Tentaram apagar o golpe, mas ficou tudo salvo

Brasília – A apreensão do celular de Mauro Cid revelou um velho truque de amadores paranoicos: a ilusão de que apagar mensagens impediria a Justiça de chegar até eles. As informações são do UOL.

O que a Polícia Federal encontrou no aparelho, porém, expõe não só o rastro da conspiração golpista, mas também o pânico em tempo real de quem percebeu que o castelo de cartas bolsonarista estava ruindo.

Conversa entre Mauro Cid e o coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Netto no WhatsApp. Foto: Reprodução
Conversa entre Mauro Cid e o coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Netto no WhatsApp. Foto: Reprodução

A análise dos 77 GB de dados mostra pressões explícitas para que mensagens fossem apagadas e conversas migradas para aplicativos mais seguros. Embora nem todas tenham sido efetivamente deletadas, a paranoia militar falhou: o estrago já estava feito, e as mensagens, salvas.


Coronéis no desespero: “Zera tudo!”

O ápice da tensão entre os golpistas veio em 3 de janeiro de 2023. O coronel Bernardo Romão Corrêa Netto, denunciado pela PGR ao STF, enviou um recado direto a Mauro Cid:
“Zera. Apaga todo o teu celular agora! […] Porra, o Alexandre de Moraes agora soltou uma ordem…”

Mais que uma simples sugestão, a ordem expunha o medo da turma que jurava fidelidade à Constituição enquanto tramava contra ela no WhatsApp. Corrêa Netto, aliás, foi o mesmo que, semanas antes, encaminhou a Cid uma minuta de “carta” para pressionar o comandante do Exército a aderir ao golpe.

Conversa entre Mauro Cid e o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros no WhatsApp. Foto: Reprodução
Conversa entre Mauro Cid e o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros no WhatsApp. Foto: Reprodução

Bolsonarismo digital: tanques, deletações e saudosismo de 64

Outros nomes como o tenente-coronel Sérgio Cavaliere reforçam o padrão de cumplicidade. Ao lado de Cid, lamentava a falta de ação diante do fracasso do decreto de Estado de Defesa.

Na conversa, ele mencionava que o almirante Garnier “tinha tanques prontos”, ao que Cid respondeu com a frase emblemática:
“Em 64 não precisou de ninguém assinar nada.”

Enquanto algumas mensagens de Cid foram de fato deletadas — 127 enviadas e 217 recebidas desapareceram do aparelho —, boa parte das conversas permaneceu, suficiente para comprometer meia dúzia de fardados e expor o ridículo da insurreição digital bolsonarista.


Signal: o esconderijo dos covardes

Treze conversas detectadas na análise dos dados migraram para o Signal, aplicativo favorito de quem quer conspirar sem deixar rastros. Os protagonistas? Os suspeitos de sempre: Braga Netto, Corrêa Netto, o suplente de senador Aparecido Portela e outros membros do grupelho.

Mensagem do general Braga Netto sobre o Signal. Foto: Reprodução
Mensagem do general Braga Netto sobre o Signal. Foto: Reprodução

A PF não conseguiu acessar o conteúdo dessas conversas, o que levanta uma questão incômoda: o que mais havia para esconder?


Lealdade cega até virar delação

Mesmo afundando junto com o barco, Cid permaneceu leal a Bolsonaro. Nem as omissões criminosas na pandemia quebraram sua devoção. Quando Paulo Figueiredo chamou o ex-presidente de “bom e fraco”, Cid o defendeu: a culpa era da “falta de experiência”.

Conversa entre Mauro Cid e Paulo Figueiredo sobre Bolsonaro no WhatsApp. Foto: Reprodução
Conversa entre Mauro Cid e Paulo Figueiredo sobre Bolsonaro no WhatsApp. Foto: Reprodução

Essa fidelidade cega durou até 3 de maio de 2023, quando a PF bateu à porta. Sentindo-se descartado como um peão qualquer, Cid mudou de rota: topou a delação premiada.


Da obediência ao tornozelo

Em 9 de setembro de 2023, Alexandre de Moraes homologou o acordo. Desde então, Cid virou um delator em meio a medidas cautelares, tornozeleira eletrônica e recolhimento noturno. Do golpe, restaram só os prints – e o silêncio cúmplice que começa a ser rompido.


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