Mapa da morte: os bairros onde a PM mais mata — e também mais morre — no Rio

Rio de Janeiro, 15 de junho de 2025 — O retrato da guerra urbana no Rio de Janeiro não surpreende mais ninguém, mas segue chocando. Um levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) revela, com precisão estatística, os bairros onde a Polícia Militar mais mata — e também onde seus próprios agentes mais morrem.

Entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, a PM foi responsável por 715 mortes em operações — vítimas que incluem suspeitos e civis inocentes. No mesmo período, 21 policiais foram mortos em serviço e outros 55 assassinados enquanto estavam de folga.

Jacarepaguá, na Zona Oeste, lidera o ranking pelo segundo ano seguido. Mas é na Zona Norte, nos bairros do Méier e de Irajá, que a lógica da guerra se expressa com ainda mais brutalidade: são territórios onde a PM mata muito — e também perde seus próprios agentes.

Onde a PM mais mata no Rio

Os dados do ISP apontam os cinco bairros com maior letalidade policial em 2024:

  1. Jacarepaguá – 73 mortes (8 a menos que em 2023)
  2. Irajá – 56 mortes (10 a mais)
  3. Rocha Miranda – 46 mortes (7 a mais)
  4. Bangu – 36 mortes (28 a menos)
  5. Méier – 33 mortes (6 a menos)

Apesar da leve queda em Jacarepaguá, bairros como Irajá e Rocha Miranda tiveram aumento expressivo nas mortes causadas por ações da polícia.

E onde a PM mais morre?

O risco também pesa contra os próprios agentes, sobretudo em regiões conflagradas da cidade. Confira os bairros onde mais policiais morreram em serviço entre 2023 e 2024:

  1. Méier – 2 policiais mortos
  2. Maré – 2 policiais mortos
  3. Leblon – 2 policiais mortos
  4. Santa Cruz – 1 policial morto
  5. Irajá – 1 policial morto

Os números podem parecer baixos, mas escondem uma tragédia ainda maior: no mesmo período, 55 policiais foram mortos fora do expediente, número que já chegou a 12 só em 2025, até agora. A Polícia Militar se recusa a divulgar onde esses assassinatos ocorreram.

Jacarepaguá: um campo de guerra sem fim

A liderança isolada de Jacarepaguá não é coincidência. O bairro se transformou num verdadeiro campo de batalha desde 2023, quando um racha entre milicianos de Rio das Pedras e traficantes do Comando Vermelho acendeu o pavio da violência.

O conflito começou na Gardênia Azul e rapidamente se espalhou por Praça Seca, Taquara, Freguesia, Tanque e Anil. A guerra é constante, com tiroteios diários, execuções e grandes operações policiais — que muitas vezes resultam em mais mortes de civis do que de criminosos.

Méier e Irajá: a face da violência na Zona Norte

A presença simultânea de Méier e Irajá nas duas listas — de onde a PM mais mata e mais morre — escancara a dinâmica cruel da segurança pública na Zona Norte.

Esses bairros estão cercados por comunidades dominadas pelo tráfico, como o Complexo do Lins, Complexo da Pedreira, Chapadão e Para-Pedro. Nessas fronteiras invisíveis, onde morro e asfalto se entrelaçam, qualquer operação policial vira guerra — e qualquer morador pode ser vítima.

Inocentes também estão nas estatísticas

Se a guerra atinge criminosos e policiais, sobra pouco espaço para quem só quer viver. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, só em janeiro de 2025, 17 pessoas foram baleadas por balas perdidas na Região Metropolitana do Rio.

Entre elas, Daniel Vitório Nascimento Moreira, funcionário terceirizado da Águas do Rio, morto no Complexo da Pedreira enquanto atravessava uma rua, no dia 11 de janeiro, durante um confronto entre PMs e traficantes.

Outro caso emblemático é de Herus Guimarães, de 24 anos, morto em 7 de junho durante uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete, após uma operação do Bope que deixou pelo menos cinco baleados — três deles, civis sem qualquer relação com o crime.

Policiais também são alvo fora do expediente

A guerra não dá trégua, nem para quem veste farda. No último dia 11, o cabo Uillian de Oliveira, de 44 anos, foi executado na porta de casa, em Magé, na Baixada Fluminense. Segundo testemunhas, ele foi seguido por criminosos. A Polícia Civil investiga se o crime foi retaliação.

No início do mês, o terceiro-sargento Cláudio Luiz, da UPP do Morro do São João, levou um tiro na cabeça durante um confronto na comunidade. Está internado em estado grave no Hospital Central da Polícia Militar, no Centro do Rio.

Uma guerra sem vencedores

O Diário Carioca reforça: os dados do ISP e da própria PM comprovam que a política de segurança pública no Rio de Janeiro segue baseada no confronto armado. Sem investimentos em políticas sociais, urbanização, educação ou geração de emprego, o ciclo da violência se renova ano após ano.

O resultado? Uma cidade onde bairros inteiros vivem sob fogo cruzado, onde crianças, trabalhadores e estudantes correm risco diário — e onde o Estado só aparece armado, mirando e atirando.

A guerra não tem vencedores. Tem apenas mortos — de um lado e de outro. E uma sociedade inteira que segue refém da repetição dos mesmos erros.


O Carioca Esclarece

O Instituto de Segurança Pública (ISP) e o Instituto Fogo Cruzado são as principais fontes públicas de dados sobre violência no Rio de Janeiro, frequentemente usadas por pesquisadores, jornalistas e organizações da sociedade civil.


Saiba mais

Quais bairros mais registram mortes por intervenção policial no Rio?
Segundo o ISP, os cinco bairros mais letais em 2024 são: Jacarepaguá, Irajá, Rocha Miranda, Bangu e Méier.

Por que Jacarepaguá lidera o ranking?
Por ser palco de uma guerra entre milicianos e traficantes do Comando Vermelho, com aumento de tiroteios e confrontos desde 2023.

O que explica a violência em Méier e Irajá?
Ambos fazem fronteira com áreas dominadas pelo tráfico, como o Complexo do Lins, Pedreira, Chapadão e Para-Pedro, onde ocorrem constantes operações policiais e disputas armadas.

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