O 25 de Abril que falta (Por Miguel Esteves Cardoso)

E se os descobrimentos ainda estivessem por cumprir e se nos faltasse descobrir as pessoas que cá estão? E se, em vez de terras longínquas, nos faltasse agora descobrir pessoas?

Temos em Portugal uma riqueza muito mais maravilhosa do que qualquer conquista colonial: a riqueza de quem escolheu vir viver para o nosso país.

Não são só as riquezas culturais que os imigrantes trouxeram, mas riquezas individuais: cada imigrante é um português à beira de ser, um indivíduo como nenhum outro, alguém que pode ser a alegria de alguém.

E se o verdadeiro império fosse o império dos imigrantes? E se o verdadeiro império fosse o império da concórdia, e do respeito, e da festa? E se o verdadeiro império fosse o império da dignidade? E se o quinto império fosse o império dos indivíduos, dos pequenos, dos diferentes, dos bem-dispostos, dos espíritos abertos? E se o quinto império fosse uma sociedade multirracial e multicultural em que os valores comuns fossem a festa, a música, a comida, o vinho, o riso e a curiosidade?

Detesto fazer mais propaganda à Festa do Avante!, mas parece-me que a Festa do Avante! mostra um caminho para essa felicidade.

Temos aqui em Portugal – já temos, não é preciso ir a lado nenhum – uma riqueza enorme de pessoas com as quais podemos dançar, aprender, conspirar, ir para a frente, voltar para trás, fazermos tudo o que nos apetecer.

A sociedade portuguesa pode ser a primeira sociedade verdadeiramente moderna do nosso tempo. A maneira de resistir aos nossos defeitos – a nossa tacanhez, desconfiança, mediocridade, inveja – é cedendo preguiçosamente às nossas qualidades – à nossa abertura, à nossa tolerância, à nossa sinceridade, à nossa doçura, ao nosso sentimentalismo.

Somos um país de braços abertos. Só nos resta escolher quem abraçamos: não só aqueles que falam português, mas aqueles que vêm de países com os quais engraçamos. Somos muito abertos, muito internacionalistas, muito amistosos. Somos portugueses, porra!

(Transcrito do PÚBLICO)

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