World Press Photo escancara horrores e resistências globais

Rio de Janeiro – O horror da guerra em Gaza, o orgulho clandestino na Nigéria, a Amazônia agonizando sob a seca. A World Press Photo 2025 estreia na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, de 27 de maio a 20 de julho, com 42 projetos fotográficos de impacto brutal.

A mostra é um soco no estômago do mundo, mas também um respiro de beleza crua diante do caos. Com registros de fotógrafos de 31 países, a exposição traz o que há de mais urgente, comovente e politicamente incômodo na fotografia jornalística global.

Entre os destaques, a imagem eleita Foto do Ano: uma criança palestina amputada após bombardeios em Gaza. É o tipo de registro que nenhuma manchete dá conta de contar — e que nenhum algoritmo pode esconder. Há ainda retratos de protestos na Geórgia e em Myanmar, desastres climáticos no Brasil, Peru e Filipinas, e até uma celebração LGBTQIAPN+ em Lagos, Nigéria, feita às escondidas para evitar a repressão estatal.

Fotografia que denuncia e resiste

Três nomes brasileiros ocupam lugar de destaque: Amanda Perobelli, Anselmo Cunha e André Coelho. Este último foi reconhecido por um trabalho inusitado: a torcida do Botafogo. A princípio leve, o projeto se revela um ensaio potente sobre pertencimento, fé coletiva e felicidade possível em meio ao colapso — como afirma o curador da mostra, Raphael Dias e Silva:

“A imagem do André mostra como o esporte pode ser um espaço de reconstrução afetiva. Em 2025, isso vale ouro.”

A presença brasileira vai além dos autores nacionais. O fotógrafo Musuk Nolte, do México, retratou a seca brutal na Amazônia. Já o francês Jerome Brouillet registrou Gabriel Medina, símbolo de resistência e disciplina no esporte, em um ensaio que recusa o clichê da vitória individual para mergulhar no corpo como território político.

Entre migrações, tragédias e orgulho escondido

A mostra traz ainda registros devastadores dos efeitos da mudança climática, do aumento dos fluxos migratórios, e das violações de direitos humanos que já não cabem nos relatórios da ONU. Há fotos feitas no Quênia, El Salvador, Haiti, e um retrato delicado de um homem trans de 21 anos nos Países Baixos, tentando existir num mundo que ainda nega seu direito de ser.

Outro ponto alto é a imagem do ugandense Tamale Safale, o primeiro atleta com deficiência a competir oficialmente com atletas não deficientes em seu país. Uma quebra de barreira simbólica e institucional que desafia o capacitismo global.

“A ideia é que a mostra provoque. Não é para ser confortável. É para fazer pensar e, quem sabe, agir”, reforça Raphael Dias e Silva.

Acesso garantido para todos

A exposição na Caixa Cultural RJ – Unidade Passeio é gratuita e acessível. Haverá visitas mediadas com Libras, além de audiodescrição para todas as imagens. A iniciativa amplia o alcance da arte como ferramenta de denúncia e inclusão.

Após o Rio, a World Press Photo segue para São Paulo e estreia pela primeira vez em Curitiba e Salvador.

Endereço: Rua do Passeio, 38 – Centro, próximo ao metrô Cinelândia
Período: 27 de maio a 20 de julho de 2025
Classificação etária: 12 anos
Contato: (21) 3083-2595 / caixacultural.gov.br


O Carioca esclarece

O que é a World Press Photo?
É a principal mostra de fotojornalismo do mundo, reunindo imagens premiadas por seu impacto visual e relevância política e social.

Por que a criança palestina foi eleita “Foto do Ano”?
Porque sintetiza a brutalidade do conflito em Gaza através de um corpo infantil dilacerado — imagem que transcende discursos e estatísticas.

Qual o papel da fotografia diante da crise climática e das guerras?
Denunciar, documentar e chocar. A imagem permanece onde o noticiário silencia e a política fracassa.

Como a exposição promove acessibilidade e inclusão?
Com visitas guiadas em Libras e audiodescrição, garantindo que todas as pessoas possam acessar o conteúdo com autonomia e dignidade.

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