Banco Mundial volta a financiar energia nuclear em países em desenvolvimento

 

Após mais de seis décadas de restrições, o Banco Mundial anunciou que voltará a financiar projetos de energia nuclear em países em desenvolvimento. A decisão marca uma virada histórica na política da instituição e visa a atender à crescente demanda por eletricidade com fontes de baixo carbono.

A mudança ocorre em meio à pressão do governo do presidente dos EUA Donald Trump, um defensor declarado da energia nuclear, e ao reposicionamento da Alemanha — historicamente contrária ao financiamento atômico. Em maio, a nova coalizão liderada pelo chanceler Friedrich Merz indicou que deixará de vetar os esforços da França para equiparar a energia nuclear às fontes renováveis na legislação da União Europeia.

Segundo memorando obtido pelo Financial Times, o Banco Mundial considera a medida essencial diante da previsão de que a demanda elétrica nos países em desenvolvimento dobrará até 2035. Para atender a esse salto, os investimentos anuais em geração, redes e armazenamento precisam saltar de US$ 280 bilhões para US$ 630 bilhões. O setor privado será vital nesse processo, mas exigirá suporte da instituição por meio de garantias, participação acionária e financiamento subsidiado.

Em comunicado enviado a funcionários, o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, afirmou que a instituição retomará sua atuação no setor nuclear em parceria com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O banco irá apoiar a extensão da vida útil de reatores existentes, melhorias em redes elétricas e investimentos em infraestrutura associada. O plano também inclui acelerar o desenvolvimento de pequenos reatores modulares (SMRs), para que se tornem viáveis para mais países.

A fundação do novo posicionamento é também geopolítica. Países como os Estados Unidos — maior acionista do Banco Mundial — veem o financiamento nuclear como um instrumento estratégico para enfrentar a crescente influência de gigantes estatais russas e chinesas. A Rosatom, da Rússia, por exemplo, está construindo usinas em países como Turquia, Irã, Bangladesh, China e Índia.

A energia nuclear, embora impopular após desastres como os de Fukushima (2011), Chernobyl (1986) e Three Mile Island (1979), voltou ao centro do debate climático por fornecer energia estável e sem emissões. Isso a torna uma aliada de fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica, especialmente diante da crise climática e do crescimento de tecnologias intensivas em energia, como a inteligência artificial.

O Banco Mundial, que não investia no setor desde 1959, rompe agora com o bloqueio histórico imposto por motivos políticos e preocupações com proliferação nuclear. A decisão pode influenciar outros bancos multilaterais, como o Banco Asiático de Desenvolvimento, a reverem suas posições.

Na esteira dessa mudança, o Banco Mundial reafirmou que continuará financiando fontes renováveis como solar, eólica, geotérmica, hidrelétrica e termelétricas a gás — desde que compatíveis com metas climáticas. Em 2023, mais de 30 países assinaram na COP28, em Dubai, um compromisso de triplicar a capacidade nuclear global até 2050 para atingir os objetivos do Acordo de Paris.

O movimento segue uma tendência mais ampla: no ano passado, o Banco Europeu de Investimentos também flexibilizou sua posição em relação à energia nuclear, após forte pressão de países produtores, especialmente a França.

Fonte: VEJA

 

 

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