Brasília – Um servidor do INSS tentou alertar a Polícia Federal, em pleno 2020, sobre um esquema de descontos ilegais em aposentadorias durante o governo Jair Bolsonaro (PL). As informações são do Jornal Nacional.
As ameaças de morte vieram logo após ele mexer no vespeiro das associações conveniadas, com destaque para a Conafer, que explodiu em número de filiados e lucros — mesmo com o convênio suspenso.
Enquanto isso, o governo Bolsonaro fazia vista grossa. O então presidente do INSS, Leonardo Rolim, ignorou alertas internos e manobrou para transferir a responsabilidade dos acordos irregulares de uma diretoria para outra. Resultado? A Conafer voltou a operar e, em poucos meses, os valores desviados subiram vertiginosamente.
PF ignorou alerta e esquema seguiu
O servidor responsável por identificar os abusos nos Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) relatou ameaças contra ele e outros colegas envolvidos nas auditorias. Segundo ele, o clima era de total intimidação.
“O coordenador e o diretor receberam ameaças justamente quando enviavam as auditorias dos descontos associativos”, disse à PF, sob anonimato.
Apesar do alerta, a Polícia Federal encerrou o caso sem indiciamentos em 2024. Mesmo assim, denúncias seguiram sendo protocoladas por beneficiários no Ministério Público e na Polícia Civil do DF.
Conafer cresceu no grito — e no bolso
A Conafer (Confederação Nacional de Agricultores Familiares) teve um salto inexplicável no número de beneficiários com desconto automático no INSS: de 80 mil em janeiro para 250 mil em outubro de 2020. Detalhe: nesse período, o convênio com a entidade estava suspenso.
Não foi só a adesão que disparou. Dados da Controladoria-Geral da União (CGU) revelam que o volume de descontos da Conafer foi de R$ 400 mil em 2019 para R$ 202 milhões em 2023.
Enriquecimento suspeito e contratos sigilosos
O presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, prestou depoimento à Polícia Civil, mas se recusou a declarar quanto ganhava. Alegou “sigilo contratual” e assinou um termo de confidencialidade duas vezes: como presidente e como funcionário da entidade.
Segundo a investigação, ele e sua esposa, Bruna Braz, negociaram cinco imóveis entre 2019 e 2020, incluindo uma fazenda de R$ 3 milhões. A Polícia Civil suspeita de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.
Só em 2025 o jogo virou
Apesar das suspeitas evidentes, a Justiça só encaminhou o caso para a Polícia Federal em 2021. A operação para desarticular o esquema só ocorreu em abril de 2025 — mais de quatro anos depois da denúncia original.
A ação resultou na queda do ministro da Previdência e do então presidente do INSS. Ainda assim, Leonardo Rolim tenta se eximir: diz que a mudança de diretoria foi uma “reestruturação” e que deixou o cargo em outubro de 2021, lavando as mãos quanto aos contratos posteriores.
PF mira lavagem de dinheiro em SP
A operação recente da PF cumpriu mandados contra o casal Cícero Santos e Ingrid Morais Santos, em Presidente Prudente (SP). Os dois são acusados de lavar dinheiro vindo dos descontos ilegais e repassar valores para empresas laranjas e para o presidente da Conafer.
Mesmo com tantos indícios e movimentações atípicas, o silêncio foi a regra durante o governo Bolsonaro. O escândalo só veio à tona agora, revelado pelo Jornal Nacional, e segue se desdobrando.
O post Bolsonaro deixou o INSS à mercê de esquema milionário; Funcionário fez denúncia em 2020 apareceu primeiro em Diário Carioca.