Washington – Em mais um episódio que mistura megalomania com diplomacia duvidosa, Donald Trump aceitou um Boeing 747-8I de luxo, presenteado pela monarquia do Qatar, avaliado em R$ 2,2 bilhões. O jato, que serviu à família real qatariana, deverá substituir o Air Force One, embora especialistas alertem: transformar esse elefante branco num “palácio voador” presidencial não será nem barato, nem simples.
A notícia caiu como um míssil no Congresso dos EUA, onde democratas já cobram explicações. Trump, claro, minimizou o presente e se disse “honrado” com a doação. A Força Aérea e o Pentágono agora correm contra o tempo — e contra a ética — para legitimar a operação.
Aceita-se um avião, ignora-se o escândalo
Enquanto o Departamento de Defesa tenta alegar legalidade na aceitação do jato, os bastidores ferveram. Sean Parnell, porta-voz do Pentágono, afirmou que “tudo seguiu os regulamentos federais”. Mas até mesmo dentro da caserna há resistências: o jato de origem civil precisará de modificações caras e extensas para atender aos rígidos padrões de segurança do Air Force One.
Troy Meink, da Força Aérea, declarou que o novo secretário de Defesa, Pete Hegseth (um trumpista de carteirinha), avalia os custos da empreitada. A estimativa? Cifras ainda mais bilionárias, bancadas pelos cofres públicos americanos.
Boeing afundando, Qatar voando alto
A “doação” chega justamente quando o projeto oficial de novos Air Force One, encomendado pelo próprio Trump em 2018, está atolado. A Boeing já amarga prejuízos de US$ 2 bilhões e só promete entrega em 2029. Nesse vácuo, o Qatar surge como salvador reluzente — ou cavalo de Troia?
Congresso em alerta: presente ou pressão?
Parlamentares democratas pedem investigações urgentes. O temor é claro: além dos problemas técnicos, há um gigantesco conflito de interesses em curso. Presentes diplomáticos desse porte sempre levantam suspeitas, ainda mais quando o beneficiado é um bilionário populista com histórico de alianças oportunistas.
Durante sua visita recente ao emirado, Trump fez questão de ignorar os alertas: “É apenas um gesto de amizade”. Já o Qatar negou, claro, qualquer tentativa de influência. Mas, como sempre com Trump, o subtexto grita mais alto do que o discurso oficial.
Avião real, democracia em risco
A adaptação do jato será longa, cara e arriscada. A pergunta que ecoa nos bastidores de Washington é: por que um aliado estratégico dos EUA entregaria um jato presidencial de bandeja para um ex-presidente com aspirações de retorno?
Mesmo sem confirmar oficialmente o uso do avião, analistas políticos e militares alertam para o simbolismo perigoso: um presente bilionário vindo de uma monarquia absolutista, aceito sem transparência e sem debate público.