Greta Thunberg desafia bloqueio de Israel e expõe impasse global sobre Gaza
Sicília, Itália – 8 de junho de 2025 – A ativista climática Greta Thunberg, o brasileiro Thiago Ávila e outros dez passageiros internacionais estão a bordo do barco Madleen, da Freedom Flotilla Coalition, que tenta romper o bloqueio naval israelense à Faixa de Gaza neste domingo (8). A missão humanitária partiu da Sicília, na Itália, rumo ao enclave palestino cercado por terra, ar e mar desde 2007. A travessia, no entanto, foi imediatamente confrontada por uma ameaça direta do ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, que prometeu interceptar a embarcação antes de sua chegada.
A bordo do Madleen também estão a deputada francesa Rima Hassan, de origem palestina, e o ator irlandês Liam Cunningham, conhecido por sua participação em Game of Thrones. O grupo busca entregar alimentos e chamar atenção internacional para o colapso humanitário em Gaza, onde 90% da população já foi deslocada e cresce o número de mortos por fome.
Israel classifica a missão como uma ameaça à segurança nacional e afirma que o bloqueio é fundamental para impedir o reabastecimento militar do Hamas. Katz foi categórico: “Não permitiremos que o bloqueio seja violado”. O recado, porém, é lido por juristas e ativistas internacionais como um sinal claro de criminalização da solidariedade civil.
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Interferência eletrônica e temor de ataque iminente
Segundo relato de Thiago Ávila, houve um episódio de interferência eletrônica nos sistemas de navegação do Madleen por cerca de 30 minutos na manhã deste domingo. O GPS da embarcação teria indicado, erroneamente, que o barco se encontrava no aeroporto da Jordânia — embora estivesse a 162 milhas náuticas de Gaza.
“Sabemos o que isso significa”, afirmou Ávila em vídeo divulgado nas redes sociais. “Quando eles começam a bloquear nossa comunicação e manipular os dispositivos, é porque estão se preparando para uma interceptação ou ataque.” Ele apelou por mobilização urgente para impedir “um novo crime de guerra”. A fala do ativista reforça a tensão diplomática causada pela ofensiva israelense contra alvos civis e humanitários.
Violação do direito internacional e silêncio das potências
O Comitê Internacional para Romper o Cerco a Gaza, com sede em Londres, declarou que qualquer tentativa de Israel de interceptar o Madleen “configura uma violação flagrante do direito internacional humanitário”. Segundo o comitê, o barco transporta alimentos básicos doados por civis italianos, como leite, arroz, barras de proteína e sucos.
A missão da Freedom Flotilla Coalition ocorre num momento em que Israel flexibilizou parcialmente a entrada de ajuda humanitária após meses de bloqueio total. Mesmo assim, organizações da ONU alertam para o risco de fome generalizada em Gaza. Ao menos 55 mil pessoas já morreram desde o início da ofensiva militar israelense em outubro de 2023, incluindo milhares por desnutrição e doenças evitáveis.
A nova investida da flotilha é a segunda tentativa recente de romper o cerco. Em maio, outro navio foi atingido por drones em águas internacionais, nas proximidades de Malta. A autoria do ataque foi atribuída a Israel.
Greta acusa Israel de “genocídio ao vivo”
Antes da partida, Greta Thunberg declarou que o silêncio da comunidade internacional diante da crise em Gaza equivale a assistir “a um genocídio transmitido ao vivo”. Sua presença na embarcação amplifica a repercussão global da missão, conectando a luta palestina a uma geração engajada em causas climáticas, antirracistas e anticoloniais.
Israel rejeita as críticas e insiste que tais acusações são “atos de antissemitismo disfarçado”, estratégia discursiva cada vez mais questionada por organizações judaicas progressistas e entidades internacionais de direitos humanos.
Guerra da comunicação: Israel mira corações e mentes
O cerco não é apenas físico. O bloqueio israelense a Gaza também atua no plano simbólico e comunicacional. Ao impedir que embarcações civis entrem com alimentos e testemunhos, Israel tenta controlar a narrativa sobre o que ocorre no enclave palestino.
O vídeo gravado por Thiago Ávila é um contragolpe nessa guerra de versões: “Ainda temos uma chance de salvar esta missão. Se a pressão internacional for suficiente, talvez eles não se atrevam a atacar. Mas precisamos agir agora”, disse.
O Carioca Esclarece
Por que o bloqueio a Gaza é considerado ilegal por juristas internacionais?
O bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza é visto por muitos especialistas como punição coletiva — prática proibida pelo direito internacional humanitário. Segundo a Convenção de Genebra, impedir a entrada de suprimentos básicos a uma população civil durante um conflito constitui crime de guerra.
O que a presença de Greta Thunberg muda na equação diplomática?
Greta é um símbolo global e sua participação conecta o cerco a Gaza a outras lutas transnacionais. Sua visibilidade pressiona governos ocidentais, especialmente europeus, a romper o silêncio diante dos abusos israelenses, sob risco de desgaste junto a suas próprias juventudes engajadas.
Qual o risco real de um ataque israelense à flotilha?
Alto. Israel já interceptou violentamente missões anteriores. Em 2010, um ataque ao navio turco Mavi Marmara resultou na morte de dez ativistas. A diferença agora é a presença de figuras públicas internacionais e cobertura midiática massiva, o que pode elevar o custo político de uma agressão.