O dólar engatou uma queda e o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), firmou alta após a notícia de que o governo federal anunciaria um congelamento de R$ 31,4 bilhões do Orçamento de 2025.
O mercado também acompanha a divulgação dos dados do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, documento que faz uma atualização das projeções para o Orçamento.
No cenário internacional, o foco continua sendo a situação fiscal nos Estados Unidos, com preocupações acerca da dívida norte-americana e sua proporção em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
Dólar
- Às 15h10, o dólar caía 0,63%, a R$ 5,608.
- Mais cedo, às 13h30, a moeda dos EUA recuava 0,33% e era negociado a R$ 5,625.
- Na cotação máxima do dia até aqui, o dólar bateu R$ 5,68. A mínima é de R$ 5,596.
- No dia anterior, o dólar fechou em queda de 0,46%, cotado a R$ 5,643.
- Com o resultado, o dólar acumula perdas de 0,6% em maio e 8,68% em 2025 frente ao real.
Bolsa de Valores
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), operava perto da estabilidade.
- Às 15h13, o indicador avançava 0,6%, aos 138,7 mil pontos.
- Na véspera, o Ibovespa encerrou o pregão em forte baixa de 1,59%, aos 137,8 mil pontos.
- Com o resultado, o indicador acumula ganhos de 2,08% no mês e de 14,63% no ano.
Medidas fiscais no Brasil
No cenário doméstico, as atenções do mercado seguem voltadas ao anúncio de novas medidas fiscais por parte da equipe econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
O chefe da pasta conversou nesta semana com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir novas medidas fiscais, que devem ser anunciadas nesta quinta.
Também está prevista a divulgação do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, documento que orienta a execução do Orçamento.
Normalmente, o Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas apresenta o quadro fiscal para o ano corrente. O documento traz os valores a serem contingenciados (para cumprir a meta de resultado primário) ou bloqueados (para cumprir o limite de gastos do arcabouço fiscal).
Além de Haddad, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), participará do anúncio.
No início da semana, o chefe da equipe econômica não confirmou que a Fazenda esteja planejando o anúncio de um contingenciamento de R$ 18 bilhões, como vem sendo especulado nos bastidores. “Eu não posso antecipar”, limitou-se a dizer Haddad.
Estados Unidos
No exterior, os olhos do mercado continuam voltados aos EUA, também sob forte preocupação com a questão fiscal na maior economia do mundo.
Em uma vitória do governo do presidente Donald Trump, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, na manhã desta quinta-feira, o projeto que traz um pacote de medidas de corte de impostos e gastos, uma das bandeiras da atual administração.
O texto foi aprovado em uma votação muito apertada, com 215 votos favoráveis e 214 contrários. Após a aprovação pelos deputados, a proposta agora será encaminhada ao Senado.
Na última terça-feira (20/5), Trump havia afirmado que poderia ocorrer um aumento significativo de impostos no país caso o projeto tributário apresentado por seu governo não fosse aprovado pelo Legislativo.
“A alternativa [ao projeto] é um aumento de impostos de 68%. E você pode culpar os democratas por isso, um ou dois fanfarrões [congressistas do Partido Democrata, de oposição]”, afirmou Trump.
Segundo o presidente dos EUA, o projeto apresentado por sua administração e que vem sendo discutido no Congresso prevê “o maior corte de impostos da história do país”.
De acordo com economistas, o projeto pode acrescentar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões à dívida dos EUA, que é de US$ 36,2 trilhões, ao longo da próxima década.
Segundo a Moody’s, uma das principais agências de classificação de risco do mundo, a dívida dos EUA pode atingir 134% do PIB do país até 2035. A agência rebaixou a nota de crédito norte-americana.
A proposta da Casa Branca prorroga os cortes de impostos implementados por Trump em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, reduz os impostos sobre a renda de horas extras, aumenta gastos com defesa e fornece mais fundos para a política de controle das fronteiras.
Críticos ao projeto, inclusive dentro do Partido Republicano, defendem que o governo banque cortes maiores no programa de saúde Medicaid para norte-americanos de baixa renda e revogue completamente os chamados “créditos fiscais verdes”, instituídos pelos democratas.
Na última sexta-feira (16/5), quatro parlamentares do Partido Republicano, de Trump, haviam bloqueado a tramitação do projeto na Comissão de Orçamento da Câmara dos Representantes. Após negociarem com o governo, eles permitiram que a proposta avançasse.
“Não vamos cortar nada significativo [em programas sociais]. Não vou mudar o Medicaid, o Medicare ou a Previdência Social”, afirmou Trump.
Ainda nesta quinta-feira, os investidores acompanham a divulgação de dados preliminares sobre o Índice de Gerente de Compras (PMI) do setor industrial nos EUA, pela S&P Global.
O Departamento de Trabalho do governo norte-americano também divulga os novos números de pedidos de seguro-desemprego, referentes à semana encerrada em 17 de maio.
Análise
Segundo André Valério, economista-sênior do Banco Inter, o projeto de Trump “tenta cumprir diversas promessas de campanha, como a não taxação de gorjetas”.
“Além disso, o projeto expande o financiamento para o combate à imigração, destina mais recursos para gastos com defesa e aumenta o limite da dívida pública”, observa Valério.
“Ao longo de 10 anos, o projeto prevê um custo não financiado de US$ 3,8 trilhões, com diversos cortes de impostos e aumento de gastos tendo efeito imediato, enquanto as medidas de aumento de receita e corte de gastos seriam efetivadas mais à frente, provavelmente após 2027. Assim, o projeto contribui para a piora do déficit público americano pelos próximos dois a três anos”, analisa.
Valério destaca que “a aprovação do projeto vem em meio ao aumento da incerteza nos EUA, devido às tarifas e à maior percepção de risco fiscal da economia americana, que atualmente incorre no maior déficit público em tempos de paz”.
“Mesmo com o recuo nas tarifas sobre produtos chineses, o mercado de títulos americano tem se deteriorado nas últimas semanas, com significativo aumento nas taxas dos títulos de longo prazo”, afirma.
“Eleito com a promessa de corte de gastos, o governo Trump não parece que irá atender às expectativas nesse quesito. A iniciativa DOGE não entregou os resultados esperados, e Elon Musk já está se afastando da administração. Soma-se a isso o recente downgrade da dívida pública americana feito pela Moody’s, o que tem exacerbado esse movimento nas taxas dos títulos, contribuindo também para a desvalorização global do dólar. Isso, por sua vez, leva à valorização de ativos reais, como o ouro, que tendem a se valorizar em contextos de maior aversão ao risco”, prossegue o economista.
“Entretanto, parte desse movimento de deterioração das taxas foi revertido hoje, após falas do membro do Fomc Christopher Waller — visto por muitos como o próximo presidente do Fed e que tem atuado como uma espécie de sombra à figura de Jerome Powell. Ele afirmou que, caso as tarifas se estabilizem ao redor de 10%, vê um caminho para a retomada dos cortes nos juros a partir do segundo semestre, o que gerou alívio no mercado”, explica.