São Paulo, maio de 2025 – A expectativa de vida no Brasil tem aumentado de forma consistente nas últimas décadas. Com ela, cresce também o interesse da população por caminhos que permitam um envelhecimento com saúde e autonomia. Segundo projeções do IBGE, até 2030 o número de pessoas com 60 anos ou mais deve superar o de crianças e adolescentes de até 14 anos. E até 2050, os idosos representarão quase um terço da população brasileira.
Segundo o geriatra Dr. Sergio Alves, da UBS Jardim Comercial, unidade gerida pelo CEJAM (Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”) em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS-SP), “envelhecer bem começa muito antes da chegada à terceira idade e envolve hábitos saudáveis, acompanhamento regular e um olhar ampliado sobre o envelhecimento”.
A promoção da longevidade saudável vai além da ausência de doenças: envolve o fortalecimento da funcionalidade, da vida ativa e dos vínculos sociais, mesmo diante de condições crônicas, como hipertensão e diabetes, cada vez mais prevalentes nessa faixa etária. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% das pessoas idosas viverão com pelo menos uma condição crônica.
Para Dr. Sergio, o segredo está em uma abordagem centrada na pessoa. “O idoso pode ter doenças crônicas, mas isso não significa perder qualidade de vida. Com acompanhamento, hábitos saudáveis e suporte adequado, é possível envelhecer bem”, afirma.
A recomendação do geriatra é que a assistência à saúde do idoso não se concentre apenas na terceira idade, mas seja antecipada ainda na meia-idade. A prática regular de atividades físicas, a alimentação equilibrada, o controle de doenças, a vacinação em dia e o bem-estar emocional são elementos fundamentais. “A funcionalidade é um dos principais indicadores de saúde para essa população. Quanto mais autonomia preservada, melhor a qualidade de vida. Precisamos mudar o chip: sair do foco exclusivo na doença e reforçar a manutenção da saúde e da capacidade de viver com independência”, explica.
Nesse cenário, a saúde mental ocupa papel central, mas muitas vezes ainda recebe menos atenção do que deveria. O cuidado com transtornos como depressão e demência exige sensibilidade e abordagem contínua. O médico lembra que o estigma em torno dessas condições pode atrasar diagnósticos e dificultar o acesso ao tratamento. “A estratégia começa na atenção primária. Durante as consultas e visitas
domiciliares, as equipes estão preparadas para identificar sinais de alerta. O diálogo aberto com o idoso e sua família é essencial”, ressalta.
No caso da depressão, o tratamento costuma envolver terapia e, quando necessário, medicação. Já em situações de demência, como o Alzheimer, o diagnóstico precoce pode retardar a progressão da doença e melhorar significativamente o bem-estar. O acompanhamento deve ser contínuo e, quando indicado, encaminhamento a serviços especializados como os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial).
A evolução das políticas públicas voltadas ao envelhecimento também tem sido importante. Para o especialista, o Brasil tem avançado, mas ainda há um caminho a ser percorrido para consolidar ações mais estruturadas e integradas.
“Pensar nas políticas de saúde pública para o envelhecimento no Brasil é como ver uma planta crescendo: demos passos importantes, mas ainda temos galhos que precisam de mais força e cuidado para dar bons frutos”, compara. Um dos marcos mais relevantes é a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), que propõe uma atenção integral com foco na funcionalidade. “O olhar se expandiu para além da doença, passando a considerar a autonomia como um indicador-chave de saúde. As diretrizes dessa política falam sobre envelhecimento ativo, integração das ações de saúde, estímulo à participação social e garantia de recursos para o cuidado”, complementa o especialista.
Linha de Cuidados da Saúde do Idoso
O CEJAM tem investido na consolidação de modelos de cuidado voltados à pessoa idosa, com foco em prevenção e promoção da qualidade de vida. Em unidades de saúde sob sua gestão, a “Linha de Cuidados da Saúde do Idoso” articula ações que vão desde o monitoramento clínico até o estímulo à participação social, passando por avaliações amplas e orientações contínuas sobre saúde física e mental.
O programa se baseia em uma abordagem integrada e personalizada, com a realização de Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa (AMPI), rastreamento de condições prevalentes, imunização, orientação sobre hábitos saudáveis e prevenção de quedas. Ações de promoção da saúde mental, como rodas de conversa, grupos terapêuticos e escuta qualificada, também fazem parte da rotina. O acompanhamento inclui, ainda, visitas domiciliares e ações voltadas à saúde bucal, atividade física e fortalecimento de vínculos.
A UBS Jardim Maracá – administrada em parceria com a SMS-SP –, por exemplo, acompanha atualmente 4.815 idosos, o que representa 19% da população cadastrada na unidade. A gerente da UBS, Márcia Paschoaleto, explica que a proposta é promover um cuidado longitudinal e coordenado. “Acompanhamos o idoso com foco na autonomia e na prevenção. O trabalho integrado entre profissionais de diferentes áreas
e a conexão com os demais serviços da rede são fundamentais para garantir continuidade e qualidade no cuidado”, afirma.
Entre os resultados observados estão a melhora no controle de doenças crônicas, a ampliação da adesão aos tratamentos, a preservação da capacidade funcional e a detecção precoce de vulnerabilidades. A adoção de protocolos clínicos e o uso de sistemas de informação integrados também contribuem para a eficiência do modelo. “O cuidado centrado na pessoa, e não apenas na doença, tem feito a diferença na vida dos nossos pacientes”, conclui a gestora.