Nova Iguaçu – A Cedae vai parar duas de suas principais unidades de produção de água na Baixada Fluminense para realizar manutenções nesta terça (27) e quinta-feira (29). A ação afeta diretamente moradores de Japeri e Nova Iguaçu, onde o fornecimento será temporariamente interrompido, em plena aproximação do inverno — período crítico para comunidades com histórico de abastecimento irregular.
ETA Japeri: limpeza com corte total no fornecimento
No dia 27 de maio (terça-feira), entre 8h e 17h, será feita a limpeza estrutural da Estação de Tratamento de Água (ETA) Japeri. Segundo a Cedae, será necessário interromper completamente a produção de água durante todo o período da manutenção. Não foi informado com clareza quando o abastecimento será normalizado nas casas dos moradores após a retomada da produção.
Represa Tinguá: medidor novo, população no escuro
Na quinta-feira (29/5), das 6h às 18h, será a vez da represa Tinguá, em Nova Iguaçu. O objetivo é instalar um macromedidor, espécie de hidrômetro de grande porte que calcula o volume total de água transportado. A Cedae justifica a obra como um passo no controle de perdas e modernização do sistema, mas não detalha quais bairros serão afetados, por quanto tempo e de que forma a população será orientada.
A concessionária Águas do Rio, responsável pela distribuição nas regiões atendidas pelas unidades da Cedae, foi comunicada oficialmente. A empresa, porém, não publicou até o momento nenhum mapa de áreas impactadas ou cronograma de retomada do serviço. A falta de transparência acende o alerta para comunidades que já enfrentam problemas crônicos no acesso à água tratada.
A conta da transição: estatal faz o serviço, privada distribui
As intervenções da Cedae reforçam o paradoxo atual do saneamento básico no Rio de Janeiro: a produção de água segue nas mãos da estatal, enquanto a distribuição foi privatizada em 2021. Com a fragmentação do sistema, a comunicação entre as partes nem sempre é eficiente — e quem paga o preço, como de costume, é o povo.
A falta de clareza sobre os impactos, aliada ao histórico de desigualdade hídrica nas periferias da Baixada, levanta questionamentos sobre a eficiência real da concessão, que prometia investimentos e universalização do serviço. Como mostrou o Diário Carioca em outras ocasiões, moradores de regiões como Belford Roxo e Duque de Caxias ainda enfrentam longos períodos sem água, mesmo após o avanço da privatização.
Água encanada, mas não garantida
O uso do macromedidor pode ajudar na identificação de perdas, mas não resolve o problema central: a precariedade da distribuição e a falta de manutenção contínua das redes. Intervenções pontuais como essas revelam mais uma vez o modelo reativo que vigora nas políticas públicas de saneamento no Brasil.
Enquanto isso, moradores da Baixada precisam fazer estoques improvisados, comprar água mineral, ou simplesmente enfrentar dias sem acesso ao mínimo essencial — realidade que expõe a falácia da água como bem garantido no país.
A promessa de melhorias segue no papel. E a água, no cano — mas longe da torneira.
O Carioca esclarece
O que a Cedae vai fazer nas unidades da Baixada?
Na ETA Japeri, será feita a limpeza estrutural; na represa Tinguá, será instalado um macromedidor de vazão.
Quem será afetado pelas obras?
Moradores de Japeri e Nova Iguaçu, principalmente nas áreas atendidas diretamente pelas unidades. A extensão dos impactos depende da distribuição feita pela Águas do Rio.
Por que a obra pode afetar o fornecimento?
As manutenções exigem interrupções temporárias na produção de água, o que pode afetar o abastecimento doméstico até a normalização completa do sistema.
Como isso se relaciona com a privatização do saneamento?
A produção de água ainda é feita pela estatal Cedae, mas a distribuição é privada. Essa divisão gera falhas na comunicação e repasse de informações aos moradores.