Os bebês reborn se popularizaram no Brasil nas últimas duas décadas e voltaram a ganhar visibilidade nacional. As bonecas hiper-realistas passaram de brinquedos de crianças a objetos de desejo de adultos.
Eles estão dispostos a investir quantias altas em roupinhas, acessórios e até pagam pela experiência de ver o “nascimento” das bonecas em lojas que simulam maternidades.
Esta semana veio a público a história de um casal que quer disputar a guarda de um bebê reborn na Justiça após o divórcio. Segundo a advogada que atende uma das partes relatou nas redes sociais, a cliente busca regulamentar a guarda do brinquedo que adotou com o parceiro e criou apego emocional.
O que faz uma pessoa se apegar a um bebê reborn?
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, revelou que a brincadeira de adultos com as bonecas hiper-realistas está profundamente ligada a necessidades emocionais, criativas e terapêuticas.
Os autores do estudo afirmam que adultos interagem com as bonecas para estabelecer vínculos emocionais, dar vazão à expressão criativa e vivenciar benefícios terapêuticos significativos. Isso porque a atividade proporciona conforto, estimula a autoexploração e contribui para o bem-estar geral.
Mas existem também outros motivos que podem explicar o apego de adultos aos bebês reborn. O psiquiatra Raphael Boechat Barros, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), explica que as pessoas podem se apegar a bebês realistas simplesmente como colecionadoras.
“Podem ser pessoas que tinham o hábito de colecionar bonecas na infância e trazem uma vivência do passado, assim como homens têm com carrinho. Praticamente todas as mulheres brincaram de boneca e uma parte delas está revivendo isso depois de adulta”, conta o psiquiatra.
O médico também aponta como causa a popularidade que as bonecas ganharam, virando um modismo com disseminação em redes sociais. “A partir do momento que isso fica mais frequente na mídia digital, mas gente se interessa. É um efeito cascata”, conta.

Por outro lado, o médico considera que várias outras possibilidades podem estar por trás da obsessão pelas bonecas. Desde quadros psiquiátricos graves — como quadros psicóticos, neuróticos — a considerações relacionadas à autoestima, insegurança e solidão.
A psicóloga Deyse Sobral, que atende em Brasília, acrescenta que algumas pessoas com dificuldades e receios comuns de vivenciar relações de maior intimidade podem acabar criando vínculos de fantasia com as bonecas. “Isso proporciona uma falsa sensação de segurança, controle e proteção, evitando conflitos reais e mantendo harmonia superficial, agindo como um mecanismo de defesa”, explica.
A psicóloga conta que a maioria das pessoas sabe diferenciar a realidade da ficção. Aprendemos isso com os filmes, séries de TV, peças de teatro e videogame. Quando eles terminam, voltamos do mundo lúdico para o real. Contudo, quando a questão faz parte do dia e a rotina do indivíduo, ele pode ter outra dimensão ou mesmo ter um cunho de disfuncionalidade.
“Em casos onde são estabelecidos vínculos maiores, quase que com uma personificação do bebê reborn, podem haver implicações no estabelecimento de vínculos reais, isolamento, e dificuldades em lidar com demandas reais, o que representa um sinal de alerta e por conseguinte demanda melhor entendimento e cuidado profissional”, ressalta Deyse.
Como saber se a brincadeira passou dos limites?
Os especialistas ressaltam que cada caso deve ser avaliado individualmente por um profissional de saúde qualificado (psicólogo ou psiquiatra), uma vez que os motivos que levam as pessoas a “adotarem” os bebês reborn são diversos.
“Se isso toma uma dimensão muito grande na vida da pessoa, é legal ela fazer uma avaliação”, afirma Raphael Boechat Barros.
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