O dólar encerrou a “superquarta”, dia em que os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos anunciam as respectivas taxas básicas de juros, em alta, em meio às incertezas do mercado em relação à guerra comercial e ao possível início das negociações entre norte-americanos e chineses sobre as tarifas comerciais.
Apesar de o grande destaque do dia ter sido a definição dos juros tanto pelo Federal Reserve (Fed) quanto pelo Banco Central (BC) brasileiro, os investidores acompanharam uma série de outros acontecimentos que movimentaram o noticiário econômico.
Dólar
- A moeda norte-americana fechou a sessão desta quarta em alta de 0,62%, negociada a R$ 5,746.
- Na cotação máxima do dia, o dólar bateu R$ 5,763. A mínima foi de R$ 5,698.
- No dia anterior, o dólar registrou ganhos de 0,37% frente ao dólar, cotado a R$ 5,71.
- Com o resultado, a moeda dos EUA acumula alta de 1,21% no mês e perdas de 7,02% no ano.
Ibovespa
- Nos minutos finais do pregão, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), operava em queda de 0,2%, aos 133,2 mil pontos.
- Na véspera, o Ibovespa fechou praticamente estável, em leve alta de 0,02%, aos 133,5 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula perdas de 1,15% em maio e ganhos de 11% em 2025.
“Superquarta”
“Superquarta” é o termo usado no mercado financeiro para o dia em que coincidem as divulgações das taxas básicas de juros no Brasil e nos EUA.
Foi o caso dessa quarta-feira, data na qual tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) quanto o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o BC americano) anunciam o resultado de suas reuniões, que começaram nesta terça.
A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central (BC) para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.
Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Fed mantém juros inalterados
Nos EUA, na terceira reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed desde a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as expectativas do mercado foram confirmadas e a taxa básica de juros se manteve mais uma vez inalterada.
O colegiado anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. Foi a terceira reunião consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana mantém inalterada a taxa de juros.
Antes das três últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos.
Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.
Em entrevista coletiva minutos depois do anúncio do Fed, o presidente do BC dos EUA, Jerome Powell, defendeu cautela da autoridade monetária em relação aos próximos passos da trajetória da taxa básica de juros no país.
“Se tivermos inflação e desemprego mais altos, veremos um atraso para chegar às metas para o ano que vem”, afirmou o presidente do Fed.
“Minha intuição diz que os riscos aumentaram e os riscos de inflação e desemprego mais altos aumentaram, mas isso ainda não se refletiu nos dados”, prosseguiu Powell. “A coisa certa a fazer é esperar mais clareza”, complementou o chefe da autoridade monetária.
Negociações entre EUA e China
Nesta quarta, o mercado também repercutiu notícias sobre o início das negociações entre EUA e China sobre as tarifas. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e o Representante Comercial dos EUA, Jamieson Greer, viajarão nesta semana para Genebra, na Suíça, para se reunir com a delegação chinesa, liderada pelo vice-premiê, He Lifeng.
Essa será a primeira conversa formal entre os dois países desde o anúncio das sobretaxas, feito por Trump, em 2 de abril. O presidente dos EUA fixou tarifas de importação de até 145% sobre produtos chineses. Pequim respondeu com taxas retaliatórias de 125%.
Nesta quarta, Trump disse que não pretende diminuir antecipadamente as taxas de 145% impostas à China e que aguardará o desdobramento das conversas entre os dois países.
Juros na China
Ainda nesta quarta, o Banco do Povo da China (PBoC) informou que cortará as taxas de juros e aumentará a liquidez no sistema financeiro para impulsionar a economia. O anúncio foi feito pelo presidente da instituição, Pan Gongsheng, em uma entrevista coletiva.
A maior parte dos principais índices da Ásia encerrou a sessão desta quarta-feira em alta. O Kospi, de Seul, avançou 0,55%. Em Hong Kong, o Hang Seng subiu 0,13% e, na China continental, o Xangai Composto teve elevação de 0,8%. O Nikkei 225, de Tóquio, contudo, caiu 0,14%.
Indústria brasileira esboça recuperação
No cenário doméstico, além dos juros, os investidores repercutiram os dados do mês de março da produção industrial, considerados surpreendentes pelo mercado, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No terceiro mês do ano, a indústria nacional teve uma expansão de 1,2% em relação a fevereiro. Já na comparação com março do ano passado, a alta da produção industrial foi de 3,1% – foi a 10ª taxa positiva consecutiva e a maior desde outubro de 2024.
No acumulado do ano, segundo o IBGE, a indústria registra alta de 1,9%. No período de 12 meses até março, o crescimento é de 3,1%.
O resultado de março foi o melhor para o mês desde 2018, quando o avanço ficou em 1,4%.
O desempenho da indústria ficou muito acima das expectativas do mercado. A projeção média dos analistas indicava alta mensal de 0,3% e crescimento anual e 1,4%.
Ainda de acordo com os dados do IBGE, três das quatro grandes categorias econômicas e 16 dos 25 segmentos industriais pesquisados tiveram expansão em março, na comparação com o mês anterior.