Rio de Janeiro – A Praia da Macumba, um dos cartões-postais do surfe carioca e refúgio natural na Zona Oeste do Rio de Janeiro, está com os dias contados — e o mar não é o único vilão.
Desde 2005, a combinação entre ressacas violentas, ocupações urbanas desordenadas e decisões desastrosas do poder público vem destruindo lentamente a faixa de areia da região.
Em pleno 2025, o cenário é de alerta: pesquisadores da UERJ apontam que a praia pode desaparecer por completo se o processo de erosão costeira seguir descontrolado. E enquanto as ondas avançam, o que se vê do lado das autoridades é um eterno empurra-empurra burocrático.

Entenda por que a praia está sumindo
A beleza da Macumba esconde uma fragilidade estrutural crescente. As mesmas ondas que atraem surfistas do mundo inteiro são as que, durante os meses de maio a agosto, chegam a 2,5 metros — podendo até dobrar de altura com frentes frias e ciclones no Atlântico Sul. A erosão, portanto, não é surpresa.
Carlos Eduardo Velloso, oceanógrafo, surfista e morador da região, explica: “O mar aqui bate de frente. É uma praia de barreira arenosa, que antes era protegida por vegetação de restinga e dunas. Mas a especulação imobiliária tratou de eliminar isso nos anos 80”.

Veja como as obras urbanas agravaram o problema
A situação foi se deteriorando com a construção do calçadão e ciclovia em 2002, projetados perigosamente perto da linha da maré. Em 2017, as ondas destruíram parte dessas estruturas três vezes em um único mês. A prefeitura até tentou contornar o problema com obras de contenção, mas nada resolveu de fato.
Em 2022, outra ressaca varreu a areia e destruiu as proteções feitas com sacos de areia e cimento. Ou seja, paliativos sem inteligência ambiental.

Sedimentos desviados, solução ignorada
O abandono não para por aí. A dragagem do Canal de Sernambetiba, feita desde os anos 80, removeu areia acumulada e a transportou para aterros no Recreio, em vez de devolver à Macumba sua base natural. Resultado: déficit de sedimentos e linha d’água cada vez mais próxima do calçadão.
“O que era um processo natural de reposição virou um roubo sistemático de areia”, denuncia Velloso.
Existe saída — mas falta vontade política
Ainda há como salvar a praia. Especialistas recomendam:
- Engorda artificial da areia, como já ocorre em Copacabana;
- Replantio da vegetação de restinga;
- Remoção de estruturas rígidas que aceleram a erosão.
Mas enquanto isso não acontece, o mar segue avançando, e a Macumba caminha rumo ao apagamento. A pergunta que fica: quem vai se mexer primeiro — as autoridades ou as ondas?
Uma curiosidade: por que Macumba?
A praia ganhou esse nome por ser local de rituais de umbanda e candomblé, já que fica em uma área mais isolada. Também é conhecida como Praia do Pontal, o destino final do famoso “caminho do Leme ao Pontal”, eternizado por Tim Maia. Se não fizerem nada, esse final feliz corre sério risco de virar apenas um refrão nostálgico.
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