A grande fome de Gaza (por Sónia Sapage)

Depois de, já esta semana, três responsáveis israelitas terem reconhecido que o território de Gaza está prestes a sofrer fome generalizada, o mundo acordou na quinta-feira (15/5) com a notícia de um novo bombardeio na zona de Khan Yunis. Mais 79 mortos. Tinha havido outro ataque na noite anterior.

Enquanto tudo isto acontece, o Presidente americano, Donald Trump, passeia-se por outras zonas do Médio Oriente, inveja as riquezas da região e as suas “maravilhas brilhantes” e considera aceitar um avião opulento como presente.

O saldo da investida de Israel em Gaza, desde outubro de 2023, rondará as 64.260 vítimas mortais, de acordo com o número estimado em janeiro deste ano num estudo da revista The Lancet.

O inferno continua a existir em Gaza e, a aceitar como válidas as declarações das três fontes militares israelitas que falaram sob anonimato ao jornal The New York Times, está prestes a piorar. De acordo com os mesmos responsáveis, para evitar o cenário de fome seria necessária a entrada imediata de ajuda humanitária (que inclui não só alimentos, mas também água, medicamentos e equipamentos médicos).

O Governo de Israel tem considerado que este bloqueio à entrada de ajuda, decretado há dois meses, é essencial para pressionar o grupo islamista Hamas, mas, à luz do direito internacional, é ilegal impedir o acesso de missões humanitárias a uma zona em conflito. E mesmo que não fosse uma questão de legalidade, seria, sem qualquer sombra de dúvida, uma questão de humanidade para com os mais de dois milhões de palestinos que tentam sobreviver na Faixa de Gaza.

Perante a situação humanitária em Gaza, Emmanuel Macron (que prometeu reconhecer o Estado da Palestina) visita à fronteira daquele território com o Egito. “Não há água, não há medicamentos, não se consegue retirar os feridos. Foi uma das piores coisas que alguma vez vi”, recordou, recebendo, do lado Benjamin Netanyahu, a resposta de que estava a apoiar uma “organização terrorista”.

Macron também disse que a situação no enclave é “inaceitável” — uma vergonha” — e que o mundo não pode “fingir que nada está a acontecer”. Tem razão o Presidente francês: quando está em causa assistência básica, nenhum fim justifica que Israel se mantenha inflexível e continue a bloquear o acesso humanitário ao enclave.

Se isso acontecer, um dia ouviremos falar na grande fome que arrasou os palestinianos de Gaza.

 

(Transcrito do PÚBLICO)

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