Rio de Janeiro – Num país onde a desigualdade de gênero, raça e território parece uma sentença, um projeto ousa virar o jogo com sabedoria ancestral, pés na terra e olhar no futuro. A Escola de Mulheres e Bioeconomia ARTEMÍSIA vai formar 500 mulheres de comunidades periféricas do estado do Rio de Janeiro em empreendedorismo sustentável, autonomia financeira e resgate cultural. A proposta é tão revolucionária quanto simples: usar a bioeconomia como ferramenta de emancipação.
Bioeconomia com rosto, cor e território
Esqueça o jargão corporativo que transformou “sustentabilidade” em bordão de marketing. Aqui, o conceito ganha corpo nas mãos de mulheres negras, periféricas e com deficiência — aquelas que sustentam comunidades inteiras e quase nunca têm vez nas políticas públicas.
Com foco em técnicas como produção de cosméticos naturais e cultivo de ervas medicinais, o projeto ARTEMÍSIA transforma o que antes era saber doméstico em instrumento político e econômico. Tudo isso com base numa formação interseccional e inclusiva, onde aprender sobre finanças é tão importante quanto discutir identidade e autocuidado.
Formação para autonomia e enfrentamento
A formação se estrutura em módulos que misturam prática e reflexão: bioeconomia, empreendedorismo, comunicação, finanças, autocuidado e valorização das raízes culturais. O processo formativo não mira só o mercado, mas o empoderamento coletivo. Porque não basta sobreviver — é preciso existir com dignidade.
A ação será implementada em dez territórios fluminenses historicamente negligenciados pelo poder público: Belford Roxo, Cabo Frio, Guaratiba, Magé, Mesquita, São Gonçalo, Paciência, Duque de Caxias e Nova Iguaçu. Locais onde a precariedade é cotidiana, mas a potência comunitária pulsa em cada esquina.
Saberes tradicionais como tecnologia social
O projeto está alinhado às Soluções Baseadas na Natureza (SBN), reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) como formas eficazes de combater as mudanças climáticas e fortalecer comunidades. Ao valorizar saberes como fitoterapia, agricultura urbana e produção artesanal, a ARTEMÍSIA mostra que o futuro pode – e deve – ser desenhado com as ferramentas do passado.
Cada detalhe reforça esse compromisso: os materiais utilizados seguem princípios ecológicos e a identidade visual, assinada por Camilla Muniz (referência em marcas como Fábula e Granado), conversa com a estética periférica e a sensibilidade do cuidado.
Uma aliança por justiça social
A iniciativa é resultado de uma articulação entre o Instituto BR, o Sebrae-RJ e a Universidade Federal Fluminense (UFF), reunindo expertise técnica, articulação institucional e legitimidade acadêmica.
Com atuação em diversos estados brasileiros, o Instituto BR se destaca na criação de projetos voltados à economia criativa, empreendedorismo e sustentabilidade, com destaque para iniciativas como Prospera, Portas Abertas, LAB Cidades Criativas e o próprio ARTEMÍSIA.
Neste caso, o foco não está apenas em “gerar renda” — mas em criar espaços de existência para mulheres que historicamente foram silenciadas. É sobre disputar o presente com ferramentas ancestrais e plantar um futuro onde a justiça social brote desde a raiz.
O Carioca esclarece
O que é o projeto ARTEMÍSIA?
É uma iniciativa de formação em bioeconomia voltada a 500 mulheres periféricas do Rio de Janeiro, com foco em empreendedorismo, saberes tradicionais e autonomia financeira.
Por que a bioeconomia é estratégica para mulheres periféricas?
Porque permite aliar geração de renda, preservação ambiental e valorização de práticas culturais muitas vezes invisibilizadas, fortalecendo a autonomia individual e coletiva.
Quais os impactos sociais do projeto?
O ARTEMÍSIA contribui para enfrentar a desigualdade de gênero, raça e território ao oferecer ferramentas concretas de emancipação a mulheres em situação de vulnerabilidade.
Como isso se conecta à democracia e aos direitos humanos?
Ao garantir acesso a conhecimento, renda e redes de apoio, o projeto fortalece a participação social dessas mulheres e combate a marginalização sistêmica.