Rio de Janeiro – Dois policiais militares acusados de integrar o chamado Novo Escritório do Crime foram presos nesta semana no estado do Rio. O grupo é investigado por execuções a mando da contravenção, venda ilegal de armas e vínculos com milicianos.
Alessander Ribeiro Estrella Rosa, o “Tenente Alessander”, e Diogo Briggs Climaco das Chagas, o “Briggs”, se entregaram à polícia após terem mandados de prisão expedidos em operação do Gaeco/MPRJ.

PMs se entregaram e estão presos em Niterói
Briggs se apresentou na delegacia de Jacarepaguá na segunda-feira (19) e teve a prisão mantida após audiência de custódia. Já Tenente Alessander se entregou na Delegacia Judiciária da Polícia Militar, em Nova Iguaçu, na noite de terça-feira (20). Ele também deve passar por audiência nesta quarta-feira (21).
Ambos estão agora sob custódia em unidade da PM em Niterói. São acusados de participar de ao menos duas execuções, além de envolvimento com a venda clandestina de armas apreendidas em operações policiais.
Os homenageados pelo poder público
Apesar das acusações, os dois policiais chegaram a receber homenagens públicas de figuras da política fluminense. Alessander Rosa foi exaltado com moções de louvor da Alerj, da Câmara dos Deputados e da Câmara de Vereadores de Belford Roxo. A honraria mais recente foi concedida em 2024 pelo deputado Sargento Portugal, que elogiou sua “ilibada carreira”.
O governo de Cláudio Castro também entregou medalha por bons serviços ao PM em 2023 — uma tradição automática, segundo o próprio governo, que alegou que a lista de agraciados vem da própria PM.
Já Briggs foi alvo de moção protocolada por Felipe Michel, então vereador, também em 2024. Após a repercussão da prisão, Michel afirmou que a homenagem nunca chegou a ser entregue e que solicitará o cancelamento.

Grupo é sucessor do Escritório do Crime original
O Novo Escritório do Crime é descrito como sucessor direto da antiga milícia liderada pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto em 2020. A nova quadrilha atua com a mesma lógica: assassinatos por encomenda, obediência à hierarquia militar e uso da estrutura estatal como escudo.
Segundo o Ministério Público, o novo chefe da organização é o ex-PM Thiago Soares Andrade Silva, conhecido como “Batata” ou “Ganso”, que mesmo preso continuava ditando ordens para execuções e tráfico de armas.
Operação do Gaeco revela execução sob encomenda
A operação do Gaeco/MPRJ cumpriu nove mandados de prisão. Cinco dos alvos já estavam presos. Os quatro restantes incluíam Tenente Alessander e Briggs.
Confira a lista completa dos denunciados:
- Thiago Soares Andrade Silva (“Batata”), preso
- Alessander Ribeiro Estrella Rosa (“Tenente Alessander”), preso
- Bruno Marques da Silva (“Bruno Estilo”), preso
- Diogo Briggs Climaco das Chagas (“Briggs”), preso
- André Costa Bastos (“Boto”), preso
- Rodrigo de Oliveira Andrade de Souza (“Rodriguinho”), preso
- Anderson de Oliveira Reis Viana (“2P”), foragido
- Diony Lancaster Fernandes do Nascimento (“Diony”), preso
- Vitor Francisco da Silva (“Vitinho Fubá”), foragido
Todos foram denunciados por organização criminosa armada, sequestro e comércio ilegal de armas de fogo.
Execuções investigadas ocorreram em 2021
O grupo é acusado de dois homicídios brutais:
- Em setembro de 2021, Fábio Romualdo Mendes foi assassinado com vários tiros dentro do carro, em Vargem Pequena. Segundo o MP, o crime foi planejado por Bruno Estilo, 2P e Rodriguinho, sob ordem de Batata.
- Já em outubro de 2021, Neri Peres Júnior foi morto em emboscada em Realengo, alvejado por tiros de fuzil. O crime teria contado novamente com a participação de 2P e Rodriguinho.
Escritório do Crime original atuava desde 2009
O grupo original era formado por PMs e ex-PMs, com atuação na Zona Oeste do Rio. Envolvido em pelo menos 13 homicídios, também se dedicava à grilagem de terras, construções ilegais e exploração imobiliária clandestina. Seu líder, Adriano da Nóbrega, era próximo do clã Bolsonaro e morreu sob circunstâncias suspeitas em 2020.
O Carioca esclarece
Por que isso importa?
A infiltração de milicianos nas forças de segurança e o apadrinhamento político de criminosos colocam a democracia em xeque e normalizam a violência de Estado.
Quem são os envolvidos?
Policiais militares ativos e ex-militares, com apoio político e institucional. Entre eles, Tenente Alessander, Briggs e Thiago “Batata”, apontado como chefe da quadrilha.
Qual o impacto no Brasil e no mundo?
O caso reforça a denúncia internacional sobre a milicialização do Estado brasileiro, com consequências diretas na violação de direitos humanos e no enfraquecimento institucional.
Como isso afeta a democracia, os direitos ou o meio ambiente?
O fortalecimento de grupos de extermínio com apoio de autoridades públicas é um ataque direto ao Estado de Direito e à segurança da população periférica.
Com informações são do G1