A Marinha do Brasil (MB) se manifestou, na noite desta quarta-feira (21/5), sobre um vídeo obtido com exclusividade pelo Metrópoles que mostra um recruta levando mordidas na bunda por colegas do quartel, em caso ocorrido entre a última segunda (19/5) ou terça (20/5), em São Paulo. A prática seria uma espécie de trote para jovens que estão concluindo a formação de marinheiro.
Um desses trotes foi capturado em vídeo. Veja:
“Na Marinha, quando se conclui o curso para tornar-se marinheiro, e em outras ocasiões, ocorre a ‘manta’, em que um por um dos recém-formados são agredidos em um quarto por aqueles que já estão na corporação há mais tempo. Depois ocorre a ‘mordida’ nas nádegas do integrante”, disse à reportagem outro marinheiro, que prefere não se identificar.
Segundo o marinheiro, essas agressões geralmente ocorrem em segredo, mas o episódio em questão foi gravado nos últimos dias. “Que alguém de fora possa ver a realidade que é ser militar aqui”, disse.
Em nota enviada à reportagem pelo Comando do 8º Distrito Naval, onde o caso aconteceu, um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para apurar as circunstâncias relacionadas à denúncia de “um possível trote envolvendo um recruta, conforme veiculado pela mídia.”
“A MB não compactua com qualquer tipo de conduta que atente contra a integridade, o respeito e a disciplina no ambiente militar. Tais comportamentos não condizem com os valores da instituição e, se confirmados, os responsáveis serão devidamente responsabilizados, conforme a legislação em vigor. A MB reitera seu compromisso com a manutenção de um ambiente de formação pautado pela ética, disciplina e respeito à dignidade da pessoa humana”, complementou o texto.
Trotes na Marinha
- Quando está prestes a se tornar um marinheiro, o recruta passa por um trote, aplicado por colegas que estão há mais tempo no quartel.
- O jovem passa pela “manta” e pela “mordida”, podendo escolher a ordem de aplicação do trote.
- No caso da manta, o recruta deve cobrir a cabeça com o cobertor, momento em que é agredido pelos colegas.
- Os vídeos mostram agressões com chutes, socos, cintos e até mesmo com cabos de vassoura. Alguns recrutas chegam a cair no chão.
- Já no caso da mordida, o recruta se deita em um colchão com as calças abaixadas, vestindo cueca, enquanto outros marinheiros mordem suas nádegas. Em alguns registros, o novato grita de dor.
- Em uma brincadeira, um dos marinheiros chega a oferecer, entre a manta e a mordida, uma “cuspida no cu”.
- Também há falas racistas durante os trotes. Em dado momento, um marinheiro diz a um recruta negro que está prestes a ser agredido: “você é preto, tem que aguentar”.
- Um dos recrutas agredidos seria autista, e se afastou dos colegas de corporação após o ocorrido.
- De acordo com uma fonte ouvida sob sigilo pelo Metrópoles, a prática é de conhecimento geral da Marinha. “De marinheiro até almirante, todos sabem o que acontece”, afirmou.
- Segundo o marinheiro, ocorre “muita humilhação” na corporação, principalmente de tom sexual. “Em embarcações, normalmente é feito com a pessoa nua”, disse.
Marinheiros ficam apreensivos com vazamento dos vídeos
Em um aplicativo de mensagens, os marinheiros que participaram dos trotes se mostram apreensivos com a repercussão dos vídeos, e potencial vazamento para pessoas de fora da Marinha, assim como para seus superiores.
“Tem que pegar o X9”, disse um deles. “Cancela manta e mordida, pelo menos por enquanto”, disse outro.
Segundo a conversa dos jovens, a aplicação do trote a um recruta teria tido consequências negativas, “e estão à procura de um culpado”.
Eles tentam descobrir quem teria vazado a ocorrência dos trotes, quando um marinheiro diz que “se não foi o moleque das vassouradas, não tem desculpa”.