Em um cenário onde a rede privada domina as matrículas no ensino superior, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgados com dados do IBGE, revelam um fato curioso: a maior parte das pessoas que chegaram à pós-graduação no Brasil vieram da rede pública de ensino.
Conforme a pesquisa, 59,3% das pessoas que já cursaram especialização, mestrado ou doutorado no país estudaram exclusivamente em escolas públicas durante o ensino médio.
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A proporção é ainda maior ao olhar para todos que passaram pelo ensino superior, mesmo que não tenham concluído a graduação: nesse grupo, 72,6% também vieram da rede pública.
Esses números indicam que, apesar das desigualdades estruturais e das dificuldades enfrentadas no sistema educacional, a escola pública continua sendo a principal via de acesso à educação superior no país, inclusive aos níveis mais altos de formação.
Rede pública na base, privada no topo
A presença dominante da rede pública na formação básica contrasta com a predominância da rede privada nos níveis superiores.
Em 2024, 74,1% dos estudantes de graduação estavam em instituições privadas, segundo a mesma pesquisa. No caso da pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado), a concentração na rede privada foi ainda maior: 74,6% das matrículas.
Tal descompasso revela um dos principais empecilhos do sistema: embora a rede pública consiga formar estudantes para acessar a universidade, muitos acabam recorrendo à rede privada no ensino superior, muitas vezes por meio de bolsas, financiamentos ou programas como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Ainda assim, os dados reforçam a resiliência dos estudantes oriundos da escola pública, que mesmo com menos infraestrutura e apoio, seguem alcançando graus elevados de escolarização.
Educação como motor de mobilidade
A pesquisa do IBGE ainda evidencia que a média de anos de estudo da população de 25 anos ou mais chegou a 10,1 anos em 2024, a maior da série histórica. Apesar dos avanços, desigualdades de cor, raça e gênero ainda marcam o sistema educacional.
Entre as pessoas brancas, por exemplo, a média foi de 11 anos de estudo, enquanto pretos ou pardos chegaram a 9,4 anos. Já entre os sexos, as mulheres seguem à frente, com média de 10,3 anos, frente a 9,9 anos dos homens.
Diante desse cenário, a origem pública da maioria dos pós-graduados ganha ainda mais relevância: mostra que, mesmo com desigualdades históricas, a escola pública desempenha papel central na democratização do acesso ao conhecimento no Brasil.