O maior estudo já realizado sobre a diversidade genética entre brasileiros, publicado na renomada revista científica Science nessa quinta-feira (15), revelou mais de 8 milhões de variações genéticas que refletem a alta miscigenação do país e, portanto, sua história.
Intitulado “Impacto da miscigenação na evolução da população brasileira e na saúde”, o estudo foi assinado por 24 pesquisadores de 12 instituições e baseou-se em dados do sequenciamento genético completo de 2.723 indivíduos saudáveis de todas as regiões do Brasil.
Os resultados mostram que, a partir do cromossomo Y, característico da masculinidade, as linhagens paternas dos brasileiros são majoritariamente europeias (71,7%), com uma menor contribuição africana (25,51%), indígena (2,4%) e asiática (1%). Em contraste, a linhagem materna, analisada pelo DNA mitocondrial, apresenta uma composição menos branca: 42,49% africana, 34,85% indígena, 0,77% asiática e 21,88% europeia.
Segundo pesquisadores, esses dados refletem a história do Brasil como um país indígena, invadido e colonizado por europeus, que também promoveram o tráfico de africanos escravizados, além da imigração que ocorreu após a abolição da escravidão, incluindo imigrantes asiáticos, especialmente japoneses.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Tábita Hünemeier, uma das coordenadoras do estudo, explicou que a diferença na distribuição das linhagens entre os sexos é atribuída ao histórico de violência sexual sofrida por mulheres indígenas e africanas.
Valor para saúde
A maioria dos bancos de dados genômicos disponíveis globalmente foi formada com base em populações europeias, resultando na sub-representação de outras populações, como a indígena e a africana. O novo estudo busca abordar essa lacuna, especialmente no desenvolvimento de medicamentos e tratamentos.
“Muitas características clinicamente relevantes, como o metabolismo de fármacos, são determinadas por variantes genéticas com efeitos significativos. No entanto, pode ser difícil identificar essas variantes quando a variação genética de uma população não é bem compreendida”, afirma a pesquisa.
Das mais de 8 milhões de combinações genéticas inéditas identificadas, 36.637 são consideradas deletérias, ou seja, com efeitos nocivos. Esse achado pode orientar o desenvolvimento mais eficaz de fármacos e tratamentos que considerem as particularidades das populações indígenas e africanas.
Fonte: InfoMoney