Buenos Aires, 10 de junho de 2025 — A Suprema Corte da Argentina rejeitou nesta terça-feira o último recurso da ex-presidente Cristina Kirchner, selando sua primeira condenação penal definitiva. Ela deverá cumprir pena de 6 anos de prisão por corrupção, acusada de liderar um esquema de favorecimento em contratos públicos durante seus dois mandatos (2007–2015).
“Perseguição política”: Cristina reage com apelo às ruas
A decisão unânime foi recebida por Cristina Kirchner na sede do Partido Justicialista, em Buenos Aires. Diante da notícia, a ex-mandatária classificou o veredito como um “pelotão de fuzilamento jurídico” e convocou seus apoiadores a “resistirem nas ruas”.
Poucas horas após o anúncio, grupos peronistas bloquearam avenidas e acessos à capital, erguendo cartazes com frases como “Cristina é o povo” e “Justiça a serviço do neoliberalismo”. As mobilizações cresceram principalmente nos arredores da Plaza de Mayo, onde militantes mantêm vigília desde as primeiras horas da manhã.
O que pesa contra Kirchner
O processo conhecido como “Causa Vialidad” envolve licitações públicas fraudulentas na província de Santa Cruz, reduto político dos Kirchner. Segundo o Ministério Público, Cristina liderou uma organização criminosa entre 2003 e 2015, favorecendo o empresário Lázaro Báez com contratos bilionários em troca de propinas e apoio político.
A condenação, confirmada por três instâncias, estabelece prejuízos estimados em US$ 1 bilhão aos cofres públicos. O tribunal considerou que as provas reunidas “demonstram de forma irrefutável a existência de um esquema estável e contínuo de corrupção”.
E agora? Prisão, regime domiciliar ou confronto?
Aos 70 anos, Cristina Kirchner poderá solicitar o cumprimento da pena em regime domiciliar, conforme previsto no Código Penal argentino para maiores de 70. Contudo, fontes próximas à defesa avaliam recorrer a instâncias internacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos, alegando perseguição política e lawfare.
Especialistas ouvidos pelo Diário Carioca apontam que o cumprimento da pena deve ser determinado nas próximas semanas, e que qualquer tentativa de escapar à prisão poderá inflamar ainda mais o cenário de polarização que domina o país.
Kirchner fora das urnas: impacto nas eleições de setembro
A condenação exclui Cristina das eleições legislativas de setembro. Para muitos analistas, isso representa uma reconfiguração do campo progressista argentino, até então polarizado entre o kirchnerismo e a ascensão da extrema direita representada por Javier Milei.
Segundo o jornal El País, a exclusão de Cristina do jogo eleitoral deve fortalecer ainda mais o bloco ultraliberal no Congresso, agravando o desmonte de políticas sociais e públicas.
Um país à deriva entre inflação e crise institucional
A decisão da Corte ocorre num momento de profunda instabilidade. Com inflação acima de 110% ao ano, retração econômica e demissões em massa no setor público, a Argentina vive um cenário de conflagração social que se agrava com a prisão da ex-presidente.
Sob o governo de Javier Milei, que promove cortes drásticos e privatizações em massa, o país enfrenta protestos quase diários. Para setores progressistas, a condenação de Cristina Kirchner atende a interesses de “neutralização da oposição popular” e tem apoio explícito de grupos ligados ao sistema financeiro e à direita internacional.
O Carioca Esclarece:
A pena de prisão contra Cristina Kirchner é definitiva, mas ela pode pedir regime domiciliar por ter mais de 70 anos. A Constituição argentina impede sua candidatura enquanto a condenação estiver vigente.
Entenda o Caso
Cristina Kirchner será presa imediatamente?
Não necessariamente. Como tem mais de 70 anos, poderá cumprir pena em regime domiciliar. A execução ainda depende de trâmites finais da Justiça Federal argentina.
Por que Cristina Kirchner foi condenada?
Ela foi acusada de liderar um esquema de corrupção em contratos públicos com o empresário Lázaro Báez, causando prejuízos bilionários entre 2003 e 2015.
Cristina poderá se candidatar novamente?
Não. A condenação a impede de ocupar cargos públicos enquanto estiver em vigor. Isso a exclui das eleições legislativas de setembro.
A condenação pode ser revertida?
Somente por via internacional. A defesa cogita recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos, mas o efeito seria apenas suspensivo, sem impacto imediato.