Rio de Janeiro, 12 de junho de 2025 — A Estrada do Monteiro, importante via de ligação de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ficará parcialmente interditada até 12 de julho. Segundo o Centro de Operações da Prefeitura (COR), a medida é necessária para obras de drenagem. Mas moradores e trabalhadores da região não foram ouvidos, e o impacto sobre o trânsito, comércio e serviços essenciais levanta dúvidas sobre a real eficiência do planejamento urbano na cidade.
De acordo com o comunicado oficial, os bloqueios acontecem de segunda a sábado, das 7h às 17h, entre a Rua Seabra e a Rua Jequitaí, em trechos de 50 metros. A faixa da direita, no sentido Avenida Brasil, será ocupada por máquinas e trabalhadores. A obra teve início nesta quinta-feira (12) e consta em portaria publicada no Diário Oficial do Município de 11 de junho.
Embora a intervenção seja apresentada como parte da manutenção da rede de drenagem, o Diário Carioca apurou que a medida também serve como contenção emergencial de alagamentos provocados por falhas estruturais na região — algo pouco divulgado pela prefeitura.
Moradores desconfiados e comerciantes em alerta
“É sempre a mesma coisa. Vem a obra, promete resolver, e a gente continua alagando com qualquer chuva forte”, critica Sandra Oliveira, comerciante há 22 anos na região. Muitos lojistas temem a queda no movimento em pleno inverno, quando os lucros já são menores. “Tem que fazer, mas por que não planejar direito, ouvir a gente antes?”, completa.
A ausência de audiências públicas ou canais participativos expõe um vício estrutural na gestão da cidade: a invisibilidade da Zona Oeste diante das decisões do poder central. Mesmo sendo a região mais populosa do Rio de Janeiro, Campo Grande segue marginalizada em termos de transparência, orçamento e infraestrutura.
Falta de aviso prévio e risco de caos
Outro ponto crítico é a comunicação: poucos moradores sabiam com antecedência da obra. O aviso oficial foi publicado em Diário Oficial apenas um dia antes do início da interdição. Nas redes sociais, usuários questionam a ausência de campanhas informativas locais. Nem faixas visíveis nem carros de som foram utilizados. “Quem lê o Diário Oficial?”, pergunta Carlos Ramos, motorista de aplicativo. “Só soube porque dei de cara com a interdição.”
O COR informa que será instalada sinalização temporária e que veículos de moradores, ambulâncias e serviços de emergência terão passagem liberada. No entanto, não há qualquer garantia de que o trânsito — já crítico na região nos horários de pico — não se torne um verdadeiro pesadelo.
Crise hídrica e drenagem: problemas maiores à vista
A justificativa técnica da obra — melhorar a drenagem — traz à tona uma crise maior: a negligência histórica com a infraestrutura hídrica da Zona Oeste. A região sofre há décadas com enchentes recorrentes, agravadas pelo crescimento desordenado e pela falta de manutenção das redes de escoamento. Especialistas apontam que obras paliativas, como a atual, não resolvem o problema de fundo.
Segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) de 2024, apenas 11% dos investimentos em infraestrutura urbana no Rio de Janeiro foram destinados à Zona Oeste na última década — apesar de ela concentrar mais de um terço da população carioca.
Fique Ligado
Por que a Estrada do Monteiro foi interditada?
A via foi parcialmente bloqueada para obras de drenagem. A justificativa oficial é conter alagamentos, mas há críticas sobre falta de transparência e planejamento.
Quais são os horários da interdição?
Das 7h às 17h, entre segunda e sábado, até o dia 12 de julho. A faixa da direita, no sentido Avenida Brasil, será ocupada.
Quem pode passar mesmo com a interdição?
Moradores, ambulâncias e veículos de emergência terão acesso liberado.
Qual o impacto esperado no trânsito?
Alto. A Estrada do Monteiro é uma das principais vias da Zona Oeste e o fluxo já é intenso mesmo sem interdições.
A obra vai resolver os problemas de alagamento?
É improvável que resolva de forma definitiva. Especialistas apontam que a região precisa de obras estruturais de maior porte.