Bebês aprendem fonética antes de falar, diz especialista no Sarah

A estrutura da linguagem humana começa a se formar antes mesmo do nascimento e os recém-nascidos reconhecem sílabas e padrões para falar ainda nos primeiros meses de vida, muito antes de arranharem as primeiras palavras.

As evidências científicas das altas habilidades linguísticas dos bebês foram apresentadas nesta quinta-feira (8/5) pela pediatra francesa Ghislaine Dehaene-Lambertz, durante uma palestra no 1º Congresso Latino-Americano da Federação Mundial de Neurorreabilitação (WFNR), que está sendo realizado no Hospital Sarah, em Brasília.

Reconhecida pelos estudos em que faz exames de imagem cerebral de bebês conforme eles são expostos à linguagem, Ghislaine apresentou evidências de que os pequenos aprendem regras da fonética que parecem muito complicadas, como as diferenças de volume de voz, tom de fala e separação de palavras, muito antes de serem capazes de falar.

“Usar a linguagem humana é um um trabalho muito complexo e os bebês passam meses aprendendo os padrões antes de conseguir usá-los. Desde o útero, o cérebro já começa a desenvolver suas habilidades linguísticas”, afirma a pediatra.

Segundo ela, os circuitos cerebrais responsáveis pela fala são ativados no terceiro trimestre da gestação para que a criança seja capaz de diferenciar tons de voz imediatamente ao nascer. “Antes de falar, bebês têm que aprender um sistema complexo de regras, de movimentação da musculatura facial, e entender a operação de troca de informações por palavras”, afirmou a cientista.

Sílabas antes das palavras completas

Nem mesmo entender o que é uma palavra é algo simples. Quando falamos, não costuma haver o espaço entre uma palavra e outra, como o que vemos na escrita. Por isso, a pesquisadora aponta que muitos bebês aprendem a desvendar os limites das palavras a partir de seus próprios nomes.

Ao nascer, o neném ainda não fala, mas já processa sílabas. Estudos mostram que recém-nascidos reagem de forma diferente quando escutam sons como “ba” e “ga”, provando que já identificam alterações nas consoantes.

O entendimento do limite das palavras começa quando a criança, de tanto ouvir uma palavra repetida, passa a supor qual será a sílaba que virá em seguida. Isso costuma ocorrer com o nome: o bebê aprende a sequência de sons e sabe que tudo que vem antes ou depois dos fonemas é uma outra palavra.

Aos poucos, especialmente a partir dos 3 meses de idade, essa habilidade de pressupor sílabas permite que o bebê entenda o que são as palavras. A partir dos seis meses, Ghislaine destaca que as crianças já conseguem perceber o lugar e o modo de articulação das sílabas para começar a falar.

Linguagem bebês WFNR Sarah 2
Pediatra francesa mostrou como o cérebro de recém-nascidos já é capaz de diferenciar sílabas

Ambiente verbal estimula o cérebro

A repetição ajuda o cérebro a construir categorias linguísticas. A resposta cerebral do neném tende a ser mais tranquila quando a palavra é conhecida, revelando uma familiaridade que vai se consolidando aos poucos, com base na repetição e no contexto.

Por isso, bebês aprendem a falar conforme escutam vários estímulos e ouvem conversas. A nomeação frequente de objetos, inclusive, favorece a organização mental dos bebês. Em um estudo de Ghislaine, por exemplo, ao se exibirem diferentes imagens de espécies de dinossauros, com diversas formas e cores, o ato de repetir a palavra dinossauro permitiu que os bebês os agrupassem por categorias e pudessem diferenciá-los de peixes.

“Havia características anatômicas, como a presença de patas, que ajudava a diferenciação. Mas quando se deu nome à coisa e se consolidou este nome pela repetição, o interesse visual dos bebês aumentou e seus resultados foram muito melhores”, afirmou a pediatra durante o evento.

Essa capacidade de distinguir unidades sonoras forma a base para o vocabulário futuro. “Quanto mais insuficiente é exposição à linguagem na primeira infância, menor se torna o repertório de palavras do bebê e mais limitado é o seu desenvolvimento conceitual. Por isso, é preciso sempre reforçar as palavras com os bebês. O impacto da capacidade de desenvolvimento de linguagem neste período nos seguirá por toda a vida”, conclui Ghislaine.

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