Campos Neto defende autonomia financeira do Banco Central

 

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu a autonomia financeira da autoridade monetária. Segundo ele, é preciso retirar o orçamento da instituição do Tesouro Nacional para que haja qualificação do quadro de funcionários.

Campos Neto afirmou que quase 90% dos países que têm autonomia operacional têm também autonomia financeira. Seria um “passo natural” tirar o orçamento do Poder Executivo.

Ele palestrou nesta segunda-feira (4) na reunião do Conselho Político e Social (Cops) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

A autonomia do Banco Central é operacional. Com mandatos de quatro anos, o presidente e os diretores do BC podem tomar decisões de política monetária com menos influência do Poder Executivo. Apesar disso, o orçamento da autoridade monetária está ligado ao governo federal.

Segundo Campos Neto, é preciso ter um orçamento próprio para o BC fazer melhorias no quadro de funcionários e no processo administrativo.

Campos Neto afirmou que o Banco Central fez, em 2021 e 2022, o maior ciclo de aperto monetário em período eleitoral entre todos os países emergentes. Salientou que “quem está lá sentado na cadeira sabe que não é fácil de fazer”, porque houve aumento de juros em período do pleito.

Segundo ele, o tempo da política monetária é diferente da política brasileira e por isso que a autonomia funciona. Disse que a autonomia operacional se mostrou muito positiva para o primeiro teste.

“A gente vê o BC cada mais inserido no mundo de tecnologia e digitalização, e é preciso ter um quadro com capacidade administrativa mais comparável ao setor privado”, disse Campos Neto. Ele afirmou que seria um avanço para o país.

Inflação e juros

Campos Neto relembrou do cenário de ciclo inflacionário pós-pandemia. Afirmou que o processo atual é de desinflação depois de alta dos juros nos países.

Avaliou que a inflação subiu durante a crise sanitária potencializada pelos preços dos alimentos e da energia. Posteriormente, ambos cederam e possibilitaram a desinflação. Ainda assim, os núcleos – que excluem os efeitos extraordinários – têm registrado uma queda “bem mais lenta”.

“A parte estrutural da inflação – o núcleo – ainda está bastante alto”, declarou Campos Neto. O presidente do BC disse que a velocidade da desinflação diminuiu, mas está convergindo para as metas. Afirmou que o Brasil foi um dos países que tiveram uma das quedas mais acentuadas no núcleo.

Um fator de preocupação é a inflação de serviços, porque, segundo Campos Neto, a mão de obra está “muito apertada no mundo inteiro”. “A parte (da inflação) de serviços está bastante alta, bem longe da média”, declarou.

Ele defendeu que o mercado de trabalho tem demostrado força – assim como em outros países – e os salários começaram a “pressionar” a inflação e serviços, mas que não tem “nada hoje que acende a luz vermelha”.

Campos Neto disse que quase todos os países do mundo têm expectativa de queda de juros, mas que ainda grande parte dos países não iniciou o ciclo de corte de juros. “A gente tem uma expectativa de queda maior de juros em países emergentes”, disse.

Campos Neto declarou que, mesmo com a expectativa de atraso no corte de juros dos EUA, os mercados estão “relativamente comportados”. Uma parte da explicação é o crescimento econômico ter surpreendido “para cima em vários lugares”.

Fonte: Poder360

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