A Petrobras, empresa brasileira de petróleo, impressiona pelo seu tamanho, seu imenso valor (mais de US$250 bilhões), sua importância na economia brasileira e sua enorme capacidade de ser vítima da ação dos políticos. Seu sucesso é seu fracasso. No governo Lula 2 foi descoberto o fabuloso pré-sal que vai da costa do Espírito Santo até a de São Paulo com cerca de 15 bilhões de barris de petróleo. Esta descoberta permitiu que o Brasil assumisse a oposição de importante exportador de petróleo. As necessidades do mercado interno foram atendidas, mas com o preço internacional.
No governo Dilma, a Petrobras foi para o centro do debate político por motivo inglório. Foi descoberto o rentável esquema de corrupção na petroleira. Diretores admitiram receber fortunas para beneficiar empresas que redistribuíam parte dos lucros para o Partido dos Trabalhadores. Em 2006, a Petrobras pagou 360 milhões de dólares por 50% da refinaria de Pasadena, no Texas. Em 2008, petroleira brasileira e a empresa belga de petróleo se desentenderam e uma decisão judicial obrigou a Petrobras a comprar a parte de sua sócia. A aquisição da refinaria de Pasadena acabou custando 1,18 bilhão de dólares à Petrobras, mais de 27 vezes o que a Astra teve de desembolsar. Foi o começo da história cabulosa.
A operação Lava Jato da Polícia Federal, a partir de março de 2014, apurou esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar mais de 10 bilhões de reais, montante que atualizado alcança mais de 20 bilhões de reais. Até abril de 2014, a operação envolveu 46 pessoas indiciadas pelos crimes de formação de organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro nacional, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e 30 presas, dentre elas o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Pedro Barusco disse que o esquema de pagamento de propinas na Petrobras começou em 1997.
Em 14 de novembro de 2014, foram presos os presidentes e diretores de grandes empresas do Brasil, como OAS, IESA Óleo e Gás, Camargo Correa, UTC Engenharia e Construtora Queiroz Galvão A força-tarefa da Lava Jato identificou 10 bilhões de reais em propinas, recuperou 870 milhões de reais, bloqueou outros 2,4 bilhões de reais e prendeu 105 envolvidos no escândalo. Em novembro de 2015, a PF estimou que o prejuízo da Petrobras com corrupção chega a 42 bilhões de reais, mas somente 6 bilhões de reais divulgados oficialmente pela empresa. A estimativa tem como base laudo da perícia criminal baseado em tabelas que mostram os pagamentos indevidos envolvendo 27 empresas apontadas como integrantes do cartel na Petrobras.
O governo Temer, que sucedeu o de Dilma Rousseff, tratou a empresa como ente privado. Saneou as dívidas, proporcionou ótimos dividendos para os acionistas. A mesma fórmula foi repetida no governo Bolsonaro. Agora o presidente Lula demonstra sua inclinação a repetir as políticas de seus dois primeiros governos e o de sua sucessora do Planalto. A Petrobras está segurando o preço dos combustíveis para aliviar a inflação e ao mesmo favorecer seus candidatos na eleição de novembro. Ele entende que o lucro da empresa deve ser investido em projetos sociais que gerem empregos. O mais conhecido deles é o sonho da indústria naval, que foi tentado várias vezes e virou pesadelo na forma de prejuízos monumentais.
O presidente Lula tem exibido sua face analógica e a dificuldade em se situar no novo cenário globalizado e informatizado. Os novos negócios e os recentes caminhos do comércio internacional modificaram as referências no mundo moderno. Mas os dirigentes do PT ainda não perceberam. O chefe do governo custou a entender que ele precisaria definir uma pessoa para atuar em nome do governo federal no Rio Grande do Sul. Demorou muito. Escolheu o ministro Paulo Pimenta, que já se tornou um evidente candidato ao governo daquele estado. Fez o anúncio em comício na cidade de São Leopoldo. O assembleísmo do PT ditou o rumo dos acontecimentos. Politizou o problema.
A substituição de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras está dentro da moldura da política petista, que pretende botar a mão nos lucros da empresa. Magda Chambriard, que dirigiu a Agência Nacional do Petróleo durante o governo Dilma, foi funcionária da Petrobras por mais de vinte anos. Conhece bem o assunto e sabe das intenções do presidente Lula. Os presidentes da Petrobras não costumam ficar muito tempo no cargo. Eles estão sempre no meio de interesses multimilionários e da vontade política do partido que está no poder. A substituição na presidência da Petrobras é apenas mais um capítulo na luta entre acionistas privados e o governo federal. O perigo é que os dois terminem perdendo dinheiro e o cidadão brasileiro pague o prejuízo ao final.
André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])