São Paulo, 14 de junho de 2025 — A cada dez brasileiros, quase sete dizem que Jair Bolsonaro deveria desistir de disputar a presidência em 2026. É o que aponta uma nova pesquisa do Datafolha, que expõe de forma contundente o desgaste político do ex-presidente. Apesar de inelegível até 2030, Bolsonaro segue ensaiando discursos de pré-campanha e alimentando expectativas entre seus apoiadores — mesmo contra a vontade da maioria da população.
O levantamento, divulgado pela Folha de S.Paulo, mostra que 67% dos eleitores defendem que Bolsonaro abra mão da candidatura. Apenas 29% querem que ele mantenha o projeto de retornar ao Palácio do Planalto. Outros 4% não souberam ou preferiram não opinar.
A pesquisa ouviu 2.004 pessoas, com idade a partir de 16 anos, em 136 municípios de todo o país, nos dias 10 e 11 de junho de 2025, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A insistência no impossível
Mesmo condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, Bolsonaro segue repetindo que tentará se candidatar. A inelegibilidade vale até 2030, consequência direta dos ataques ao sistema eleitoral durante aquela famosa e golpista reunião com embaixadores em julho de 2022, e do uso eleitoreiro das comemorações de 7 de setembro daquele mesmo ano.
Mas as barreiras não param por aí. Fora do campo eleitoral, Bolsonaro também é réu por tentativa de golpe de Estado, no processo que apura a trama para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se condenado, sua situação se agrava ainda mais, podendo ficar fora das urnas não só até 2030, mas por um período ainda mais longo.
A direita sem rumo (ou sem nome)
Enquanto o ex-presidente insiste em se colocar como opção, a direita brasileira parece perdida. Até aqui, Bolsonaro não indicou um sucessor político, caso sua candidatura seja definitivamente barrada.
O modelo lembra a estratégia do próprio Lula em 2018, quando, preso pela Lava Jato, lançou sua candidatura para depois transferir os votos a Fernando Haddad, sob o slogan “Haddad é Lula”. A diferença é que, no campo bolsonarista, não há consenso sequer sobre quem poderia assumir esse papel.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é frequentemente apontado como sucessor natural, mas foge do debate presidencial e mantém discurso alinhado à fidelidade pessoal a Bolsonaro.
Onde Bolsonaro ainda resiste
De acordo com o Datafolha, a defesa de uma candidatura de Bolsonaro é mais expressiva entre:
- Eleitores que ganham entre 5 e 10 salários mínimos (42%)
- Evangélicos (40%)
- Moradores da região Sul (37%)
Por outro lado, a rejeição explode entre:
- Moradores do Nordeste (73%)
- Eleitores com menor escolaridade (73%)
- População mais pobre (72%)
- Mulheres (70%)
- Jovens de até 24 anos (70%)
Os números deixam claro que o bolsonarismo, embora ainda forte em nichos específicos, sofre um desgaste crescente e estrutural na sociedade brasileira.
Aliados ignoram os fatos — por enquanto
Apesar da realidade jurídica e dos números que evidenciam a rejeição popular, aliados continuam tratando Bolsonaro como “o nome natural da direita”. Uma estratégia que beira o negacionismo eleitoral — fingir que a ficha criminal e a inelegibilidade são meros detalhes burocráticos.
Mas, como mostra o levantamento, a paciência do eleitorado brasileiro parece estar no limite.
O Carioca Esclarece: O Datafolha é um dos institutos de maior credibilidade do país e seus dados costumam impactar diretamente as articulações políticas nos bastidores de Brasília.
O que você precisa saber
Por que Bolsonaro está inelegível até 2030?
Por decisão do TSE, que o condenou por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação em 2022, quando atacou o sistema eleitoral.
Se Bolsonaro está inelegível, por que ele fala em candidatura?
É uma estratégia política para manter sua base mobilizada, pressionar o judiciário e não perder protagonismo na direita.
Quem pode substituir Bolsonaro na direita?
Por enquanto, o nome mais citado é Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, mas ele evita se colocar como candidato.