O deputado distrital Daniel Donizet (MDB) registrou dois boletins de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), nessa quinta-feira (15/5), nos quais se diz vítima de extorsão.
Os BOs foram feitos na 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires) pelo advogado do parlamentar, Fellipe Fragoso Souza. As ocorrências relatam dois episódios.
O primeiro teria ocorrido em fevereiro de 2024. O advogado entregou um áudio à polícia no qual um homem identificado como Ítalo da Silva Miranda, 44 anos, se apresenta como interlocutor de duas mulheres que denunciaram Daniel Donizet por assédio sexual.
Na gravação, o homem pediu “contrapartida” para retirar as denúncias. “Estou precisando de cargo para elas. E a garantia que o Daniel vai manter elas enquanto for base do governo. Essa gestão aí tem três anos pela frente”, afirmou. “Só não pode ser no Zoológico, na Administração do Gama, onde elas tiveram problema com o Donizet, porque aí vai dar muito na cara”, disse. Ele ainda pede “150”, que seria em dinheiro.
O interlocutor afirma que entregará “tudo” que tem sobre o caso ao advogado após a nomeação “das meninas”. “Assim que você dizer que está fechado, vou sentar com elas e conversar”, afirmou. Ele ainda declarou que “as meninas vão tirar o processo, vão anular tudo”.
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O segundo boletim de ocorrência de autoria do deputado relata um encontro que ocorreu entre o chefe de gabinete dele, Maione dos Santos Dias, a administradora do Gama indicada por ele, Joseane Araújo Feitosa Monteiro, e o apresentador Ronnie Peterson Gonçalves, na última quarta-feira (14/5).
Na ocasião, Ronnie Peterson se apresenta como jornalista e diz que foi contratado por uma agência, sem citar o nome da empresa, para “10 meses de trabalho” que envolvem pautas contra Daniel Donizet, Administração Regional do Gama e a vice-governadora Celina Leão (PP).
O apresentador falou do episódio no qual a atriz pornô Andressa Urach gravou o deputado em um bar em Porto Alegre e disse que ele tentou entrar à força no camarote dela, afirmou que o parlamentar “ficou o tempo todo importunando” e o chamou de “macho escroto”. Segundo Ronnie Peterson, a “agência” mandou a “demanda do Daniel Donizet” que envolveria a exposição do caso.
“Na segunda conversa, já foi pela agência: ‘Ronnie, a gente tá precisando dessa demanda do Daniel Donizet, acabou de acontecer o escândalo e tal’. No dia daquela matéria, a gente ia colocar a Urach ao vivo na tela. E aí, eu tenho um problema com a Urach, pessoal, coisa de Belo Horizonte. Falei: ‘Vamos bater aqui, mas sem dar a visibilidade’. Se desse, ia dar muito mais [audiência]”, contou.
“E aí eu fui contratado para quê? ‘Ronnie, a vítima não seria o Daniel Donizet. A gente não quer bater no Gama e onde mais ele está. Só que, hoje, a maior rejeição no partido do Ibaneis e da Celina é o Daniel’. Só uma conversa de marqueteiro com a marqueteiro. ‘Se a gente põe o Daniel Donizet abaixo de zero, todo mundo que abraçar ele vai falar: pera aí, governador, o senhor vai apoiar a pessoa que tá nisso e nisso e nisso?’”, relatou Ronnie sobre a conversa com a “agência”.
Segundo Ronnie, o contratante disse a ele: “Nós vamos entregar a pauta, seja Daniel, seja Gama, seja administração, seja Celina. Vão ser 10 meses de trabalho. Mas o alvo ainda é Daniel Donizet, é a Administração do Gama, que é uma indicação dele, e a gente vai para cima”.
O jornalista afirmou que relatou a um amigo em comum com a administradora do Gama que o ganha-pão dele depende das agências e prossegue: “Eu posso fingir dor de barriga, matar minha mãe lá em Belo Horizonte, [e dizer que] eu tenho que ficar fora agora 30, 40 dias e eu não quero me envolver com isso”.
“Eu falei pra ele: ‘Wellington, você é amigo da Joseane? Você vai lá na agência resolve isso, devolve isso para eles lá, a gente inventa uma dor de barriga e eu tô fora, eu quero esquecer que o Daniel Donizet”, continuou.
Segundo o depoimento do advogado de Daniel Donizet à PCDF, o apresentador, então, afirmou que “estaria disposto a não fazer essa próxima reportagem contra Daniel Donizet e não cumprir o contrato contra todo o grupo, caso os assessores entrassem em contato com ele até às 10h e o ajudassem, dando a entender que ele deveria receber certa quantia em dinheiro para atender aos interesses de Daniel Donizet e o grupo”.
O apresentador disse, no áudio: “Aí agora eu tava fazendo caminhada, porque estou com problemas de coração pesado, aí o Wellington ligou e falou: ‘[…] Vai lá e explica para ela a situação, fala o que você quer”. Eu falei: “Eu não quero nada, eu estou pensando alto aqui, eu preciso de paz na minha vida”. Por exemplo, agora eu já tô atrasado, eu vou inventar, os meninos estão lá no estúdio. [Vou dizer que] Aconteceu alguma coisa, eu não quero. Então, tudo bem, então vamos remarcar para amanhã 10 horas. Então amanhã 9 horas, olha: ‘Não dá, é meu amigo, vai envolver gente, eu quero paz. Eu estou ameaçado’”.
Ouça os trechos:
Ouça o áudio na íntegra:
Denúncia
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciou Daniel Donizet por assédio sexual, em abril de 2025. O processo é sigiloso.
O que dizem
Ítalo da Silva Miranda disse que acionou a advogada dele para verificar o boletim de ocorrência citado. Declarou, também, que os assessores de Daniel Donizet procuraram ele e “insistiram” para encontrá-lo. Ele negou que tenha pedido dinheiro. “Querem tirar o foco da investigação que está em cima do deputado”, afirmou.
“O deputado e a assessoria já fizeram outras ocorrências contra mim, pois eu fiz o primeiro protesto na porta da CLDF [Câmara Legislativa do Distrito Federal] contra ele em defesa das mulheres”, declarou.
Ronnie Peterson afirmou que não sabia do boletim de ocorrência e negou que tenha feito qualquer negociação. “Eu não quero confusão nem me envolver com isso. Nunca teve pedido de extorsão. Ontem recebi ligação estranha de conversa desse tipo, mas não soube entender. Não existe conversa, testemunha nem nada aonde eu pedi dinheiro. Até porque eu não trabalho assim. Trabalho com agência: me procura, me contrata para noticiar alguma coisa, noticiar algum caso e fazer alguma propaganda”, declarou.
“Depois dessa conversa, eu levantei da mesa, despedi dessas pessoas e falei: amanhã tem gravação, se quiserem, podem me ligar, se quiserem falar alguma coisa estou à disposição e ponto final”, afirmou o jornalista.
“Agora é fato: eu sou contratado, recebo salário e ponto final. E aí, em uma brincadeira baseado no comentário deles, eu falei: ‘Não, tem cliente meu, tem agência minha, tem inimigo político meu que eu simplesmente dou uma dor de barriga, minha mãe morre para lá e eu saio fora porque eu não quero confusão, não quero noticiar’”, disse.
Ouça a resposta:
Em nota, o deputado distrital afirmou que “foi alvo de uma tentativa orquestrada de extorsão, envolvendo agentes que atuaram com o propósito de chantageá-lo e comprometer sua reputação pública”.
“Em defesa de sua integridade e da verdade, o parlamentar, por intermédio de seu advogado, registrou dois Boletins de Ocorrência junto à Polícia Civil do Distrito Federal nessa quarta-feira (14), logo após ter acesso aos áudios que comprovam o crime. As denúncias foram feitas contra Ítalo da Silva Miranda e Ronnie Peterson Gonçalves da Silva, que, segundo provas entregues à polícia, exigiram dinheiro e cargos em troca da retirada de acusações falsas e da não publicação de matérias caluniosas”, afirmou.
“Gravações entregues às autoridades comprovam que houve uma articulação para manchar a imagem do deputado, bem como a do governador Ibaneis Rocha e da vice-governadora Celina Leão. O deputado Daniel Donizet reafirma sua confiança nas instituições e está certo de que a apuração dos fatos trará à luz toda a verdade, desmascarando os responsáveis por essa tentativa criminosa de manipulação da opinião pública e de manchar a sua imagem”, disse.