Brasília – A cada nova testemunha, o que era evidente vira oficial: Jair Bolsonaro tentou sabotar a democracia usando o aparato do Estado. Clebson Ferreira de Paula Vieira, ex-analista do Ministério da Justiça, revelou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que recebeu ordens diretas da gestão de Anderson Torres para mapear cidades onde Luiz Inácio Lula da Silva teve votação expressiva.
Segundo o depoente, a intenção era clara: fornecer dados para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) agir de forma estratégica e impedir o acesso de eleitores às urnas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. A tática, segundo Vieira, já era previsível antes mesmo do segundo turno.
Bolsonaro mirou redutos de Lula com PRF
Vieira contou que duas ordens lhe foram repassadas: levantar onde Lula e Bolsonaro haviam obtido mais de 70% dos votos no primeiro turno, e mapear o efetivo da PRF nessas áreas. A diretora de Inteligência, Marília Ferreira, assinava os pedidos.
Ele disse ter percebido um “viés cognitivo político” nos comandos. Mais do que suspeita, a ação foi descrita como premeditada:
“O que aconteceu no dia do segundo turno, eu já sabia que ia acontecer”, afirmou.
Além disso, revelou ter guardado documentos para denunciá-los quando houvesse segurança institucional:
“Vi que uma habilidade técnica minha foi usada para uma decisão ilegal.”
PRF também agiu para barrar vans e ônibus do Nordeste
Outro que relatou o uso político da PRF foi o então diretor de inteligência da corporação, Adiel Pereira Alcântara. Ele participou de uma reunião em 20 de outubro de 2022, onde recebeu ordens para monitorar ônibus e vans vindos de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro com destino ao Nordeste.
“Perguntei por que só esses estados e só esse destino. Achei estranha a ordem”, relatou Alcântara.
Ele também criticou a atuação de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF, pela proximidade escancarada com Bolsonaro. Segundo Alcântara, a PRF foi transformada em instrumento político.
STF investiga tentativa de golpe liderada por Bolsonaro
As revelações fazem parte da investigação sobre a tentativa de golpe após a vitória de Lula em 2022. O processo, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, tem como réus Bolsonaro, Anderson Torres, Mauro Cid, Augusto Heleno, Braga Netto, entre outros figurões da caserna e da ultradireita.
Eles respondem por crimes como:
- Organização criminosa armada
- Tentativa de golpe de Estado
- Ato contra o Estado Democrático de Direito
- Dano qualificado ao patrimônio público
As penas podem ultrapassar 40 anos de prisão.
STF mantém audiências e barra manobras da defesa
As oitivas começaram com as testemunhas de acusação, incluindo Marcos Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e Éder Lindsay Magalhães Balbino, contratado pelo PL para fiscalizar a eleição.
A defesa de Bolsonaro tentou, sem sucesso, adiar os depoimentos alegando falta de acesso às provas. O STF recusou a alegação para evitar interferências no calendário eleitoral de 2026.
Vale lembrar: Bolsonaro já está inelegível até 2030 após ser condenado pelo TSE por atacar o sistema eleitoral com fake news.