Uma ruptura histórica no coração da África Ocidental
Brasília — Em um movimento que reverbera pelos corredores do poder global, Mali, Burkina Faso e Níger romperam com a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e fundaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES). Essa decisão marca uma virada na política africana, desafiando a influência francesa e buscando uma nova era de soberania regional.
A AES, estabelecida em setembro de 2023, surge como resposta à intervenção da Cedeao após o golpe no Níger. Os três países, agora liderados por juntas militares, veem a nova aliança como um passo em direção à autonomia e à resistência contra o neocolonialismo.
Lideranças militares e o retorno ao pan-africanismo
No Mali, o coronel Assimi Goïta assumiu o poder em 2021 após dois golpes consecutivos. Recentemente, foi respaldado por aliados políticos para permanecer como presidente por mais cinco anos, consolidando seu controle sobre o país.
Em Burkina Faso, o capitão Ibrahim Traoré, de 37 anos, tornou-se uma figura central no renascimento do pan-africanismo. Inspirado por Thomas Sankara, Traoré promove uma política anti-imperialista, expulsando tropas francesas e buscando parcerias estratégicas com a Rússia.
No Níger, o general Abdourahamane Tchiani lidera o país desde 2023, após depor o presidente eleito Mohamed Bazoum. Tchiani foi empossado como presidente para um período de transição de cinco anos, sob uma nova carta constitucional que substitui a anterior.
Descolonização econômica e rejeição ao franco CFA
Uma das ações mais simbólicas desses governos foi o abandono do franco CFA, moeda herdada do período colonial francês. A rejeição ao franco CFA representa uma tentativa de romper com a dependência econômica da França e estabelecer políticas monetárias soberanas.
Além disso, os países têm nacionalizado recursos naturais e buscado diversificar suas parcerias internacionais, especialmente com nações como a Rússia, visando fortalecer suas economias e reduzir a influência ocidental.
Desafios internos e críticas internacionais
Apesar das intenções de autonomia, os governos enfrentam críticas por práticas autoritárias. Em Burkina Faso, por exemplo, há denúncias de repressão à imprensa e conscrição forçada de dissidentes. Financial Times
No Mali, a extensão do mandato de Goïta gerou protestos e preocupações sobre a consolidação do poder militar. No Níger, a dissolução de partidos políticos por Tchiani levanta questões sobre o futuro da democracia no país.
Senegal: uma exceção democrática?
Enquanto Mali, Burkina Faso e Níger seguem sob regimes militares, o Senegal apresenta um caminho diferente. Em 2024, Bassirou Diomaye Faye foi eleito presidente após eleições tumultuadas, marcadas por protestos e suspensão temporária do pleito.
Faye, associado ao partido de oposição PASTEF, representa uma esperança para a democracia na região, embora enfrente desafios significativos para implementar reformas e consolidar seu governo.Time
O Carioca esclarece
Quem são os líderes atuais desses países?
- Mali: Assimi Goïta, no poder desde 2021, recentemente respaldado para permanecer como presidente por mais cinco anos.
- Burkina Faso: Ibrahim Traoré, assumiu após golpe em 2022, promovendo políticas anti-imperialistas e parcerias com a Rússia.
- Níger: Abdourahamane Tchiani, lidera desde 2023, com mandato de transição de cinco anos e dissolução de partidos políticos.
O que é a Aliança dos Estados do Sahel (AES)?
A AES é uma confederação formada por Mali, Burkina Faso e Níger, estabelecida em setembro de 2023, com o objetivo de promover a defesa mútua e a soberania regional, em resposta à intervenção da Cedeao.
Quais são as implicações dessas mudanças para a região?
As ações desses países desafiam a influência tradicional da França e de outras potências ocidentais na África Ocidental, podendo inspirar movimentos semelhantes em outras nações e alterar o equilíbrio geopolítico na região.