“Em breve, agentes de IA — nossa nova força de trabalho digital — estarão em toda parte, capazes de completar quase qualquer tarefa”, declarou Michael Dell na abertura do Dell Tech World 2025, em Las Vegas. Essa previsão está se tornando realidade conforme grandes empresas criam “seus próprios ChatGPTs” e os transformam em colegas de trabalho digitais que nunca descansam.
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Não se trata mais de saber se a IA chegará ao seu escritório, mas quando isso acontecerá. John Roese, diretor de tecnologia (CTO) da Dell, afirma que a fase de hesitação já passou — apenas sua empresa possui 3 mil clientes usando IA com sucesso. Do JPMorgan Chase, que colocou ferramentas de IA generativa nas mãos de 200 mil funcionários, à empresa de logística CSX, que usa IA para prever problemas de segurança em centenas de trens nos EUA, a mensagem é clara: a IA está se infiltrando em praticamente todas as funções empresariais.
“A IA já está se tornando uma comodidade, um insumo fundamental do qual todos precisam tirar proveito”, explica Gustavo Abib, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e estudioso de inteligência artificial. “Não é mais algo excepcional ao qual poucos têm acesso”.
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Conhecendo seus novos colegas digitais
Mas afinal, quem são esses trabalhadores que não respiram? Existem duas categorias principais que muitas vezes se misturam:
Humanos Digitais são representações virtuais criadas para interações humanizadas. Com visual, voz e reações geradas por IA, eles simulam comportamento humano para deixar usuários mais à vontade durante conversas. Imagine um avatar 3D que atende clientes com a naturalidade de uma pessoa real.
Agentes de IA são sistemas autônomos focados em eficiência e funcionalidade. Eles executam tarefas, tomam decisões e interagem de forma inteligente, sem necessariamente imitar aparência humana. O objetivo é resolver problemas de forma proativa, sem depender de comandos detalhados.
A “magia” acontece quando empresas mesclam ambos os conceitos, criando uma força de trabalho digital disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana.
“A era da IA é realmente sobre essa parceria entre humanos e máquinas”, esclarece Michael Shepherd, engenheiro sênior da Dell.
O lado brilhante da equação
Os números são impressionantes: a consultoria PwC estima que a IA fará a economia global crescer US$ 15,7 trilhões até 2030. Mas nem tudo é sobre lucro. Algumas empresas veem nesses trabalhadores digitais a solução para a escassez de mão de obra especializada.
“O volume de investimentos necessários para atingir as metas globais de sustentabilidade exige trilhões de dólares”, explica um porta-voz da Wärtsilä. “O desafio é que simplesmente não existem engenheiros suficientes no planeta para realizar esse trabalho. Por isso, estamos capacitando 50 mil pessoas a fazer o trabalho de 100 mil.”

O futuro do emprego: temor ou esperança?
As previsões sobre o impacto no mercado de trabalho são complexas. Segundo o Fórum Econômico Mundial (WEF), até 2030, cerca de 92 milhões de empregos podem ser substituídos, mas 170 milhões de novos postos serão criados — um saldo positivo de 78 milhões de vagas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais cauteloso, estimando que 40% a 60% dos empregos atuais serão impactados de alguma forma.
“Uma vez que uma organização implementar essa tecnologia de forma bem-sucedida, atividades que pessoas faziam vão desaparecer, e quem for deslocado terá que se requalificar rapidamente”, alerta Abib. “As novas profissões vão requerer esse lado mais humano, enquanto os agentes de IA vão tomar conta das profissões mais repetitivas”.
Os desafios ocultos da parceria
Nem tudo são flores nessa nova realidade. Leonardo Fernandes Nascimento, coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), levanta preocupações importantes sobre concentração de poder e novas formas de opressão no trabalho.
“A relação capital-trabalho vai ser modificada. Novas formas de opressão e controle do trabalhador vão surgir”, alerta. “As máquinas que vão ditar o ritmo do trabalho não cansam, não têm família. Se eu tenho um ‘colega digital’, eu devo desenvolver mais, devo entregar mais. Ele vai ditar como devo trabalhar — e aí temos um problema”.
Preparando-se para o inevitável
A corrida já começou, e as empresas que não se adaptarem podem ficar para trás. Mas Abib ressalta um ponto crucial.
“Para ter um caso de sucesso com IA, as empresas precisam, antes de tudo, de seres humanos. A base da competitividade está mudando. Se você conseguir atrair pessoas que integrem a inteligência artificial no trabalho mais rapidamente que os outros, você passa qualquer um”.
Os humanos digitais estão chegando — e eles não pedem pausas para o café. A questão não é se vamos trabalhar com eles, mas como vamos nos adaptar para prosperar nessa nova era de colaboração entre humanos e máquinas.
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