Os mercados de câmbio e ações começaram a semana em ritmo de alta volatilidade. Nesta segunda-feira (9/5), o dólar fechou em queda de 0,14% frente ao real, cotado a R$ 5,56, mas chegou a bater em quase R$5,60 no pregão. O Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3) encerrou o dia com queda de 0,30%, aos 135.699 pontos, depois de ter caído mais de 1,46%, aos 134.118 pontos.
Os piores momentos do dia, tanto da alta do dólar quanto da maior queda do Ibovespa, ocorreram pela manhã e foram provocados pela divulgação de detalhes do acordo firmado entre o governo federal e líderes do Congresso, para substituir o aumento do IOF. Com o anúncio das medidas, feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite de domingo (8/6), o dólar subiu e a B3 afundou na abertura dos mercados.
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Na avaliação de Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, o Ibovespa foi pressionado pelas reações às propostas anunciadas pelo governo para substituir o aumento do IOF. “A queda, entretanto, foi sendo amenizada conforme as Bolsas de Nova York se recuperavam ao longo da sessão”, diz. “Isso com queda nos rendimentos dos Treasuries (os títulos da dívida americana) e algum otimismo enquanto se aguarda a evolução nas negociações entre os EUA e a China”. O avanço das ações das mineradoras e siderúrgicas também ajudou no afastamento do Ibovespa das mínimas da sessão, assim como a redução da queda inicial do setor bancário.
No caso das medidas do IOF, nota Nishimura, a proposta de taxar instrumentos antes isentos de Imposto de Renda (IR) como LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures incentivadas causou forte reação nos setores financeiro e imobiliário. “Isso além de deixar cada vez mais clara a falta de disposição do governo em discutir mudanças estruturais”, afirma. “Em outras palavras, o ajuste, mais uma vez, se faz pela busca de receitas, sem cortar gastos.”
Ceticismo
Para o analista, o dólar se valorizou ante o real, com o ceticismo quanto à efetividade e ao impacto fiscal das medidas anunciadas no domingo à noite. Ainda que o exterior tenha começado o dia com dólar fraco diante da reunião entre EUA e China, a aversão ao risco local prevaleceu, puxada pela ausência de medidas estruturais de corte de gastos e pela expectativa de resistências no Congresso.
No Ibovespa, destaca Nishimura, entre as poucas altas, o destaque ficou com a Gerdau, depois da melhora de recomendação feita pelo UBS para compra, com aumento do preço-alvo, com uma visão de que a companhia está bem-posicionada para se beneficiar de preços estruturalmente mais altos do aço nos EUA.
Cortes de gastos
“O mercado começou a semana reforçando um sentimento que já vem se cristalizando: o governo perdeu mais uma chance de apresentar um plano fiscal minimamente estruturante”, diz o analista. “No fim, a substituição do aumento do IOF por medidas arrecadatórias de curto prazo não responde à principal crítica do mercado, que é a ausência de cortes de gastos. O ruído político, com lideranças do Congresso exigindo PECs e resistindo às propostas, adiciona incerteza. A instabilidade nas negociações com o Congresso e a falta de visão de longo prazo só reforçam a percepção de que a Selic pode voltar a subir, um movimento que há poucas semanas parecia improvável.”