A delegação enviada pelo presidente russo, Vladimir Putin, desembarcou nesta quinta-feira (15/5) em Istambul, na Turquia, para as primeiras negociações diretas com a Ucrânia desde o início da guerra. O chefe do Kremlin parece não ter atendido à convocação do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para participar presencialmente do encontro. Até o momento, não há definição de local e horário para as conversas.
O avião transportando a delegação russa aterrissou nesta manhã na Turquia, sem Putin. Segundo as agências de notícias do país, o nome do presidente da Rússia não consta da lista de participantes publicada na noite de quarta-feira (14/5) pelo Kremlin.
O líder ucraniano, Volodymyr Zelenski, também chegou à Turquia nesta quinta.
Antes do início dos diálogos entre as delegações russas e ucranianas, Zelensky se reúne com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em Ancara. Apenas depois deste primeiro compromisso ele “decidirá as próximas etapas”, afimou uma fonte de Kiev à AFP. O presidente ucraniano sugeriu no último domingo (11) que só aceitaria discutir sobre um acordo de paz na presença de Putin.
Centenas de jornalistas aguardam em frente ao Palácio de Dolmabahçe, em Istambul, que vai acolher o encontro. Barreiras de segurança foram instaladas em torno da entrada do local para a chegada das delegações.
No entanto, até o momento, não há definição sobre o horário da reunião entre as delegações da Rússia e da Ucrânia. Mídias turcas afirmam que as negociações começariam às 10h locais (4h em Brasília), mas agências de notícias russas indicam que o compromisso está marcado para a tarde. O porta-voz da presidência ucraniana, Serguiï Nykyforov, denunciou “falsas informações” da parte de Moscou sobre a hora e o local da reunião.
Até o final desta manhã, Kiev não havia divulgado a composição precisa dos participantes enviados à Turquia. Em comunicado, o Kremlin indicou o conselheiro presidencial, Vladimir Medinski, e o vice-ministro de relações exteriores, Mikhail Galouzine, como representantes.
Iniciativa russa
A ideia das negociações foi lançada pela Rússia, após europeus e americanos terem proposto cessar-fogo no conflito, ignorado pelo Kremlin. Os dois países em guerra têm defendido suas prioridades: Moscou exige que a Ucrânia renuncie a entrada na Otan e exige manter sob seu domínio os territórios anexados, enquanto Kiev pede “garantias de segurança” aos países ocidentais para evitar novos ataques e que todo o exército russo se retire de seu território.
O presidente norte-americano, Donald Trump, que pressiona os dois países inimigos a encontrarem uma saída rapidamente, realiza um giro pelo Oriente Médio, e está em Doha, no Catar, nesta quinta-feira. O chefe da Casa Branca afirmou que poderá viajar a Istambul na sexta-feira (16), se houver avanço nas negociações. O enviado especial de Washington, Steve Witkoff, e o emissário americano para a Ucrânia, Keith Kellogg, devem representar os Estados Unidos na reunião.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, se declarou “prudentemente otimista” sobre as negociações. “Progressos podem acontecer nas duas próximas semanas”, afirmou, dizendo que “a bola está claramente no campo da Rússia”.
Desconfiança na Rússia
Em entrevista ao jornal Le Monde, o chefe de gabinete da presidência ucraniana, Andriy Yermak, defendeu cessar-fogo imediato. “É impossível negociar se você é atacado por mísseis e por drones”, diz.
Segundo ele, é difícil confiar na Rússia. “Putin pessoalmente decidiu começar a guerra, e ele continua a matar nosso povo, nossas crianças. Mas queremos acabar com esta guerra e estamos prontos a aceitar qualquer formato de negociação”, explica.
A ausência de Putin dos primeiros diálogos desde o início do conflito é analisada pelo jornal Libération. “Não comparecer à reunião que ele mesmo propôs, esperando que Zelensky desistisse devido à falta de um cessar-fogo prévio, demonstra que, na realidade, [o presidente russo] está procrastinando, pois não tem desejo de parar a guerra”, avalia o consultor sênior do Instituto Internacional dos Estudos Estratégicos, François Heisbourg.
O especialista acredita que a ausência do líder russo “terá um efeito desastroso sobre os europeus, os americanos e provavelmente a população russa”. Mesmo assim, a presença de Putin nas negociações seria, segundo Heisbourg, “um ganho simbólico para Zelensky” como líder, já que o Kremlin o classifica de “fantoche dos americanos, um neonazista e um mafioso”.
Para o analista, os fatos recentes mostram que os russos “não querem o cessar-fogo incondicional exigido por Trump e, portanto, estão tentando ganhar tempo, para dar a impressão de movimento e incomodar os americanos, mas sem ceder um centímetro”.