Uma mulher foi flagrada atropelando o ex-marido na tarde da última quinta-feira (15/5), na Rua Joaquim Lapas Veiga, no Jardim D’Abril, zona oeste de São Paulo. Os dois haviam acabado de sair de uma borracharia, localizada a metros do atropelamento, e tinham passado a noite em um motel antes do ocorrido.
No vídeo (veja abaixo) é possível ver a mulher dirigindo um veículo preto, com o homem em cima do capô do carro. Em segundos, o ex-marido caiu e foi atropelado, indo parar embaixo do automóvel.
Logo após o acidente, populares se aproximam e tentam ajudar no resgate, tentando tombar o carro e assim retirar o homem atropelado de baixo do veículo.
Segundo o boletim de ocorrência obtido pelo Metrópoles, policiais militares foram acionados ao endereço e encontraram a mulher que dirigia o carro muito nervosa. Ela contou que os dois estavam em um motel e passaram em uma borracharia próximo ao local do atropelamento, momentos antes do ocorrido.
O homem foi encontrado inconsciente e “muito machucado” e por conta disso, precisou ser resgatado pelo helicóptero Águia da Polícia Militar. Ele foi encaminhado ao Hospital das Clínicas, onde até o momento do registro policial – na tarde de quinta – permanecia vivo.
Encontro em motel
O atropelamento é o final de uma “tragédia declarada”, conforme entendeu o delegado do caso. Em depoimento à polícia, a mulher que dirigia o veículo contou que conviveu com o ex-marido por volta de um ano, mas que se separou, por ter sido vítima de agressões por parte dele, inclusive registrando dois boletins de ocorrência envolvendo violência doméstica e obtendo.
A mulher contou às autoridades que o ex-marido vinha lhe perseguindo “há algum tempo”, e que já tinha diversas medidas protetivas contra ele. No dia do crime, ela contou que o ex entrou em contato por meio de um site de acompanhantes, onde a mulher trabalhava há cerca de uma semana.
Por ele usar outro nome e outro número de telefone, visto que o contato usado anteriormente estava bloqueado por ela, a mulher não chegou a desconfiar de quem se tratava e marcou um encontro em um endereço desconhecido.
Ao chegar no local, ela percebeu que se tratava do ex-marido – que estava acompanhado por uma outra pessoa. Ele a chamou para conversar em um “local mais reservado” e, depois de bastante insistência, ela topou ir a um motel no bairro Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, onde chegaram por volta das duas horas da manhã.
No motel, a mulher disse que os dois tiveram relações sexuais e que o ex-marido não se mostrava agressivo, até o momento em que começou a consumir bebidas alcoólicas. Após as bebidas, o ex-casal começou a discutir e na briga, a mulher conta que sofreu um tapa no rosto, teve o cabelo puxado “violentamente” e levou um soco nas costas.
Ao ser agredida, a vítima contou que pediu para ir embora, mas o homem pegou a chave do carro dela e a impediu de deixar o motel. Só depois de algumas horas, ela conseguiu deixar o quarto, junto ao ex-marido.
Na recepção do estabelecimento, o homem ainda brigou com as funcionárias do motel durante cerca de 20 minutos. O motivo seria o fato dele não querer pagar a estadia do local, situação, que apesar de precisar do acionamento da polícia, foi resolvida antes da chegada dos agentes no local.
O registro policial ainda indica que o ex-marido não queria pagar pelos serviços da mulher, que estava ali após ter sido contratada por ele.
Após o conflito – aparentemente resolvido – o homem ainda saiu sozinho do local dirigindo o carro da mãe da ex-esposa, mas voltou ao endereço após cerca de dois minutos para buscar a mulher. Os dois partiram em direção à Rodovia Raposo Tavares, mas desviaram o caminho após a mulher avisar que o para-choque quebrado do carro podia ser motivo para a polícia parar a dupla. Eles então, seguiram para uma borracharia na região.
Fuga de borracharia
No meio do caminho, a mulher assumiu a direção do veículo – ela não tinha habilitação. Ao chegar na borracharia, apenas o homem desceu do veículo e tentou negociar com o borracheiro o concerto do para-choque do carro. Porém, o funcionário explicou que não tinha capacidade para arrumar esse tipo de dano e indicou um lugar nas proximidades que poderia realizar o trabalho. O homem então voltou ao carro, mas, ao tentar entrar no veículo, percebeu que a mulher trancou o automóvel e ameaçava fugir do local.
O ex-marido então subiu no capô do carro, com a intenção de impedir a saída da mulher. A tentativa foi frustrada, a mulher saiu dirigindo do local mesmo com o homem em seu campo de visão e, metros após o arranque do veículo, o homem acabou caindo embaixo do automóvel e foi atropelado.
Pelas imagens (veja acima), testemunhas percebem o atropelamento e tentam ajudar o homem atingido. Várias pessoas se aproximam e tentam tombar o carro para retirar o ex-marido da motorista de baixo.
Ela contou que no momento do atropelamento entrou em choque e por isso não conseguiu chamar o resgate, embora populares tenham feito isso.
Delegado optou por não prender a mulher
- Ainda de acordo com o boletim de ocorrência obtido pela reportagem, assinado pelo delegado Rodolfo Furtado Bastos, o investigador define o ocorrido como um “infeliz desfecho de uma tragédia declarada”.
- Ele considerou o passado “comprovadamente violento” do homem atropelado e a série de agressões relatadas pela mulher e entendeu que “muito provavelmente” a ex-esposa seria vítima de algo mais grave, “talvez para um feminicídio”.
- Por isso, o delegado optou por não prender a mulher em flagrante pelos fatos da ocorrência.
- Além disso, ele declarou no documento que o atropelamento foi culposo – quando não há intenção do ato – e afirmou que os atos “foram frutos de um momento de desespero, descontrole e, em especial, de medo”.
O caso foi registrado como lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, com o agravante da mulher não ter carteira de habilitação, pelo 89° DP (Jardim Taboão).