O ex-diretor da Polícia Federal (PF) Márcio Nunes afirmou, em depoimento nesta terça-feira (27/5), que o então ministro da Justiça, Anderson Torres, pediu que as forças de segurança atuassem no segundo turno das eleições de 2022 com o mesmo ímpeto adotado no primeiro turno, que consolidou a disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.
Nunes foi ouvido como testemunha de defesa de Torres no processo que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado. A audiência é conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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O ex-chefe da PF durante o governo Bolsonaro destacou que, entre os dois turnos, Torres convocou uma reunião com representantes da segurança pública para reforçar que as ações adotadas no primeiro turno deveriam ser mantidas no segundo, uma vez que não haviam sido registrados problemas relacionados à segurança eleitoral.
“Participei, sim, de várias reuniões. Entre os [dois] turnos, a gente participou de uma reunião grande. O Anderson Torres repassou para que não esmorecessemos e continuássemos com o mesmo ímpeto. Eu e Caio Pellim éramos da parte operacional da PF”, relatou Nunes.
Ao ser questionado pela defesa de Torres se houve alguma conversa sigilosa ou direcionada a atrapalhar o deslocamento de eleitores, Nunes foi categórico: “Desconheço”.
Papel de Anderson Torres
Ao denunciar Anderson Torres, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal integrou uma organização criminosa desde junho de 2021.
De acordo com a acusação, o grupo, que seria liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teria atuado nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e “utilizou violência e grave ameaça com o objetivo de impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor um governo legitimamente eleito”, descreveu o PGR.
O primeiro indício da participação de Torres na suposta trama, segundo Gonet, remonta a uma live de Bolsonaro em 2018, na qual o então ministro “contribuiu para a propagação de notícias inidôneas sobre o sistema eletrônico de votação”.
Com relação especificamente aos atos do 8 de Janeiro, Gonet apontou que Torres e outros integrantes das forças de segurança “revelaram descumprimento deliberado do dever que se lhes impunha, no âmbito das suas responsabilidades na segurança pública, de prevenir exatamente as barbaridades ocorridas”.
“A gravidade das informações que deixaram de ser compartilhadas confirma que houve omissão dolosa dos garantes da ordem pública, em prol do plano disruptivo da organização criminosa. Não cumpriram os deveres inerentes à responsabilidade de evitar os eventos danosos”, declarou o procurador-geral.
Anderson Torres nega todas as acusações.