O banco BMG usou na Justiça um comprovante de saque feito de forma fraudulenta para justificar cobranças efetuadas sobre uma aposentada que se queixou de descontos indevidos para pagar a fatura de um cartão de crédito consignado.
O processo judicial correu em 2023. Nele, o banco afirmou que Maria do Carmo Gonçalves Lara, de 77 anos, não só contratou o crédito consignado como fez saque no valor de R$ 287,83.
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Em um áudio obtido pelo Metrópoles, um funcionário da empresa Balcão das Oportunidades, correspondente do BMG, ofereceu essa mesma quantia a ela como se fosse um valor a ser estornado por causa de uma falha do banco.
Após ser confrontado com a gravação, o BMG afirmou repudiar a abordagem, suspendeu o contrato com o correspondente e disse que sua ouvidoria entrará em contato com a aposentada.
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Áudios obtidos pela reportagem mostram como a Balcão das Oportunidades, que é citada na operação da Polícia Federal (PF) contra o esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias, enganou aposentados para obter a confirmação de seus dados e declarações de aceite para fraudar desde empréstimos consignados até filiações a associações envolvidas na farra do INSS, revelada pelo Metrópoles.
A empresa Balcão das Opostunidades se apresenta como correspondente do BMG. Nas ligações, os atendentes dizem ser do próprio banco. Primeiro, afirmam ao aposentado haver uma quantia devida pela instituição financeira e que ele precisa confirmar seus dados para que seja feito o depósito.
Depois, essa gravação é editada para construir um diálogo falso segundo o qual o aposentado aceita se filiar a uma associação da farra do INSS ou mesmo contratar um cartão de crédito consignado. Em ambos, os descontos são feitos direto no contracheque. O modus operandi foi revelado por um ex-funcionário da empresa, que também deu acesso às gravações da prospecção de aposentados.
O Metrópoles não obteve acesso às versões editadas dessas gravações, mas identificou no caso da Maria do Carmo que a aposentada aceitou o suposto estorno achando que receberia um depósito devido pelo banco e acabou sendo cobrada pelo BMG no mesmo valor, como se ela tivesse contraído um empréstimo consignado.
BMG suspende contrato
Procurado pelo Metrópoles, o BMG afirmou que “repudia, com veemência, a abordagem contida no áudio” enviado pela reportagem e “reforça que a conduta do correspondente bancário não condiz com as práticas determinadas pelo banco”. “Diante do ocorrido, o BMG informa a suspensão imediata do Balcão das Oportunidades como correspondente do banco e da corretora de seguros para averiguação dos fatos”, afirma.
O BMG diz que “jamais firmou qualquer acordo de exclusividade com o Balcão das Oportunidades” e que “reafirma seu compromisso com a integridade dos processos e com a proteção de seus clientes, tendo aprimorado a formalização de todas as suas operações e todos seus contratos nos últimos anos”.
“O processo atualmente inclui checagens com uso de biometria, prova de vida e geolocalização para assegurar que os clientes estão cientes e concordam com a contratação de produtos e serviços do banco. Por fim, o BMG informa que sua Ouvidoria entrará em contato com a cliente Maria do Carmo Gonçalves Lara”, conclui.