“Um privilégio”, diz Kauã Rodríguez após trabalhos na Globo e Record

O ator Kauã Rodríguez tem vivido um momento de realizações na carreira. Após trabalhos de destaque na TV Globo e na Record, ele engrenou sucessos no cinema ao integrar o elenco de filmes como Ainda Estou Aqui e O Auto da Compadecida 2. Agora, o artista se prepara para novos projetos na TV, no teatro e até mesmo nos livros.

Detalhou carreira

Numa conversa com a coluna Fábia Oliveira, o artista Kauã Rodriguez, nascido em Mossoró (RN) e criado em Canoa Quebrada (CE), celebrou as conquistas já alcançadas e deu um vislumbre do que está por vir.

Na Record, o ator participou da série Reis. Já na TV Globo, ele contracenou com Selton Mello em Nos Tempos do Imperador. Repetiu a parceria no cinema e é só elogios ao veterano. “Foi muito significativo”, comentou.

No bate-papo, que você confere a seguir, Kauã detalhou sua chegada ao Rio de Janeiro aos 17 anos, seus primeiros trabalhos na televisão e até mesmo seu envolvimento com a causa ambiental. “Acho que se cada um toma sua consciência  individual, já faz diferença”, apontou.

6 imagens

O ator Kauã Rodríguez

O ator Kauã Rodríguez
O ator Kauã Rodríguez
O ator Kauã Rodríguez
O ator Kauã Rodríguez
1 de 6

O ator Kauã Rodríguez

Reprodução

2 de 6

O ator Kauã Rodríguez

Reprodução

3 de 6

O ator Kauã Rodríguez

Reprodução

4 de 6

O ator Kauã Rodríguez

Reprodução

5 de 6

O ator Kauã Rodríguez

Reprodução

6 de 6

O ator Kauã Rodríguez

Reprodução

Você começou sua jornada artística no Circo Zumbi, ainda criança. Que lembrança mais marcante guarda dessa fase?

Viajar no ônibus da leitura. No circo, tínhamos um ônibus-biblioteca, íamos em bairros rurais, vilas beira-rio, comunidades do movimento sem terra. Íamos para contar histórias! Isso já me emocionava porque eu sentia a distância cultural, socioeconômica. Percebia as diferenças e sabia desde cedo que arte une! Por esse motivo, aos 6 anos eu já saía de casa pra “pregar” a leitura! Tenho uma memória específica que me marcou, foi quando aos 6 anos, já com meu palhaço, propus minha própria gincana com as crianças e eu, como líder da gincana. Lembro da tomada de decisões, o momento onde eu era o proponente da ideia, lembro da sensação de poder conduzir o jogo, isso preencheu meu coração, meu primeiro jogo cênico!

Como foi o momento em que percebeu que poderia seguir carreira no audiovisual?

Sempre senti um chamado. Sempre tive a necessidade de contar histórias, precisava estar envolvido com algo que pudesse explorar minha criatividade, mas sempre achei que fosse impossível ser ator de audiovisual, cresci no interior do Ceará, em um paraíso, mas querendo ir embora a qualquer custo. Trabalhava desde os 14 vendendo doces na praia, limpava piscinas, lavava carros, mas sempre sonhando com uma vida diferente, me imaginando em cenários que hoje vivo. Nunca tinha feito nenhum teste antes, não fazia ideia como seria. Antes de ser chamado para o teste da série Jungle Pilot a Universal Channel, tomei a decisão de enviar e-mail com o material que tinha(fotos e vídeos feitos por amigos queridos), mas tinha muita fé e uma lista com o e-mail de todos os produtores de elenco e agentes do Rio de Janeiro. Passei a tarde inteira enviando material, contando minha história, minha cultura. Até que no mesmo dia que enviei e-mail, recebi retorno da Helena Muniz, agente de modelos e atores. Ela e Rosa Fernandes estavam em uma pesquisa de atores exatamente no meu perfil. Na hora certa, com a pessoa certa. Já começamos a falar por ligação e em três dias estava nos estúdios fazendo teste. Lá fiquei em primeiro plano pela primeira vez, close! Tive minha primeira experiência com texto decorado e aí descobri o que era isso que eu tanto sonhava. Senti aquele frio na barriga que sempre assistia atores em entrevista falando. Então aconteceu, abri os braços e me joguei, de repente o que seria erro, virou jogo, virou cena, veio o improviso e daí ganhei, levei o Beto menor, fui aprovado pra série, fui pra Manaus gravar em poucas semanas, vivi o extraordinário. Ali já não tinha dúvidas, eu quero morrer fazendo isso!

Mudar sozinho para o Rio de Janeiro aos 17 anos foi um passo corajoso. Como foi esse processo e o que mais te marcou nessa mudança?

Sim, hoje olho pra trás e admiro minha coragem. É sobre lidar pela primeira vez com a responsabilidade de cuidar de mim mesmo, agora tudo só dependia de mim. Vir sozinho foi um passo fundamental para formar quem eu sou. As estratégias que tomei pra sobreviver aqui no começo foram surreais. Graças a Deus tudo foi muito iluminado, vim morar em repúblicas com outros atores, eu, o único menor de idade. Um intercâmbio inesquecível, eram 10 em um apartamento de 2 quartos. O que mais me marcou foi lidar com o mundo sozinho, perceber as diferenças do mundo, só, ali eu e eu. Me conheci muito assim, acho que foi fundamental para o ator que sou hoje. Lembro que não conseguia acreditar que estava no Rio de Janeiro, parecia um sonho. A diferença climática marcou muito também, vim de um calor de 40° ano inteiro, cheguei bem no inverno do Rio, tremia de frio aos 17°.

Qual foi o maior desafio entre os trabalhos de figuração e o primeiro papel de destaque?

Por ser do interior do Ceará, achei mágico entrar nos estúdios Globo, sonhava com aquilo, ver atores famosos, passear no projac…. Era tudo um sonho. Mas já no primeiro dia senti o chamado gritando no meu coração quando vi Renato Góis se concentrado e passando texto com Gabriel Leone em Onde Nascem os Fortes, minha primeira figuração. Observa-los naquele estado me inspirou, acendeu uma chama que hoje é meu vetor de energia. Logo entendi o que eu queria fazer. De primeira fui conversar, puxar assunto, logo percebi os olhares indicando que o que eu queria fazer seria errado, figurante falar com ator. Mas mesmo assim, tive uma longa conversa com ambos, sai dali extasiado de tantas informações que por ignorância, não sabia como seguir os próximos passos para ser um ator. Quatro anos depois, volto à Globo, contratado como ator na novela Nos Tempos do Imperador, contracenando com Selton Mello e falando apenas em Tupi-Guarani. Meses fazendo prosódia e mergulhado total nesse personagem tão complexo. Foi lindo pisar lá e pensar que quatro anos antes eu sonhava com o que estava prestes a fazer, chorava a noite com medo de voltar pra casa sem saber se tinha nascido ou não pra aquilo. Sim, nasci!

 

Como foi dar vida ao Zeca Paçoca em O Auto da Compadecida? O que esse personagem tem de especial pra você?

Foi mágico! Estava gravando Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, quando me ligam convidando para essa participação! Não pude acreditar, fiquei sem palavras. Já sabia que era uma cena singela, vendendo paçocas. Estar ali dividindo set de novo com Selton Mello, pela terceira vez, foi muito significativo. Quando chego no estúdio e olho pra equipe, não podia acreditar! Simplesmente o diretor de fotografia, Gustavo Hadba, o câmera Mário França, dentre outros, eram a mesma equipe do meu primeiro trabalho, Jungle Pilot, eles que me acolheram lá em 2017, nu e cru no audiovisual. Eles que me deram minhas primeiras aulas de cinema no set, fazendo. Aprendi tudo ali com esses caras e sete anos depois estávamos juntos nesse campeão de bilheterias. Tudo fez sentido!

 

Você já passou por produções em canais como Globo, Record e Universal. Como lida com essas diferentes linguagens e propostas?

É um presente. Cada um tem sua linguagem e, para o ator, é mágico se adaptar a cada história. São empresas incríveis, realizam sonhos, contam histórias, cada um no seu contexto. É um privilégio!

 

Que aprendizados levará do filme O Ladrão e o Leitor, que te rendeu um prêmio de melhor atuação?

Principalmente sobre a força do cinema brasileiro e cinema universitário, literalmente vivi a frase “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Fizemos um filme lindo, sem verba, na raça, em meio à pandemia. Tínhamos uma história linda, original do Plínio Marcos, que nos inspirou desde a literatura a direção de arte. Foi meu primeiro protagonista, onde pude explorar minha criatividade, entender esse universo do Plínio e jogar com a câmera, a arte do silêncio.

 

Que papel ou gênero você ainda sonha em interpretar?

Amo histórias reais, biografias, baseado em fatos reais, por sorte tenho feito alguns trabalhos assim. Amo terror, é um gênero que deveria ser mais explorado no Brasil. Se leio no roteiro que é terror, aceito na hora!

 

Como surgiu seu interesse pela causa ambiental e quais ações você pretende desenvolver nesta área?

Nasci em uma cidade que luta pela preservação ambiental e cultural. Cresci no risco de perder nossa história, pela degradação natural e a feita pelo homem. Desde criança já participava dos mutirões de limpeza no mar. É muito triste ver o quando consumimos lixo e simplesmente descartamos em qualquer lugar sem peso na consciência. Isso pra mim é um absurdo. Sigo aqui no Rio em coletivos de limpeza no mar, acho que se cada um toma sua consciência  individual, já faz diferença. A cada lugar que vou tento plantar essa semente, seja uma sugestão , uma crítica, um pedido. O que não pode fazer é fechar os olhos.

 

Com tantos projetos já realizados, o que podemos esperar de Kauã Rodríguez em 2025? 

Uma nova experiência como ator. Amo que temos várias frentes como ator, hoje faço um barbeiro, antes fiz um príncipe, agora tô me preparando para ser narrador em uma versão audiobook de um livro da ABL. Ainda não posso dar muitos detalhes, mas está sendo uma experiência imersiva intensa, diferente de tudo que já fiz. Ando descobrindo uma paixão cada vez maior pela literatura e todo seu universo. Está sendo uma grande oportunidade explorar a nossa arte. Também em 2025 poderão me ver em série nova que vai estrear no segundo semestre, e também no teatro. Estava com muitas saudades do palco, não vejo a hora de estar em cartaz novamente!

Adicionar aos favoritos o Link permanente.