Lucas Kallas: quem é o empresário que está construindo uma nova ferrovia em MG

Com o jeito simples e discreto, típico dos mineiros, o empresário Lucas Kallas se tornou um dos nomes mais influentes da nova economia brasileira. À frente da Cedro Participações, ele vem conquistando destaque no cenário nacional pela rápida ascensão a partir da mineração de ferro em direção a diversos setores estratégicos.

Neto de libaneses e herdeiro da veia empreendedora da família, Kallas começou a vida empresarial no setor imobiliário. Mas foi na mineração que consolidou sua trajetória. “Não sou minerador, sou empreendedor. E o Brasil precisa de coragem para investir”, afirmou Kallas durante o Conexão Empresarial, em maio, diante de 200 empresários em Belo Horizonte (MG).

A mineração é o pilar central do Grupo Cedro. A holding fatura R$ 2,5 bilhões ao ano. A Mina do Gama, em Nova Lima, é a “menina dos olhos” de Kallas. Desde que fechou o negócio ele vem investindo em eficiência e tecnologia, para aumentar rapidamente a produção atual de 4 para 7 milhões de toneladas de pellet feed. A meta é multiplicar a produção para 20 milhões até 2028, um volume que pode colocar a empresa entre as maiores mineradoras de ferro do país.

De perfil inquieto, sem fazer alarde, segundo seus pares, Kallas está sempre em busca de novas oportunidades, pensando em inovação, eficiência e foco em sustentabilidade. Sua investida mais recente, com ampla visibilidade no meio empresarial, foi a assinatura da concessão de terminal de movimentação de minério de ferro no Porto de Itaguaí (RJ), em fevereiro passado, com a presença do presidente Lula e do ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Um projeto de R$ 3,6 bilhões, que terá capacidade para movimentar 24 milhões de toneladas por ano, em uma área de 224 mil metros quadrados.

“Eu aprendi com a minha mãe que quando a gente quer saber se a pessoa é honesta e trabalhadora, a gente não tem que prestar atenção na boca, a gente tem que prestar atenção nos olhos. E o companheiro Lucas, desde que foi levado à minha sala dizendo que queria fazer investimentos em mineração do país, percebi na hora que estava conversando com um empresário sério, que ama o Brasil, torce pelo crescimento do Brasil”, afirmou Lula, na cerimônia.

A descrição resume, à moda do presidente, um perfil de empresário cada vez mais escasso no país: o empreendedor de base, que aposta no investimento de recursos privados em grandes projetos a partir do zero, com visão estruturante em setores que promovam o desenvolvimento de longo prazo para o país.

Café e genérico do Ozempic

Com os dividendos da mineração, Kallas estruturou uma holding para ampliar os investimentos multissetoriais. No agro, cultiva café especial na Serra do Cabral (MG) e desenvolve áreas para grãos e pecuária na Bahia. Na saúde, é parceiro da Oncoclínicas e da BIOMM, que produz insulina em Nova Lima e projeta o primeiro genérico do Ozempic no Brasil.

Além disso, a Cedro apoia mais de 60 iniciativas voltadas para o esporte, a cultura, a educação e o social, com destaque para a creche São Judas Tadeu, maior instituição privada do tipo em Nova Lima (MG), que atende mais de 800 crianças, com 5 mil refeições diárias. Também apoia iniciativas que valorizam a diversidade cultural e preservam o patrimônio histórico e artístico em Minas Gerais. “Queremos ser agentes de transformação, não só econômica, mas social”, resume Kallas.

Minério verde

A mineração do futuro, para ele, não pode estar dissociada do meio ambiente. E no campo da sustentabilidade, um dos seus principais focos é a mudança no perfil do minério produzido. Inovando mais uma vez no setor, o empresário está investindo na produção de pellet feed, o chamado “minério verde”. Com maior teor de ferro e menos impurezas, esse produto reduz em até 50% as emissões da indústria siderúrgica. A Cedro será uma das primeiras do país a direcionar sua matriz produtiva a essa transição, atendendo à crescente demanda europeia e do Oriente Médio.

A transição para o pellet feed exige investimentos significativos, estimados em centenas de bilhões de reais, para colocar 30% da produção brasileira nesse tipo de minério. O volume de investimento necessário para produzir “pellet feed” é pelo menos o dobro do exigido pelo minério tradicional.

Kallas também defende políticas públicas mais robustas para a mineração de baixo carbono, como o acesso ao Fundo Clima do BNDES e a criação de debêntures verdes para o minério de ferro — hoje excluído desse tipo de incentivo.

A primeira shortline do país

No campo da infraestrutura, a Cedro está desenvolvendo o primeiro ramal ferroviário do país, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, um investimento de R$ 1,5 bilhão. A chamada shortline, com 26 km, conectará a produção mineral à malha nacional, retirando até 5 mil carretas e caminhões por dia da BR-381, conhecida como a “rodovia da morte”, com mais de 7.000 acidentes nos últimos três anos, sendo 440 deles fatais.

O benefício ambiental promete ser significativo: a shortline irá evitar a emissão de 40 mil toneladas anuais de dióxido de carbono, um dos principais gases causadores do efeito estufa. As obras terão início em 2027 e devem gerar cerca de 4 mil empregos diretos e indiretos até 2030, quando está previsto o início das operações.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já concedeu a autorização para o início da obra. E em março deste ano, o Ministério dos Transportes credenciou como bens de utilidade pública todos os imóveis necessários para a implantação do ramal, garantindo assim a segurança jurídica ao empreendimento.

No mercado imobiliário, setor que é base do empreendedorismo de sua família (seu avô foi um dos principais loteadores de Minas Gerais), Kallas tem planos robustos. O grupo está preparando o lançamento de um projeto em Trancoso, Bahia, onde adquiriu 21 terrenos totalizando 1 milhão de metros quadrados, com planos de oferecer lotes e construir casas em parceria com a rede de hotéis de luxo Nômade. A Cedro investiu ainda em um Fiagro (fundo imobiliário focado em propriedades rurais) para aquisição de fazendas em Tocantins.

A aquisição de terras na Serra do Cabral, Minas Gerais, foi o início da estruturação da divisão Cedro Agro, a partir de 2020, e marca a entrada da Cedro no agronegócio. A região, conhecida pela altitude e condições climáticas favoráveis, é ideal para a produção de café de qualidade. Foram adquiridas três fazendas, totalizando 4.130 hectares cultiváveis, para o cultivo de café. Antes, as fazendas eram usadas para cultivo de eucalipto. Hoje, uma delas, a primeira a ser desenvolvida, já tem cerca de mil hectares plantados. A primeira safra completa começou a ser colhida neste ano.

A divisão agro também possui 12.500 hectares na Bahia, que estão sendo desenvolvidos para o plantio de grãos como milho e soja e para a criação de gado. Recentemente, Kallas também entrou no setor financeiro, adquirindo a Pincred, uma financeira criada em 2019. Ele ficará com 80% do negócio, tendo como sócio Pedro Mesquita, que ficará com 20% através de sua gestora, a Exa. O foco da Pincred está no segmento de empréstimos consignados e crédito direto ao consumidor. Kallas busca com essa aquisição uma maior diversificação de negócios. A transação já foi aprovada pelo Cade e aguarda apenas a autorização do Banco Central.

Kallas atribui seu sucesso à disciplina e ao estudo aprofundado dos negócios em que entra. Com uma visão estratégica que abrange desde a modernização da mineração para reduzir emissões até o desenvolvimento de infraestrutura e a diversificação em setores essenciais, ele demonstra um compromisso com o desenvolvimento de base e a sustentabilidade, posicionando a Cedro Participações como um agente relevante na economia brasileira.

Quem é Lucas Kallas

• Empresário mineiro, é fundador da Cedro Mineração (iniciada em 2018) e da Cedro Participações, uma holding criada há seis anos que controla os negócios em mineração, agronegócio, saúde, real estate, logística e financeiro. A holding fatura cerca de R$ 2,5 bilhões anuais. Kallas é descrito como inquieto e focado em inovação, eficiência e desenvolvimento sustentável.

• Mineração: a Mina do Gama, em Nova Lima, é central para os negócios da Cedro Mineração. Com investimentos em melhorias e inovação, a produtividade quase triplicou em
cinco anos alcançando recordes de produção. Hoje, além dela, a Cedro tem uma mina em Mariana que vem recebendo investimentos relevantes na ampliação de sua capacidade através de um projeto inovador, característica forte no perfil do Grupo para alcançar níveis de produção combinada das Minas na casa dos 20 milhões de toneladas.

• Pellet Feed: Kallas quer centrar investimentos na produção de pellet feed, o “minério verde”, mais fino, com maior concentração de ferro e menos sílica. O uso do pellet feed reduz as emissões de gases de efeito estufa em 50% na indústria siderúrgica. A produção brasileira de pellet feed é pequena (cerca de 8%), mas a demanda na Europa e Oriente Médio está crescendo, com prêmio de preço. Kallas considera apostar nisso “questão de sobrevivência”. Mudar para o pellet feed exige investimento significativo, pelo menos o dobro do minério tradicional.

• Financiamento para mineração sustentável: Kallas defende mudanças nos modelos de financiamento, pedindo linhas de crédito para mineração sustentável no Fundo Clima do BNDES. Ele critica a falta de debêntures incentivadas para o minério de ferro, fundamental para a transição para uma economia de menor emissão de carbono. A transição para
30% da produção brasileira em pellet feed exigirá centenas de bilhões em investimento.

• Investimentos em infraestrutura (Projeto Shortline): a Cedro está investindo quase R$ 1,5 bilhão em um ramal ferroviário para ligar as minas à malha principal. Este projeto visa otimizar o transporte do minério para exportação, reduzir o número de carretas nas estradas (4 mil por dia na Fernão Dias) e evitar a emissão de 40 mil toneladas de dióxido de
carbono.

• Projetos sociais: a Cedro é mantenedora da creche São Judas Tadeu, a maior creche privada do estado, no Jardim Canadá, em Nova Lima (MG), e apoia atualmente mais de 60
projetos sociais em diferentes setores, em Minas Gerais.

 

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