Sabe quando você liga para uma operadora de telefonia, banco ou qualquer outro prestador de serviço e colocam você para falar com o robô mais irritante do mundo? Frequentemente, ele só consegue ajudar em casos bem específicos e precisa que o cliente saiba exatamente qual problema está enfrentando. Esse é um exemplo comum de Inteligência Artificial (IA) ruim no Brasil. O Canaltech conversou com representantes das maiores empresas de IA do mundo para entender por que temos uma sensação de atraso nesse campo.
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Comparar o Brasil diretamente com os EUA é difícil devido à dimensão das economias, mas considerando que a Inteligência Artificial tem potencial de fazer a economia global crescer US$ 15,7 trilhões até 2030, segundo estudo da PwC, é difícil não sentir ansiedade. Vamos perder o timing de mais uma revolução industrial?
Os problemas estruturais brasileiros
Márcio Aguiar, diretor executivo da NVIDIA para a América Latina, identifica questões fundamentais que mantêm o Brasil atrás das outras grandes economias em tecnologia.
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“O problema maior aqui é o conhecimento. Não é falta de dinheiro. Falta gente qualificada para implementar. E também temos um hábito cultural: o brasileiro quer lançar só quando estiver 100% perfeito, enquanto os americanos já lançam, testam e vão aprimorando”.
Enquanto isso, o banco norte-americano JPMorgan já deu acesso para 200 mil funcionários a uma suíte de IA generativa. 40 mil desenvolvedores usam a ferramenta para gerar, revisar e corrigir código rapidamente, e o histórico de interações com clientes é usado pela IA para sugerir soluções para novos problemas.
Durante a keynote do Dell Tech World 2025, Larry Feinsmith, diretor de tecnologia do JPMorgan, enfatizou que essa suíte é considerada o maior rollout corporativo de IA generativa até o momento.

Jeff Clarke, vice-presidente da Dell, explicou que a demora de empresas para entrar na onda da IA corporativa tem a ver com o medo de errar dos gerentes de tecnologia, que teriam a sensação de que, se testam algo grande e fracassam, acabarão desempregados.
Na visâo de Diego Puerta, general manager da Dell no Brasil, esse medo é contornável quando testes são feitos corretamente e as empresas dimensionam projetos adequadamente:
“Usar a nuvem faz sentido para testes iniciais. Mas quando você considera a gravidade dos dados, ou seja, que a IA deve estar onde os dados estão, isso muda. Se seus dados estão no Brasil, manter infraestrutura fora pode gerar latência e comprometer aplicações. O ideal é planejar corretamente e dimensionar a infraestrutura do tamanho certo desde o início”.
O custo de fazer IA no Brasil
Enquanto é relativamente fácil começar testes usando computação em nuvem, escalar um sistema de IA no Brasil nas dimensões das grandes empresas norte-americanas é caro. Pouco da infraestrutura necessária é produzida localmente, e tudo importado é fortemente taxado, muitas vezes inviabilizando negócios.
Márcio Aguiar explicou que empresas brasileiras às vezes compram servidores e montam data-centers nos EUA, mantendo-os no exterior porque é mais barato que importar para o Brasil.
“Isso limita a criação de empregos e a geração de conhecimento local”, explicou Aguiar ao Canaltech.
Essa tática funciona para algumas aplicações, mas é péssima para IA devido ao conceito de “gravidade dos dados” — os dados “atraem” serviços para perto de onde estão armazenados, tornando mais eficiente processar modelos no mesmo local dos dados.
Iniciativas governamentais
O Governo Federal parece ter acordado para essa realidade. Em maio de 2025, o ministro Fernando Haddad viajou aos Estados Unidos para apresentar a nova Política Nacional de Data Centers, participando de encontros com executivos da Nvidia, Google e Amazon. Márcio Aguiar, que esteve presente, avaliou positivamente.
“Apoiamos o plano desde o início. A meta é incentivar o uso de IA no país, desde a formação de mão de obra até o desenvolvimento de infraestrutura local.”
Diego Puerta destaca a necessidade de implementação adequada:
“A iniciativa é boa, mas precisa ser bem implementada. Data centers consomem muita energia e geram poucos empregos. Precisamos incentivar a produção local de servidores. Caso contrário, seremos apenas consumidores de energia e compradores de soluções importadas”.
Brasil: potencial pólo de IA verde
O Brasil gerou 93,1% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis em 2023, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), consolidando-se como uma das matrizes mais limpas do mundo. Esse desempenho pode ser diferencial competitivo para atrair investimentos em setores de alta demanda energética.
Porém, só energia limpa não garante vantagem competitiva. Alyson Freeman, líder de inovação da Dell, explica os fatores considerados ao estudar onde no mundo um data center deve ser colocado:
“São considerados a disponibilidade de energia, a composição da energia (se renovável ou não), a confiabilidade da energia, problemas de transmissão e questões de armazenamento dessa eletricidade. A proximidade da fonte geradora também é importante, pois os data centers maiores precisam estar próximos de onde a energia está localizada”.

Sua equipe desenvolve o Concept Astro, ferramenta experimental que usa IA para determinar como e quando data centers devem executar tarefas baseando-se em dados da rede elétrica. Meghan Krohn, estrategista climática da Dell, exemplifica:
“Dirigir seguindo o mapa no seu celular fica mais útil quando você adiciona informações de tráfego em tempo real. E, da mesma forma, nosso data center fica mais útil quando adicionamos informações da rede elétrica e sabemos quando há entrada de energia renovável”.
Aplicações práticas da IA corporativa
Além de facilitar o atendimento ao cliente e ajudar programadores, a inteligência artificial própria está sendo aplicada para ler, interpretar e resumir documentos complexos — contratos jurídicos, relatórios financeiros e diretrizes regulatórias — em segundos, reduzindo tempo gasto em tarefas repetitivas e aumentando precisão na tomada de decisão.
Durante o Dell Tech World, executivos da varejista Lowe’s e de uma empresa de logística ferroviária apresentaram números alcançados com IA, criando especialistas virtuais e aperfeiçoando procedimentos de segurança.
Michael Dell repetiu, refoçcou e enfatizou que cada negócio precisa achar um uso próprio para potencializar ganhos com IA, e não parece haver soluções universais. Quem esperar por isso, segundo Dell, continuará ficando para trás.
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