Senhoras empresárias: pode dar certo? (por Eduardo Fernandez Silva)

Imaginem, senhoras e senhores, dirigentes de empresas e outras organizações, se suas entidades fossem gerenciadas por uns vinte ou mais diretores, cada um buscando alcançar seus projetos pessoais, e não metas comuns, definidas por quem de direito?

No Brasil, os três níveis da Federação são dirigidos assim: diversos diretores, cada qual buscando seus objetivos pessoais e não um projeto comum, definido por quem de direito, os eleitores! Não surpreende, pois, que há décadas permanecemos incapazes de resolver problemas básicos como pobreza, educação, segurança e habitação. Mas, dirão alguns crédulos, ou apaixonados pelo líder da vez: não é bem assim; o chefe escolhe sua equipe, define objetivos e coordena as ações! Como no antigo programa humorístico, “querias, querias…”, mas não é assim que se passa!

O que se passa é que quase todos e todas que são nomeados secretários municipais, estaduais ou ministros – ou “diretores” em seus respectivos níveis federativos! – tornam-se, ao assumiram tais funções, candidatos a algum cargo: vereadora, prefeita, governadora, deputada, presidente! Assim, suas prioridades são suas eleições, e não um projeto comum de governo. Que, aliás, raramente existe!

Assim, as verbas são usadas para promover suas candidaturas, o que explica o péssimo costume desses diretores de, em detrimento do todo, carrearam recursos para seus quintais e amigos, alguns destes dispostos a lhes ajudar nas campanhas e no enriquecimento pessoal! Na história do Brasil é difícil apontar um governo, do distrito ao Planalto, em que tais práticas não predominaram. Aliás, se algum “diretor” não atua dessa maneira, é chamado de otário, ou coisa pior!

Claro, há aqueles raros, raríssimos, que, sem interesse em permanecer na política, buscam dirigir suas áreas com competência, avaliação de ações e reconhecimento e correção dos inevitáveis erros. No entanto, essa rara maneira de conduzir a coisa pública, pelo contraste que evidencia, atrapalha aqueles que a dirigem como se fosse coisa privada, que são maioria e se organizam para afastar os primeiros.

Pior ainda. Como quase todos esses “diretores” são escolhidos com base numa composição política, indicados por partidos nem sempre aliados, o “chefe” – do distrito à Brasília -, tem receio de condenar essas práticas perversas e perder o precário apoio político. E o país continua sem resolver os problemas da sua população! Mesmo quando o “diretor” engana o chefe, com propostas aparentemente atraentes, mas inviáveis, este último acaba comprometido com aquela equivocada medida, e a mantém, prejudicando a população!

Como superar tal realidade? Proibir “diretores” de se candidatarem? Por quanto tempo? Impedir a “porta rotativa” entre legislativo e executivo, como nos EUA, onde para assumir cargo executivo legisladores devem renunciar aos seus mandatos? E quem fará as mudanças necessárias, já que são os legisladores que teriam que aprová-las? Pobres dos brasileiros….

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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