Um encontro de Pirarucu (por Roberto Caminha Filho)

Saímos para um passeio decididos a discutir as saídas da crise que se aproxima para o pessoal que respira na Calha do Rio Amazonas. Os pajés de Garantido e Caprichoso já começaram a trabalhar os pedidos de dilúvio para que não aconteça tão cedo a virada do verão, que há milênios acontece na Festa dos Bois, em Parintins.

Os cientistas do apocalipse já começam a tomar conta do Facebook e do Instagram com as piores previsões para a natureza amazônica. A subida dos rios da margem esquerda do Rio Amazonas não foi suficiente para aguentar a vazante que começará, agora, em junho, durante as festas juninas.

Subimos o Rio Negro no Motor João, e rumamos para o Arquipélago das Anavilhanas e Praia Grande. Ao chegarmos na Praia Grande, o Tonhão, caboclo sem medo de onça e de sucuri, mas apavorado com o Mapinguari, chegou dizendo que tinha uma coisa boa para nós e que seria o melhor presente para o almoço, e nos ofereceu um Encontro de Pirarucu.

Pronto! A festa estava feita e os oito quilos de ossos que ele nos entregou seria o presente que muitos esnobam e não sabem o que estão perdendo. Esquecemos momentaneamente da crise que se avizinha e nos preocupamos em bem tratar a ossada do pirarucu, que fica entre a cabeça e o corpo do belo animal. Ali tem carne, músculo, colágeno e tudo que o nosso microbioma intestinal exige para uma ótima refeição. Para dificultar a nossa nutrição, compramos cinco litros do denso tucupi da região, aquele que o Chef Andriá, o melhor do mundo, classificou como o melhor que ele havia experimentado.

O Encontro foi lavado, passado na água com limão e no vinagre com pimenta de cheiro e um pouco de pimenta murupi e deixamos o pirarucu, marinando por sessenta minutos.

Voltamos a comentar a crise que se aproxima e fizemos um “JOGO DE GUERRA”, daqueles que os americanos fazem, e aparecem as figuras dos kamikazes e dos Bin Ladens, e eles continuam sem acreditar que a coisa chegará. Chegará como a nossa vazante de 2023 e que todos estão apreensivos e ninguém faz nada. A enchente gaúcha é o exemplo que nos apavora.

Os Estados do Amazonas e Roraima são os únicos estados brasileiros sem ligação, por via terrestre, com o resto do Brasil. Os gêneros alimentícios  só chegam até os dois entes federativos por navios ou aviões. Por causa disso, os anúncios dos Supermercados Guanabara, sobre os preços de carnes, frangos e salsichas, nos enchem de esperança de, um dia, comprar um peixe ou uma carninha pelos valores que nos apresentam todas as manhãs. A TV Globo ainda nos matará de inveja com aqueles preços.

A mesa foi colocada. Os seis debatedores sobre o problema da logística para enfrentar a próxima estiagem recomeçaram com novos argumentos, quando o Dr. Bujuga, econometrista, formado pela Universidade de Vancouver, pediu para analisarmos o Fundo de Reserva para Catástrofes. Olhamos uns para os outros e concluímos que, a única categoria, no Brasil, que tem um Fundo de Reserva, quando suas iniciativas são ameaçadas, são os políticos.

A cada quatro anos, deputados, vereadores, senadores, governadores e prefeitos enfrentam novas eleições e seus mandatos são ameaçados. Para enfrentar essa atrocidade chamada eleições, esses patriotas possuem um Fundo de Reserva, o Fundo Eleitoral, que neste ano de 2024, após debate implacável, no Congresso, teve liberado cinco bilhões de reais para as próximas eleições. PT e PL terão direito a R$1,5 bilhão desse total.

E os outros? Perguntou o Dr. Ritta , com a sua privilegiada inteligência.

O Américo, rápido como um saloio, respondeu na bucha:

 – Os outros que se explodam, para não dizer bobagens!

Pois é! Foi comendo um Encontro de Pirarucu, rico em colágeno, proteínas, gorduras boas e muito cálcio, pelo preço de R$5,00, o quilograma, que nós enfrentamos o problema e apontamos a sociabilização do Fundo Eleitoral e a criação de novos fundos para nos anteciparmos às calamidades que ainda se apresentarão.

Roberto Caminha Filho, economista, espera ser aprovado nas sugestões

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