Virgínia Fonseca é a maior influencer do Brasil, e o simples fato de eu ter de usar esse termo — influencer — para me referir a alguém, qualquer um, já mostra que estamos no mau caminho.
Pode ser que haja exceção, mas ser influencer significa não exercer profissão nenhuma, não fazer nada de realmente relevante, não ser exemplo de vida ou fonte de inspiração para atividades úteis ou edificantes.
Ser influencer é apenas influenciar uma massa de cretinos nas redes sociais para que consumam produtos vendidos por patrocinadores do influencer.
Essa massa de cretinos quer ser igual ao influencer, por motivos muitas vezes imperscrutáveis, embora sempre ancorados em níveis educacionais e culturais próximos ao fundo do abismo. Quando o sucesso é muito grande, o influencer passa a ter marcas de produtos próprias.
É o caso dessa moça, Virgínia Fonseca, com 53 milhões de seguidores apenas no Instagram e uma fortuna estimada em R$ 400 milhões, acumulada em tempo recorde.
Ela depôs ontem, em sessão da CPI das Bets, como suspeita de ganhar dinheiro extra sobre as perdas de apostadores em sites de apostas. Assisti a trechos.
O espetáculo que os protagonistas proporcionaram é fruto desse trabalho árduo, constante e pleno de êxito de demolição educacional, cultural, social, moral e institucional a que assistimos desde há muito no Brasil.
Dos comportamentos à linguagem empregada, tudo ali oscilou entre a afasia e a ignorância; entre a vulgaridade e o cinismo; entre o deboche e a esperteza. Um dos momentos mais ilustrativos foi quando Virgínia não entendeu o significado do verbo “mitigar”. Pareceu sincera, ao contrário do instante em que confundiu o microfone com o canudo do copo que trouxe de casa.
Bons os tempos em que o Brasil era apenas um país onde a burrice tinha passado glorioso e futuro promissor. Fomos aquém da burrice e nem o pântano atual é o limite. Não podemos nos dar por satisfeitos: ainda há muito lodo em que se afundar.