Entregadores por app enfrentam fome e exploração, revela Alerj

Rio de Janeiro – A fome ronda quem leva comida até sua porta. Uma audiência pública da Comissão de Segurança Alimentar da Alerj revelou que cerca de 30% dos entregadores por aplicativo no estado enfrentam dificuldades para se alimentar diariamente.

O dado vem de um estudo da ONG Ação da Cidadania que ouviu 1.700 trabalhadores do setor, a maioria jovens, negros e moradores das periferias, com rendimentos abaixo do salário mínimo por pessoa.

O perfil desses entregadores escancara uma triste realidade social: além de enfrentar jornadas exaustivas, a maioria depende de ganhos precários em um mercado que lucra bilhões com a precarização do trabalho. São homens que carregam nas costas a sobrevivência própria e de suas famílias, sem acesso garantido a direitos básicos.

Precariedade que mata de fome

O estudo, que abarca entregadores maiores de 18 anos de ambos os sexos, destaca a vulnerabilidade extrema dessa categoria. Com remuneração por corrida e ausência de benefícios, esses trabalhadores vivem um ciclo vicioso: quanto mais correm, mais fome sentem, mas a insegurança alimentar persiste. A fome não é só física, é o sintoma de um sistema que lucra com a exploração e negligência.

Os números assustam: 30% deles não têm garantia de fazer ao menos uma refeição nutritiva por dia. Essa situação não é exclusividade do Rio, mas reflete uma crise social que as grandes plataformas tentam varrer para debaixo do tapete. Para quem banca o delivery, sobra comida — para quem entrega, sobra fome.

O silêncio das plataformas

Na audiência da Alerj, as empresas de aplicativo foram convocadas, mas, claro, não deram as caras. Nem a iFood, maior player do setor, mandou representante. A comissão anunciou que vai agendar uma reunião específica com a empresa para pressionar por soluções reais, que incluam remuneração digna e garantia de direitos.

É mais do que necessário expor a face oculta desse “trabalho autônomo” que, na prática, se configura como exploração disfarçada. A precarização dos entregadores não é acidente, é política neoliberal que fatura às custas do suor e da fome alheia.

Impactos sociais e desdobramentos

A insegurança alimentar dos entregadores é sintoma de desigualdade social e da falência das políticas públicas de assistência e trabalho digno. Muitos deles vivem em periferias urbanas, onde o acesso a alimentos de qualidade já é um desafio. A soma da baixa renda, jornada exaustiva e ausência de amparo social cria uma espiral de pobreza e exclusão.

Além da fome, a condição precária impacta a saúde física e mental desses trabalhadores, agravando problemas que poderiam ser evitados com medidas simples, como piso salarial, jornada regulamentada e acesso a programas sociais.

O problema reverbera na democracia, pois evidencia como o sistema econômico atual exclui e precariza segmentos vulneráveis, jogando-os na margem da sobrevivência mínima.


O Carioca esclarece

Quem são os entregadores por aplicativo?
São trabalhadores que fazem entregas rápidas, principalmente de comida, utilizando plataformas digitais para conectar clientes e restaurantes.

Por que enfrentam insegurança alimentar?
Porque recebem valores muito baixos, sem garantia de salário fixo, jornada regulamentada ou benefícios sociais.

Como essa situação afeta a democracia e os direitos?
A precarização e a fome geram exclusão social e enfraquecem a cidadania plena desses trabalhadores, negando direitos básicos previstos na Constituição.

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