As ocorrências policiais que levaram à morte de 246 suspeitos na cidade de São Paulo em 2024 terminaram com um único policial militar morto e nove feridos, de acordo com levantamento realizado pelo Metrópoles com base nos processos judiciais referentes a todos os casos.
O PM que morreu é o cabo Rahoney De Paula Vieira, do Comando de Operações Especiais (COE), que foi baleado por engano por colegas de farda na Vila Andrade em 29 de março do ano passado.
Ele estava de folga, quando decidiu abordar um motorista que estaria em atitude suspeita. Nesse momento, policiais em uma viatura que passava pelo local viram a cena e começaram a atirar, achando que se tratava de um assalto. Rahoney foi alvo de sete disparos. Ele foi socorrido, mas não resistiu.
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Um levantamento inédito do Metrópoles mostra que 85 pessoas mortas pela PM em 2024 na cidade de São Paulo não portavam arma de fogo. Foram mortas 246 pessoas no ano
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A PM deu pelo menos 459 disparos para matar 85 pessoas em ocorrências em que nenhum dos suspeitos portava arma de fogo no momento em que foram baleadas. O número de tiros representa uma média de 5,4 por ocorrência
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Um dos casos de maior repercussão foi o da morte do estudante de medicina Marco Aurélio Acosta, que estava desarmado
Arquivo pessoal4 de 10
Os pais do estudante, Júlio César Navarro e Silvia Monica Cardenas, prometem ir às últimas consequências por Justiça
Artur Rodrigues/Metrópoles5 de 10
Outro caso de pessoa desarmada Gabriel Renan Soares, baleado pelas costas por um policial de folga quando tentava furtar produtos de limpeza de um mercadinho
Material cedido ao Metrópoles6 de 10
Entre os mortos também está João Victor, que implorou para não morrer durante ação da PM
Arquivo pessoal7 de 10
O colombiano Michael Stiven Ramirez Montes foi morto com 25 tiros durante um surto, em um apartamento na região da Cracolândia
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O colecionador de armas (CAC) Marcelo Berlinck Mariano Costa atirou de dentro de uma cobertura em Pinheiros (bairro nobre de SP na zona oeste) e acabou preso pela PM sem ser baleado
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O governador Tarcísio de Freitas
Pablo Jacob/Governo de SP/Divulgação10 de 10
O secretário da Segurança, Guilherme Derrite, é conhecido pela exaltação à letalidade policial, o que especialistas afirmam que pode ter pesado nas estatísticas
Reprodução/Instagram
Entre os dez PMs que ficaram feridos nas ocorrências com morte no ano passado, oito foram baleados. Um deles foi atingido no colete, mas não se machucou. Dois policiais tiveram ferimentos não provocados por armas de fogo: um caiu do telhado durante luta corporal com suspeito e outro levou uma facada.
Nas ocorrências que resultaram nas 246 mortes, os PMs efetuaram mais de 1,7 mil disparos — pelo menos 1 mil em casos em que só a polícia atirou e 459 para matar vítimas não tinham armas de fogo. As informações estão na reportagem especial “A Política da Bala”, publicada na última terça-feira (10/6).
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O levantamento mostra que o número de PMs que mataram ao menos uma pessoa no período foi 403. Entre eles, há 19 policiais militares que mataram mais de uma vítima, em uma ou mais ocorrências. Dois agentes mataram três, e um único policial tirou a vida de cinco pessoas.
Terror na Baixada
Semanas antes de ser confundido e morto na zona sul de São Paulo, o cabo Rahoney De Paula Vieira se envolveu em uma ocorrência policial, em Santos, que também resultou em morte. O policial havia sido enviado para a Baixada Santista durante a Operação Verão, que tinha o objetivo de combater o crime organizado e acabou com 66 vítimas.
Em 9 de fevereiro do ano passado, o cabo e um colega ficaram escondidos em uma área de mata no Morro do São Bento e surpreenderam Leonel Santos e Jefferson Miranda, que estavam próximos a um ponto de venda de drogas. Rahoney deu sete tiros de fuzil.
Os policiais disseram que os suspeitos teriam atirado primeiro. A versão é questionada por familiares das vítimas, que argumentam que Leonel era deficiente físico e andava de muleta.
Testemunhas ouvidas pelo Metrópoles na época disseram que os PMs ainda teriam dificultado o socorro e que, quando elas foram retiradas da cena do crime, já estavam mortas.
Nove meses depois, em novembro, o menino Ryan, de 4 anos, filho de Leonel, foi morto pela Polícia Militar a poucos metros do local em que o pai foi assassinado.