Virou meme a canção do musical Happy Feet (2006) em que um pinguim-imperador canta: “Não me empurra que eu já tô na beira”. O que parecia uma piada divertida se tornou um retrato da triste realidade desses animais, agora à beira da extinção.
Um novo estudo revelou que as populações de pinguins-imperadores na Antártida encolheram cerca de 25% entre 2009 e 2023. A informação vem de uma investigação que analisou imagens de satélite em altíssima resolução de dezenas de colônias para fazer um censo dos animais.
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Maior censo de pinguins da história
A pesquisa foi feita pelo British Antarctic Survey e publicada na Nature Communications Earth & Environment nesta terça-feria (10/6) foi focada na região entre 0° e 90° W, no polo sul extremo, onde está reunido mais de um terço da população global da espécie em 19 colônias.
Entre 1951 e 2000, a temperatura do ar aumentou até 2,8 °C em algumas partes da região. Além do calor, houve mudanças no padrão de gelo marinho influenciadas por fenômenos como El Niño. Isso alterou drasticamente o ambiente.
O estudo mostra a consequência das mudanças entre os pinguins: uma tendência de declínio acentuado com uma perda média anual de perda de 1,6% da população, totalizando 22% de redução ao longo de 15 anos.
A queda supera as estimativas anteriores. Estudos de 2009 a 2018 apontavam para uma redução de 9,5%’ no período. Segundo os autores, os novos dados indicam um ritmo de perda 50% pior do que o previsto por modelos climáticos anteriores.
Mudança climática acelera a extinção
A principal causa apontada pelos cientistas é a perda acelerada do gelo marinho. O derretimento do gelo afeta diretamente o local de reprodução dos pinguins, que dependem do chamado “gelo rápido” para incubar ovos e criar filhotes.
Entre 2022 e 2024, três anos consecutivos registraram níveis recordes de baixa no gelo marinho. Esses eventos provocaram falhas reprodutivas graves em várias colônias, com perda total de filhotes.
Segundo o estudo, os pinguins filhotes morrem ao cair no oceano antes mesmo de desenvolver suas penas impermeáveis, que lhes permitiria nadar.
Pinguins só colocam um ovo por estação, o que atrapalha suas possibilidades reprodutivas
Projeções apontam para extinção
Modelos de metapopulação indicam que, com altas emissões de gases de efeito estufa, quase todas as colônias de pinguins-imperadores desaparecerão até o final do século.
Estudos anteriores sugerem que, ao contrário de outras aves marinhas, os pinguins-imperadores não interrompem sua reprodução em anos desfavoráveis. A maioria das espécies “guarda” os ovos quando vê que o clima não é favorável ao desenvolvimento.
Com apenas um ovo por estação e baixas taxas de sobrevivência juvenil, a espécie se torna altamente vulnerável.
Monitoramento remoto sobre pinguins
Durante décadas, o ciclo de reprodução dos pinguins-imperadores dificultou os estudos. A reprodução ocorre no inverno, com acesso terrestre ou aéreo limitado pela logística e pelo clima extremo da Antártida.
Somente com o uso de satélites de alta resolução, a partir de 2009, foi possível realizar estimativas globais de sua população. A primeira avaliação indicava cerca de 238 mil pares reprodutores. Estudos posteriores revisaram esse número para 258 mil, mas desde então o número tem caído.
Os pesquisadores vêem a possibilidade de que os pinguins se desloquem para áreas mais frias no futuro, evitando a costa. No entanto, não há garantias de que encontrarão condições adequadas à reprodução nessas regiões.
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