardeais com direito a voto no conclave, além de milhares de fiéis. Presidida por dom Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, a celebração teve como objetivo preparar espiritualmente os eleitores para um dos momentos mais importantes da vida da Igreja: a escolha do novo sucessor de Pedro, apóstolo de Jesus.
Durante a homilia, o cardeal destacou o peso espiritual do conclave e a responsabilidade que recai sobre os cardeais. Ele pediu a todos que rezem pedindo a ajuda divina.
“Estamos aqui para invocar a ajuda do Espírito Santo, para implorar sua luz e sua força, a fim de que seja eleito o papa de que a Igreja e a humanidade precisam neste momento tão difícil e complexo da história.”
O decano citou os Atos dos Apóstolos ao lembrar que, assim como os discípulos aguardavam o Espírito Santo em oração com Maria, a Mãe de Jesus, os cardeais também estão em oração, agora sob o olhar da Virgem Maria, cuja imagem foi colocada ao lado do altar.
Em diversos trechos de sua fala, dom Giovanni ressaltou a necessidade de oração constante e da escuta atenta ao Espírito Santo. Segundo ele, esse é o único caminho adequado para um momento tão delicado.
“Rezar, invocando o Espírito Santo, é a única atitude justa e necessária, enquanto os cardeais eleitores se preparam para um ato de máxima responsabilidade humana e eclesial e para uma escolha de excepcional importância.”
Outro ponto central da homilia foi o apelo à comunhão e ao amor cristão. Citando o Evangelho da Última Ceia, o cardeal relembrou o ensinamento de Jesus. “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,13). Ele afirmou que esse amor, sem limites, é a marca da fé cristã e deve ser visível em atitudes e ações: “O amor é a única força capaz de mudar o mundo.”
A responsabilidade do próximo papa em promover a unidade também foi destacada. Segundo o decano, a comunhão entre os cristãos, os bispos e o papa não deve ser autorreferencial, mas voltada para a construção de pontes entre pessoas, povos e culturas. Ele reforçou que essa comunhão deve acontecer na diversidade, mas sempre fiel ao Evangelho.
Re também afirmou que a eleição do novo papa não é apenas uma sucessão administrativa, mas um momento espiritual profundo.
“A eleição do novo papa não é uma simples sucessão de pessoas, mas é sempre o Apóstolo Pedro que retorna”. E lembrou o simbolismo da Capela Sistina, onde será realizada a votação: “Tudo concorre para avivar a consciência da presença de Deus, diante do qual deverá cada um apresentar-se um dia para ser julgado.”
Chaves supremas
Para reforçar a seriedade do momento, ele citou palavras de São João Paulo II. “Nas horas da grande decisão através do voto, a imagem imponente de Cristo Juiz, pintada por Michelangelo, lembrará a cada um a grande responsabilidade de colocar as ‘chaves supremas’ nas mãos certas.”
Encerrando a homilia, o cardeal fez um apelo final à oração e pediu que a escolha do novo papa inspire mudanças na sociedade:
“Oremos para que Deus conceda à Igreja o papa que melhor saiba despertar as consciências de todos e as energias morais e espirituais na sociedade atual, caracterizada por um grande progresso tecnológico, mas que tende a esquecer Deus.”
Ele concluiu pedindo a intercessão da Virgem Maria, para que o Espírito Santo ilumine os cardeais eleitores e os conduza a uma escolha que responda aos desafios do tempo presente.
O conclave
No período da tarde, os cardeais seguirão em procissão até a Capela Sistina. É lá que todas as etapas da eleição papal serão realizadas, incluindo as votações. Assim que estão reunidos, os cardeais fazem um juramento individual, no qual prometem manter absoluto sigilo sobre o processo e, quando um deles for o eleito, conduzir a Igreja Católica com fidelidade.
Após os juramentos, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias ordena o extra omnes — expressão em latim que indica que todos os não envolvidos na eleição devem deixar o local.
Ficam apenas o mestre e um eclesiástico, responsável por conduzir uma breve meditação espiritual com foco na responsabilidade dos eleitores e na necessidade de agir com consciência e retidão.
Com a saída dos dois últimos não eleitores, os cardeais fazem uma oração e escutam o cardeal decano, que verifica se todos estão prontos para iniciar a votação ou se há necessidade de esclarecimentos.
Horários da fumaça
O Vaticano divulgou, nessa terça-feira (6/5), os horários aproximados para a fumaça que indicará ao mundo se a Igreja Católica já tem um novo papa. O sinal visual sairá da chaminé da Capela Sistina ao final de cada rodada de votação durante o conclave, processo que começa oficialmente nesta quarta-feira (7/5), com a entrada dos cardeais eleitores em isolamento.
De acordo com o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, a fumaça será visível em dois momentos principais do dia:
- De manhã: entre 5h30 e 7h (horário de Brasília)
- A tarde: entre 12h30 e 14h (horário de Brasília)
No entanto, no primeiro dia de conclave, quarta-feira, a primeira fumaça está prevista apenas para depois das 14h, já que os cardeais começarão as votações por volta das 11h30.
Nos dias seguintes, só haverá fumaça nos horários secundários da manhã e da tarde (7h e 14h).
Sendo assim, a fumaça só sairá da chaminé da capela nos primeiros horários da manhã e da tarde (5h30 e 12h30), caso o papa tenha sido eleito.
- Fumaça preta: indica que não houve consenso
- Fumaça branca: quando um novo papa é escolhido
A votação
As votações ocorrem exclusivamente na Capela Sistina, que permanece isolada do mundo exterior durante todo o processo. Os cardeais não podem se comunicar com o público externo, seja por mensagens, ligações, rádio, televisão ou outros meios. O objetivo é garantir total independência na escolha do novo papa.
De acordo com as normas da Santa Sé, o eleito deve obter ao menos dois terços dos votos. Como há 133 eleitores neste conclave, o candidato precisa alcançar pelo menos 89 votos para ser declarado papa.
Se a votação começar nesta quarta-feira, haverá apenas um turno neste dia. A partir do segundo dia, são previstas até quatro votações diárias: duas pela manhã e duas à tarde.
Ao final de cada rodada de votação, as cédulas são queimadas. A cor da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina indica o resultado: preta, se nenhum candidato foi escolhido; branca, quando um novo papa é eleito.
Caso não haja consenso após três dias de votações, os cardeais podem fazer uma pausa de até 24 horas para oração, conversas e uma orientação espiritual dada pelo cardeal protodiácono, Dominique Mamberti.