Homem que ajudou fugitivos de Mossoró revela motivação: “Fui obrigado”

O mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, preso acusado de ajudar os dois presidiários que fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, falou pela primeira vez sobre o caso. O Fantástico conseguiu o depoimento prestado à polícia com exclusividade. O investigado confirmou que auxiliou Deibson Cabral Nascimento, o “Deisinho” ou “Tatu”, e Rogério da Silva Mendonça. 

“Estávamos eu, minha esposa e meu menino pequeno. Quando eram umas 11 para 12 horas, a gente estava quase dormindo e quando demos fé, invadiram a porta, entraram para dentro e pegaram eu e minha esposa. Eles disseram que se a gente não fizesse o que eles me mandassem, eles iam matar eu, matar minha família. Aí eu fui obrigado a ficar assim”, detalhou o homem em entrevista ao Fantástico. 


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Ele disse que foi abordado pelos dois fugitivos, os quais mandaram ele voltar para a casa em Baraúna e passar no sítio todos os dias com mantimentos para eles. No dia em que foi abordado pela polícia e falou que os fugitivos estavam na casa dele, Ronaildo ficou oito horas livre antes de prestar depoimento à Polícia Federal e passou no sítio para levar “mortadela e bolacha” para os foragidos.

A esposa do homem, Francisca Elizandra Miranda, também falou com os policiais. Segundo o relato dela, o marido recebeu R$ 5 mil “dos criaturas”. “Um deles pediu uma conta e falou ‘vou mandar R$ 5 mil para você. Você tire R$ 400, que foi a sua despesa, que eu acho que você gastou e o resto você deixe no mesmo local’”, explicou o mecânico.

A ligação supostamente seria de Gustavo, membro do comando vermelho que também mora na cidade. Segundo depoimento de Francisca, ele afirmou que mandaria “um dinheiro para entregar para os meninos”, que seriam os dois fugitivos.

O que dificulta recaptura de presos duas semanas após fuga em Mossoró

Nesta quarta-feira (28/2), completam-se duas semanas desde que dois detentos se tornaram os primeiros a escapar de uma prisão de segurança máxima no Brasil. Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró e desapareceram durante a madrugada de 14 de fevereiro. Embora centenas de policiais atuem no encalço dos criminosos, eles têm tido sucesso na fuga.De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, integram a força-tarefa 540 agentes federais — o que engloba a Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Força Nacional —, além de quadros das forças estaduais, como policiais civis e militares. Há ainda o apoio de drones, helicópteros e cães farejadores.

Os agentes, no entanto, são desafiados tanto pelas táticas adotadas pelos fugitivos quanto pelos obstáculos impostos pela natureza local. A região, como exposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, dificulta as buscas por contar com matas e cavernas, onde os detentos podem facilmente se esconder.

Além disso, as chuvas que atingiram a região apagaram os rastros dos fugitivos, que poderiam ser encontrados pelos cães farejadores. Somam-se às intempéries as estratégias adotadas pelos criminosos, que ameaçam e convencem moradores da região no sentido de conseguir ajuda com esconderijo e alimentos.

No início desta semana, a PF prendeu o dono de uma propriedade utilizada pela dupla para se esconder, na zona rural da cidade de Baraúna (RN). Como mostrou a coluna Na Mira, do Metrópoles, Ronaildo da Silva Fernandes, de 38 anos, é suspeito de fornecer abrigo e comida aos foragidos em troca de R$ 5 mil. Até o momento, a força-tarefa prendeu cinco pessoas.

Tempo é obstáculo

Michel Misse, professor de sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considera que, embora os detentos tenham utilizado técnicas por ora bem-sucedidas, é uma questão de tempo até que sejam encontrados.

“Eles conseguiram ganhar tempo. Houve um lapso grande entre descobrirem o que estava acontecendo e a fuga deles. Isso permitiu a eles ganhar distância”, avalia. “Quanto mais tempo passa, mais difícil fica para a polícia. A área vai aumentando: o que era um município passa a ser um estado, que passa a ser mais de um estado e vai aumentando.”

“Eles fazem reféns e ameaças, mas vão deixando indícios pelo caminho. Ao mesmo tempo que eles vão ganhando tempo, vão deixando rastros, e são esses rastros que vão ajudar a polícia a encontrá-los”, detalha. “A posição mais correta é tentar encontrá-los vivos para esclarecer tudo”, complementa o especialista.

A fuga

Deibson Cabral Nascimento, o “Deisinho” ou “Tatu”, e Rogério da Silva Mendonça escaparam da prisão de segurança máxima por volta das 3h30 de 14 de fevereiro. Os criminosos, que são integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV), fugiram por um buraco na parede de uma das celas.

Para a fuga, que é considerada a primeira desde a inauguração desse tipo de prisão no Brasil, os detentos utilizaram ferramentas da obra que ocorria na unidade prisional. As câmeras do local não capturaram o momento, porque não estavam funcionando.

A Penitenciária Federal de Mossoró foi inaugurada em julho de 2009 e fica em uma área rural no Rio Grande do Norte.

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